Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 024

 
Tags:  Marcos Loures Sonetos  
 

2301

Amor quando se faz em liberdade,
Alçando uma ventura deslumbrante,
Cantando o nosso amor; felicidade,
Encontro enquanto sonho e nesse instante
A luz que transbordando já me invade
Permite que eu te diga, doce amante

O quanto é necessário e divinal,
Amor que a gente faz, nunca é pecado,
Se Deus deu este dom, descomunal
De ter uma alegria do teu lado,
Meu verso te enaltece, pois, afinal,
De ti sempre caminho enamorado.

Amor que nos tomou não deu aviso,
Imenso e prazeroso: o que eu preciso...


2302


Amor quando se faz
Em noite fabulosa
A sorte se antegoza
Num ato mais audaz
Pudesse ter a paz
E nisto a majestosa
Mulher maravilhosa
Que a vida não me traz.
Vestindo esta ilusão
Os dias não verão
Sequer a menor sombra
Do quanto poderia
E sei que em agonia
Apenas ora assombra.


2303

Amor quando se faz
Aquém do quanto eu quis
Traçando a cicatriz
Atroz e até mordaz,

Um passo contumaz
O mundo por um triz
Do quanto já desfiz
A sorte se desfaz,

Marcando com falácia
Aonde quis audácia
E nada se mostrara,

O mundo em tal tormento
No quanto desalento
Matando a noite clara.

2304


Amor quando se faz em paz intensa
Na mansa calmaria de um regato,
Nem sempre na verdade, recompensa
É sempre cansativo o mesmo prato.

Não tendo neste mundo quem convença
Em tanta profusão eu me retrato
No amor que dominando sempre pensa
Nas belas variantes sem recato.

Vagando noites plenas sem limites,
No quanto que me dás logo credites
Nas contas a pagar, débito ou crédito

Se temos assinado contrato, édito
Ao menos variamos trivial
No jogo sedutor e sensual.


2305

Amor quando se faz em redondilhas
Promete noutros passos, mais marcantes,
Delícias desfrutando novas ilhas,
Em sonhos que nos tragam, dois amantes.

Sabendo perceber as maravilhas
Que mostras em teus gestos triunfantes,
Amor não permitindo as armadilhas,
Mostrando primaveras deslumbrantes.

Vem logo, que este tempo nunca pára,
Não temos mais sequer um empecilho.
Depois de estar ao léu, um andarilho,

Agora se encontrou em face clara.
Do amor que nos luziu em forte brilho,
Por certo seguiremos rumo e trilho...

2306

Amor quando se foi, eu sofri tanto
Pensara terminado o meu caminho.
Roubando da esperança cada canto,
Deixando o coração frio e sozinho.

Depois de certo tempo, eu já me espanto,
Do vinagre surgiu um doce vinho.
Daquilo que eu julgara ser quebranto,
Um novo amanhecer no qual me aninho.

O sol da liberdade ressurgindo
Num céu maravilhoso, claro e lindo
Decerto toma a cena, neste instante

Do antigo pesadelo que passei,
O sonho se deslinda nesta grei
A cada amanhecer mais fascinante...


2307


Amor quando se mostra com meiguice
Trazendo placidez em cada olhar,
Além do pensei e outrora disse,
Conquista se faz mansa e devagar.

O resto, me perdoe, é só tolice,
Somente o tempo irá nos demonstrar,
Que toda a calmaria deste mar,
Permite que se viva sem pieguice.

Aliás; é preciso que se encante
A cada novo dia, noutro instante,
Mas sem as tempestades, temporais.

Eu quero ter contigo amor em paz,
Que sendo companheiro, satisfaz,
Assegurando ao barco, eterno cais...


2308

Amor quando te exponho meus defeitos
Que soem ser mais fortes que pensara
Não sabes quanto doem imperfeitos
Desejos que jamais imaginara...

Mantenho meus segredos escondidos
Nas peles que envolveram a minha alma,
Amores que viveram iludidos
Nem sempre essas tristezas algo acalma.

Não mostro tantas garras que possuo
Senão tu correrias mais ligeiro,
Nos palcos dos amores quando atuo
Dos prantos e das mágoas, companheiro...

Amada não me deixe nem me culpe
Senão perfaço as dores nesta troupe.


2309

Amor quando termina pr’onde vai?
Será que determina um outro amor?
Depressa vem comigo; a casa cai,
Se não cuidarmos dela, minha flor...

Eu sinto teu perfume, minha rosa;
Não deixo nosso amor chegar ao fim.
Por ele, vou andando todo prosa.
Orgulho deste amor; eu tenho sim!

Não quero que te roubem, minha amada;
Descuidos com certeza fazem mal.
Procuro em minha cama, madrugada,
As marcas deste amor fenomenal...

Vem cá minha querida; por favor;
Na dança deste imenso mar de amor!


2310

Amor quando transtorna, mesmo triste,
É fero sentimento que nos move.
A lua simplesmente sabe e existe
Por ter Amor que toca e assim comove.

Porém Amor, a tudo já resiste
E as pedra do caminho ele remove.
É Fado que nos toma, sonho em riste,
Não necessita nada que o comprove.

Suplantando os abismos, livre voa,
Refeito das vergastas, sobrevive,
Altivo e tantas vezes altaneiro,

É dele o bom tesouro e a coroa,
Embora tantas vezes dela prive,
Persiste quando forte e verdadeiro...


2311


Amor quando “se dá prá quem se deu”
É festa em corações apaixonados,
Numa harmonia intensa, nega o breu
E traz os nossos sonhos, bem colados...

Amor quando em amor bebe na fonte,
É forte e deslumbrante, nada o cega;
Abrindo dentre as nuvens, horizonte,
Amor assim um belo mar navega.

Mas quando amor se faz do desencanto
E não percebe a voz do coração,
No fundo se transforma amor em pranto,
E passa a ser a própria negação

Do sentimento nobre que nos toca,
Amor só noutro amor encontra a toca...


2312


Amor quase um funâmbulo se torna,
Sonâmbulos sentidos te procuram,
Noctâmbula vontade já se entorna
Preâmbulos às vezes nos torturam.

Segura as minhas mãos, e vamos nessa,
Atravessar em paz toda pinguela
Se a gente for mais firme não tropeça,
A segurança aos poucos se revela.

O que sinto por ti, sempre constrói,
Jamais vou destruir tamanha luz,
O amor quando demais eu sei que dói,
Mas saiba ao Paraíso, nos conduz.

Dê tréguas a teu pobre coração,
Eu te amo da cabeça até o chão.


2313


Amor que a gente faz, sempre gostoso,
Estampa em nossos corpos maravilhas.
De tudo o quanto eu tive, harmonioso
Caminho que me leva a belas trilhas.

Os vales percorridos, as montanhas,
Decoro com vontade a geografia
Enquanto tu provocas e me assanhas
O fogo novamente principia

E o incêndio não se acaba e nem se aplaca,
Devora o pensamento, num instante.
No cerne do desejo, fina faca
Que adentra o coração de um viandante.

Teu corpo provocante me convida,
À festa em que se gesta nova vida...


2314


Amor que a gente traz
Marcando cada verso
Aonde em me disperso
E sei da ausente paz,

Meu rumo contumaz
Além deste universo
E sei enquanto imerso
No todo que se faz

A sorte sem temores
E sinto em tais amores
O quanto se propõe

E sendo enquanto fores
Os sóis já multicores
Manhã rara se expõe.


2315

Amor que a gente faz: telepatia,
A cada novo verso mais gostoso,
Acaba com tristeza ou apatia
E deixa o dia então maravilhoso.

Tu sabes, meu amor quanto eu queria
Viver em plenitude, o doce gozo
De ter com tal carinho, uma alegria
Na cama em fogo, ardor voluptuoso.

Eternamente atado aos teus caminhos,
Meus passos sempre irão te acompanhar.
Beber de tua boca tantos vinhos

Nas andanças da vida, ser teu par,
Está predestinado a ser assim,
Num mundo de prazer, amor sem fim...


2316

Amor que a gente fez
em noite mais gostosa,
marcando a nossa tez
em luz maravilhosa,

perfumes de uma rosa
tomando a lucidez
em toda insensatez
mulher bela e fogosa

não sai de minha mente
guardada na memória,
amor que a gente sente,

decerto é nossa glória
no corpo enlanguescente
vivemos nossa história...


2316

Amor que a gente dita
Sem medo do futuro
Aonde eu me asseguro
E sei desta infinita
Vontade mais bonita
Do porto onde seguro
Meu canto em paz procuro
E a vida mais bendita.
Resumo cada verso
Enquanto além disperso
O sonho em tons sutis
Vislumbro algum segredo
No amor onde concedo
Bem mais do quanto eu fiz.


2317

Amor que apascentando a minha vida
Glorificando assim o dia a dia,
Encontra nos teus braços a saída,
Vitória contra a dor, contra agonia.

Não quero nem pensar em despedida,
Pois vejo em nosso amor tanta alegria,
Ajuda a suportar terrível lida;
A noite em nosso amor jamais esfria;

Pois sabe dirimir qualquer tormenta
Que venha nos ferir sem dar descanso,
Nas asas deste amor eu me esperanço

E a paz no coração, pra sempre assenta.
Amor em liberdade se faz forte,
Não teme nem a dor, sequer a morte...


2318

Amor que assim domina toda a gente
Não deixa ficar pedra sobre pedra,
O coração batendo mais contente
Enfrenta a tempestade e nunca medra.

Assim no canto breve e mais suave
A vida vai passando sem tremores.
Não tendo quem impeça ou quem entrave
Estende na varanda os seus fulgores

Entendo o teu sorriso qual convite
À festa interminável em alegria.
O sentimento intenso e sem limite
Permite não somente a fantasia.

Supera em plena paz altas montanhas
Amor que se demonstra em tais façanhas.


2319


Amor que assim nasceu, em tanta paz
Embala os meus desejos, treina uma alma,
Perdido em nossa noite sou capaz
No quanto que eu te quero, tudo acalma.

Cabeça se entregando ao capataz,
Amor não tem juízo e nem tem calma.
Bebendo com fartura, sigo audaz,
E vejo a vida mansa imune ao trauma.

Sem passo que permita nova queda,
O tempo não suprime e não mais veda,
Deixando à perfeição a tez do mito.

Beirando o teu caminho, traço os rastros,
Mergulho o meu olhar nestes teus astros
No quanto em nosso amor eu acredito...


2320


Amor que bem te vi, não vejo mais
Embora beije a flor do teu canteiro,
Se o vento se mostrou mais verdadeiro
O barco naufragou sem ter seu cais.

À noite desfilando mil casais,
Procuram dos suores, doce cheiro,
O lábio que se abrindo mais ligeiro,
Umedecido em lábias sensuais

Um coração caipira quer gotejo
Do gozo sertanejo da morena.
Embora vá correndo à voz pequena

Maior reputação? A do desejo
Que topa ser feliz sem precaução,
O resto? Sem fermento não tem pão...


2321


Amor que com amor se compartilha
Trazendo para os dois a primazia
De ter uma esperança a cada trilha
Seguido com firmeza em alegria.

Do quanto o nosso amor já percebia
Depois da sorte ingrata, uma andarilha,
Que talvez ressurgisse a poesia
Entregue sem pudores à matilha

Das dores e dos medos, da tristeza.
Amor que traz em si tanta beleza
Vencendo os seus algozes, os ciúmes,

Deslinda em nova aurora cores várias,
Distante das invejas temerárias
Encharca o coração em seus perfumes...



2322

Amor que conheci lá em Marselha,
Menina delicada e caprichosa,
Agora o tempo diz que a moça-velha
Suplanta no jardim, a dália e a rosa.

A pele, com certeza, o tempo engelha,
Porém a sorte sendo melindrosa
No corpo desta sílfide se espelha,
E sei que continuas fabulosa...

E quando vejo a foto que mandaste
Percebo que o sorriso de menina
Ingênua maravilha me domina;

Porém, comigo, a vida num contraste
Foi tão cruel; as marcas tomam tudo,
E mesmo enamorado; eu não me iludo...


2323

Amor que conheci noutras esferas
Voando por estradas doloridas,
Agora se renasce em primaveras
Trazendo tantas flores mais queridas...

Olhando teu amor, penso num lago
De plácidas delícias refrescantes,
Procuro por teu corpo, num afago,
E sonho nossa noites deslumbrantes...

Na dureza e pureza de um marfim,
Amor vem se adentro na minha alma.
É tudo o que restou de bom em mim,
As lágrimas não choro, lua acalma...

Amor que recomeça neste clima,
Em tanta claridade já se estima...


2324

Amor que descobrimos, nos domina
E faz-nos mais felizes, é soberano.
Não deixa restar dúvida ou engano,
É mapa do tesouro, fonte e mina.

A dor tão resistente, se extermina
E muda, num segundo qualquer plano.
Do amor que nos conquista, eu sempre ufano,
Abrindo da janela, uma cortina

Permite que o calor nos tome inteiros,
Mostrando como a vida é tão bonita.
Semeia uma esperança nos canteiros,

Granando uma emoção a cada dia.
Quem vive tanto amor sempre acredita
Que o mundo em salvação terá valia...


2325


Amor que descobrimos
Após a tempestade
Expondo noutros limos
O quanto nos invade
E sei que redimimos
Os passos na saudade
E nestes tantos mimos
A sorte nos agrade.
Pousando na esperança
Aonde a vista alcança
Marcando este horizonte
E nele se apresenta
A vida sem tormenta
E o todo em paz aponte.



2326

Amor que desde tempos mais antigos
Caminha com amor que sempre quis
Vivendo dos amores dois abrigos
Nas camas e nas tramas fui feliz...

Efêmeros segredos que disponho
Não ponho mais meu barco no teu mar.
Amar quem tanto amei durante o sonho,
Durante muito tempo quis amar...

Mas foste tempestade de verão,
Achavas meu amor de brincadeira
Verdades que vive com emoção
Os sonhos dessa vida assim inteira...

Não deixe mais o sol que tanto ardia
Morrer completamente em fantasia...


2327


Amor que dessa dor fez seu ocaso
Renasce no perdão do novo amor.
A vida não permite tanto acaso,
Se caso novamente amor e dor.

Nos portos do ciúme quando encalha,
Amor não deixa mais um só recado.
Amor quando transforma na batalha,
Aos poucos destruindo o ser amado.

Tem dó de quem amou e agora pede
Amor de quem jamais sofreu de amor.
Amada nada forte nos impede
Receba deste amor, o salvador.

Bem junto dos meus braços, vem morena,
Ao menos por sentir apenas pena...



2328

Amor que deu cupim, o quê que eu faço?
Não vou dedetizar senão eu danço.
Apego-me e depressa perco o traço
E a noite sem ninguém, sozinho avanço

A casa carcomida não resiste,
Assim como este amor morre calado,
Se eu fico, na verdade vivo triste
Se eu saio, solitário estou ferrado.

E agora o que fazer, me diz José?
Do amor encupinzado que encontrei
Se fosse inda formiga lava-pé

Garanto, era mais fácil resolver,
Melhor mandar querida, o pau comer,
Ao menos de um prazer eu falarei...



2329

Amor que deu enguiço, sem conserto
Não tendo jeito pereceu sozinho
Depois de tanto tempo num aperto
Morreu sem ter consolo nem carinho.

Se em meio a tais escombros inda vejo
Os restos deste amor, simples escória,
Eu aproveito aqui o raro ensejo
E tento reviver sua memória

Não vejo mais os riscos que corria
Nem mesmo as velhas faces de uma intriga,
Enquanto a noite passa assim vazia
A gente pelo menos não mais briga.

Se tudo o que tivemos foi mentira,
Não quero mais ouvir, vê se me tira!


2330



Amor que docemente tanto canto,
No verso que dedico; delicado...
Vestindo meu amor, seu branco manto.
Encontro tantos ventos do passado.

Às vezes essas dores incomodam,
Mas nada que me impeça de sonhar.
Os dias tantas vezes mudam, rodam;
Mas sempre esse desejo de te amar...

Não posso reagir com brusco gesto,
Nem ser com a minha alma, rigoroso.
Verdades; no meu canto, sempre empresto.
E disso; meu cantar, mais orgulhoso...

Amando irei fazendo a minha parte,
Usando a poesia que é minha arte...

2331


Amor que dói demais, barbaridade,
Me traz do arroio, mágoas, velho rio...
Que no fundo da noite, faz saudade,
Amor que se deságua num churrio.

Amor sina que nunca mais revolta,
Amor da suave brisa à viração.
Nas horas mais difíceis pede escolta,
Lateja disgramado mijacão...

Deu pra ti, não te quero nem dourada
Sei que foste buenaça, linda, trigo...
Mas perdeste teu rumo nesta estrada,

Na vida que pretendo, sei perigo...
Quero viver liberto, já me espalho...
Guaiaca que traz faca, pede talho...



2332


Amor que é belo e raro, delicado;
Supera qualquer crítica venal,
Ourives da esperança que ao teu lado
Envereda esta senda sensual.

Por ter depois de tanto, te encontrado,
Naufrágios tão distantes desta nau,
Viver cada momento, extasiado,
O nosso caso, amor, não é banal.

Há gente que se perde em descaminhos,
São párias da emoção, seguem sozinhos
Bebendo da amargura sem saber

Que a vida “só se dá pra quem se deu”
Conforme o bom Vinicius escreveu
Sabendo usufruir cada prazer...


2333




Amor que é desta vida, a redenção
Bordando em nossa cama uma alegria
Mortalha que se fez em servidão
Resgata num momento a fantasia

Queimando em alta chama, uma emoção
Ardendo em nossos olhos, tal magia
Ventila para nós a solução
Que aquece cada noite, mesmo a fria.

Porém ao ver chegar o teu marido,
Um grito que se solta invade o ar.
Convulsionando finjo-me maluco

Achando-me decerto já perdido.
Em tempo ouço esta voz a me salvar:
- Não tem o que temer: que ele é eunuco...


2334

Amor que é divinal e mavioso
Em versos, acalantos e magias.
Promessa de um futuro generoso
Repleto de paixão e de alegrias.

Um mar que outrora foi tempestuoso
Apascentadamente em calmarias
Já sabe da doçura deste gozo
Que temos, recorrente, em nossos dias.

Estrela que me guia, sonho e canto,
Jamais será cadente, com certeza.
É feita e se alimenta deste encanto

Bandeira desfraldada em nossa vida.
Deixando-nos levar em correnteza
Achamos, simplesmente uma saída...

2335

Amor que é feito em glória, por fiança
Transborda num momento e traz vitória
A quem a sorte imensa sempre alcança
Tocado pelas luzes da vanglória,
Amar é ter sublime, uma esperança
Que mude, num segundo, a nossa história.

Depois dos dias negros, esquecidos,
A vida se renasce em bela aurora,
Os dias que se foram, tão temidos,
Tomados pelas luzes vêm agora
Falar dos ventos mansos, recebidos,
Dos quais; felicidade se assenhora.

Não temo, pois eu amo, nem a morte,
O coração se mostra, amando, forte...

2336


Amor que é feito em mãos, lábios e bocas,
Rascunhos preparando a perfeição.
E quando em meus carinhos desembocas
Nas tocas e nas sendas, sedução.

Querências e desejos desfilados
Constelações de sonhos, luzes raras.
Enquanto com teus braços delicados
Regaços configuras e me amparas.

Nas têmporas o vento bate manso,
Percursos decorados com teus brilhos.
Na tenda feita em gozos eu descanso,
A lua se derrama em seus polvilhos.

E agentes de prazer, corpos sedentos,
Decerto mais astutos; sempre atentos...


2337

Amor que é manso guia em tempestades,
Avança e não permite sobressalto,
Voando, o pensamento vai ao alto
E mostra bem distantes veleidades,

Amor cruzando os campos e cidades,
Não deixa em seu caminho um só ressalto,
Tomando o nosso peito, vem de assalto
E doura com ternuras e verdades,

Fazendo estas estradas gloriosas,
Florindo cada passo que se dá,
Na busca de um eterno sentimento.

Amor ao espalhar divinas rosas,
Percebendo que a paz florescerá
Invade, apascentando um vil tormento...


2338


Amor que é meu delírio e meu engano
Escapa em minhas mãos, num só segundo,
Sangrando quase sempre mas me ufano
De ter amor maior que vi no mundo.

Sentindo em cada dia essa presença
Vertida em meus desejos, meu exemplo
De amor que tanto brilhe e me convença
Viver a vida inteira no seu templo.

Encanto que este amor, produz tão cedo,
Invade minha vida, doce encanto,
Fazendo de mim mesmo meu degredo,
Machuca e me promete um novo canto!

Mas sempre que eu a vejo, minha amada,
A noite se transforma em alvorada!


2339

Amor que é meu destino e nosso pleito
Tomando em suas mãos rosa dos ventos,
Legando ao desespero o rumo estreito
Tocado pela insânia em vis tormentos.

No quanto este machado encontra o sândalo
Deixando quem maltrata agora pálido
O amor em nossa vida, num escândalo
Decora com desejos sonho cálido.

Não quero este destino amargo e trágico
De quem em desvario vai atônico
O riso da esperança se fez mágico
Moldando alvorecer bem mais harmônico

Sinfônica explosão em versos métricos
Matando os dias rudes, negros, tétricos...


2340


Amor que é nossa luta e nosso tema,
Nos glorifica em luz e nos redime,
Por isso minha amada nunca tema
Além de toda dor, amor estime.

Façamos deste amor qual piracema
Lutando contra o rio, guerra e crime,
Vibrando mais felizes, nosso lema,
Fortalecendo sempre nosso time.

Venceremos as cismas e batalhas,
E tantas maldições quanto vier.
Os cortes tão profundos as navalhas

Não têm sequer poder de nos conter
Um homem, um amor, uma mulher,
E a vida companheira pra viver...


2341

Amor que é sempre mola propulsora
Daquele que quiser viver contente,
Uma força motriz e geradora
De um ente toda essência, simplesmente.

É mais que sentimento, é vida em si,
Amor não se permite despotismo
De toda esta certeza que aprendi
Somente amor destrói tanto egoísmo.

Semente que germina em bela flor,
Perfume que enobrece quem recebe
Mas muito mais o próprio doador,
Embeleza também quem o concebe.

Por isso neste canto enamorado
A força deste amor por nós cantado...


2342


Amor que é tão amigo e companheiro,
Não deixa que as tormentas incomodem.
Num sentimento assim tão verdadeiro,
As antigas poeiras se sacodem.

Não cabem preconceitos... Vou inteiro,
Bem mais que minhas forças sei que podem.
Se no teu coração sou um posseiro,
Não vejo outros perigos que te açodem.

Amantes decididos e sem medo,
Seguimos sem temer as tempestades.
Nas brenhas, nesta mata eu me enveredo

Invado teu juízo, e te atormento,
Na força deste amor, felicidades
Não deixam de viver um só momento!


2343

Amor que em alvoroço tanto engana
E faz da serventia escravidão.
Acende enquanto apaga a mesma chama
Nas loucas ilusões de uma paixão.

Quem tem amor na vida sabe e clama
Ao mesmo tempo é presa da emoção
Que quando em desaviso vem e chama,
Provoca a seca numa inundação.

Vencer as ousadias de Cupido,
É coisa que não ouso nem pretendo,
No amor que nos guiando, leva ao caos,

Deixando o coração empedernido
Enquanto seus segredos não desvendo
Aumento dos meus óculos os graus...


2344


Amor que me apavora
E gera após o tanto
Apenas desencanto
E segue mundo afora,
A sorte revigora
E traz o que garanto
Somente em leve canto
Sem medo, desancora.
Repara cada estrela
Pudesse enfim contê-la
E ter felicidade,
Mas quando a sorte expressa
A vida sem ter pressa
O tempo se degrade.


2345


Amor que em belas ninfas se expandia
Buscando na nudez inspiração
Alçando maravilhas no tesão
Que aos poucos devorando em fantasia

Arcanjos e boêmios na alquimia
Dos corpos que causavam sensação
Num toque mais sutil a sedução
Orgásticos momentos de magia.

Entre gemidos, loucos rituais,
Ardências de desejos, fogo intenso,
As línguas percorrendo magistrais

Sabendo devorar estâncias, ruas.
E o mundo num momento, fica imenso,
Entregue aos mil delírios delas duas...


2346


Amor que em flatulência recebeste
Quem tanto desejou ter teu carinho.
Se desta forma, assim tu devolveste
Refaço num instante o meu caminho.

Parece que tu queres fazer teste
Se for assim, prefiro andar sozinho...
Em trágico perfume me envolveste
Matando meu amor, devagarinho...

Eu sei quanto preciso ser feliz
Eu sei e não me canso de dizer
Porém isso, querida, eu não agüento.

Embora um bom futuro se prediz
Imerso em alegria e bom prazer.
Eu não suporto amor tão flatulento...


2347




Amor que em fundas chagas tu fizestes,
Cravando tuas garras no meu peito,
Quem dera se este amor fosse desfeito
Porém sem soluções enfrento as pestes

Nas dores, os caminhos que me destes,
Decerto maltratando deste jeito
Entranham toda noite no meu leito
Da forma que, eu bem sei, tanto quisestes.

Quem sabe ao perceber que me lesastes
Meus cantos mudarão- novo estribilho,
Rasgando as ilusões, negando o brilho,

Rompendo com as duras, finas hastes,
E, legado ao total esquecimento,
O amor não resistiu ao forte vento...


2348

Amor que em ilusões sempre se esconde,
Vivemos na saudade do que fomos.
Procuro por teus olhos; mas aonde?
Não vejo nem a sombra do que somos...

Eu sei que te perdi, triste me iludo;
Eu sei que não virás, mas eu te espero.
Um coração sofrido fica mudo
Aos poucos, entretanto, desespero.

E vejo que não tenho quase nada,
Somente as sobras tolas do que fui.
Eu sigo assim teus rastros pela estrada
Minha alma sem carinho, cedo rui.

Não fosse essa esperança, minha amiga,
Não restaria em pé nenhuma viga...

2349


Amor que em mar imenso já navegue
Apega-se ao gozo feito em cais,
Na adega do meu sonho ele prossegue
Inebriando sempre e muito mais.

No encanto deste canto, cada adorno
É feito com ternura e com carinho,
Ao tempo que sofri não mais retorno
Entornas tanta luz em meu caminho.

Amiga, amante, amada companheira
A Musa predileta, a minha Diva,
Contigo eu marcharei a vida inteira,
Minha alma de tua alma anda cativa.

Vivamos nosso amor profundamente,
Sem medo do que venha de repente.



2350

Amor que em meu caminho, muda o Fado
Tramando em alegria um novo enredo,
Meu canto se mostrando extasiado,
Percebe a solução deste segredo

Há tanto tempo e sempre demonstrado
Distante de temor, receio ou medo.
O vento balançando um arvoredo
Permite que se aviste um belo prado

Depois de tanto tempo em solidão,
Meu passo vai seguindo na amplidão
Dos rastros que deixaste no caminho

Sabendo que não vou jamais sozinho
Minha alma na tua alma mergulhada,
Impede a solidão, fria cilada...


2351



Amor que em noite clara se recorde

De cada sensação inesquecível,

A lua emoldurando um novo acorde

Mostrando todo sonho ser possível.



Os olhos em volúpia te cercavam,

Estrela radiante em raro brilho.

Meus dias de teus olhos se acercavam

Seguindo com firmeza cada trilho.



Não tendo mais palavras pra dizer

O quanto eu te desejo, minha amada,

Vestindo uma esperança de prazer

Vagando qual cometa em madrugada,



Quem dera se eu pudesse, recordista

De beijos nesta boca, bela artista!


2352


Amor que em noite clara
Pudesse ser diverso
Do quanto do universo
Aos poucos se escancara
A vida se prepara
E sei quando disperso
O canto em cada verso
E tomo esta seara,
Vagando sem destino
O rumo determino
Apenas por saber
Que a cada novo passo
O todo onde desfaço
Já não me traz prazer.


2353

Amor que em plenilúnio ganha o céu
Vestido de cometas e de estrelas,
A sensação de em mãos, poder retê-las,
Aos poucos invadindo um bel dossel

Cortinas se entreabrindo descem véu
E como se pudesse percebê-las,
Amor se permitindo recebê-las
Desfila um sentimento em doce mel.

A lua escancarada na varanda,
Demonstra em claridade, amor perfeito,
Divina se entregando ao raro encanto,

Sorrindo ao deus Amor, tudo comanda,
E ao ver assim o mundo satisfeito,
Um deus supremo abriu seu alvo manto...


2354


Amor que em plenitude nos aclara
Negando escuridão, já tira o sono,
Angústia se legando ao abandono,
Tomando toda a vida, nos ampara.

O quanto que me entrego se declara
Mudando a direção do peito mono;
Trazendo a sensação de altar e trono,
Nesta emoção divina, pois tão rara.

Agônico passado que se esvai
Recebe o vento forte da esperança,
E nele em viva marca, a temperança

A sorte finalmente não me trai
E deixa que eu vislumbre um novo dia
No brilho ora sobejo da alegria...


2355

Amor que em sendas nobres, já percorre
Caminhos mais sutis, porém floridos.
Em todos os momentos mais sofridos,
A mão de um vero amor vem e socorre.

Quem ama sem medidas, nunca morre,
Expondo sem temor os seus sentidos,
Ao longe são seus brados percebidos,
Seu nome, mais distante, em glórias corre.

Não temais os percalços desta sanha,
Vós sois numa planície qual montanha
Que ao proteger dos ventos e tempestas

Permite que se grane uma esperança.
Repare o coração de uma criança
Que mesmo nas angústias, sonha festas...


2356


Amor que em sofrimento fez-se pedra,
Espinho lacerante do caminho,
Em dor tão gigantesca que já medra
Naquele que julgara ser sozinho...

Na aridez desértica dos sonhos,
Inútil tentativa: ser feliz.
Os dias se passaram mais medonhos
Escarnecido peito em cicatriz...

Ao ver-te, enfim, comigo bem amada,
Percebo que valeu toda esta luta.
Surgiste salvadora deste nada;
É voz alentadora que se escuta...

As marcas te enaltecem, cantam bardos:
Plantas dos pés feridas pelos cardos.



2357

Amor que em sofrimentos se perdeu
Deixando tão somente um fruto apenas,
Cansado de viver terríveis cenas
O mundo que hoje trago, não é teu.

A noite das discórdias concebeu
A gema mais perfeita; assim acenas
Ao mesmo tempo mordes e envenenas
Na morte deste amor, amor nasceu.

No choro da criança, eu percebi
Talvez a solução esteja ali,
Na frágil criatura que me deste.

A lágrima escorrendo em minha face,
Quem sabe em fantasias hoje trace
Ungüento que se lança sobre a peste...


2358


Amor que em tanta luta estende o braço em prece
Trazendo em esperança um breve pensamento
Amor nos atormenta e salva em um momento.
Um coração se mostra enquanto lhe obedece.

Se amor ao nos tocar, aviso já nos desse
Talvez assim já fosse a vida um só tormento
Amor não se prediz, é livre como o vento,
Seu passo pela vida, a própria sorte tece.

A quem amor se mostra? A quem está sujeito
A toda esta benesse: um sonho mais perfeito.
Não deixe que este amor que agora enfim te toca

Se vá insaciado, isto seria trágico.
Pois somente ele nos mostra um mundo novo e mágico
Aonde a claridade apraz e se retoca...


2359


Amor que em tempestade me tomou
Mexendo com desejo e coração
Um sonho tão divino desbotou
Deixando tão somente a solidão.

Saudade neste instante já brotou
Matando em nascedouro a floração.
A seca no canteiro, o que restou,
Retratos tão tristonhos da paixão...

De todo o sentimento, o senhorio,
Amor já não permite mais um sonho,
Enquanto em fantasias eu recrio

Um mundo com certeza mais risonho,
Negando todo encanto que eu proponho
Sobrando tão somente este vazio...


2360




Amor que enaltecendo, sigo em frente,
Sem temer sequer dores nem espinhos.
Amar demais passou a ser urgente,
Vivendo em nosso amor, tantos carinhos...

Eu tenho esta certeza que não morre,
De ter uma verdade dentro em mim,
Nas horas mais doridas, me socorre.
Transcorre com beleza e tudo enfim...

Aos poucos entendendo mais a sorte
De ter por tal amor tanta esperança.
Que faz com distante queira a morte,
Que vive e sobrevive na lembrança.

Certeza de este amor que sempre estime,
Amor que me invadindo é tão sublime...


2361

Amor que enquanto cura nos maltrata,
Ferrenhas as batalhas que travamos,
Na feliz servidão, escravos e amos
A dor que assim lateja e sana, grata.

Voando libertária, uma fragata,
Encontra no arvoredo firmes ramos
Enquanto em fantasias nos amamos,
Incêndio redentor preserva e mata.

Verdugo deste espectro – solidão,
O Amor sabe vencer nossos temores,
Reféns deste prazer que nos redime,

Jamais se permitindo a arribação
Vivemos sob a égide de amores
A sensação feroz, porém sublime.


2362




Amor que entre tormenta e calmaria
Não deixa que sossegue o coração,
Enquanto a gente briga noite e dia,
A paz se faz em cima do colchão...

Às vezes dá tristeza ou alegria,
No quanto é delicado este vulcão
O sonho novamente se recria,
Causando um arrepio, sedução.

E nesta confusão, pernas e lábios,
Os passos são mais firmes, ganham viço,
Porem logo depois, tão movediços

Sabemos que os amores sendo sábios
Conhecem de nós dois todo segredo,
E tramam, mais diverso cada enredo...


2363


Amor que esta saudade proibia
Depois da tempestade sem bonança,
Vertendo em ilusão o que seria
Um último suspiro da esperança.

Vasculho em cada canto a pedraria
Que não lapidaria esta aliança
O quase que não tive nem teria
Depois de certo tempo inda me alcança.

Verdugo de meus sonhos, coração
Vazio e vagabundo vai ao léu.
Rasteja simplesmente, bebe o mel

Do quando inda se quis ser emoção.
Mas vendo a mesa inteira sendo posta,
Minha alma sem amor seguindo exposta...

2364


Amor que eternamente se promete
É qual um soberano em desatino.
Ao sonho mavioso me remete
E volto novamente a ser menino

Depois de tantos anos à deriva
Um coração matreiro, se renova.
Colhendo uma esperança sempre-viva
Aos poucos, todo dia, já comprova

Que tudo nesta vida é pontual,
Somente em nosso amor, perenidade.
Pois feito com desejos e amizade

Revolve sem ciúmes, todo o astral,
Amor que é sempre belo e magistral
Trazendo para nós eternidade...


2365


Amor que eternidade nos brindou
Moldado pelas mãos de um grande Deus.
De algozes sensações, o que restou
Imanta nossos sonhos, teus e meus.

Uníssona vontade: ser feliz.
E disso faço o mote e a canção.
Um bem que há tanto tempo já se diz
Procura pelo ninho-coração.

É bom saber que estás aqui, querida.
Trazendo para a noite a garantia
Raiando em plenitude, faz a vida
Bem mais rica em calor qual eu queria.

Nesta união perfeita, meu amor,
Um mundo em liberdade a se propor...


2366


Amor que exagerado, sempre entorna,
Ultrapassando pesos e medidas
Diapasão que impõe-se e sempre torna
Harmônicas; diversas, duas vidas.

A flor que nos perfuma enquanto adorna
Unindo caminheiras que perdidas
São solitárias frias, quase mornas,
Porém ao sol do amor, sempre aquecidas...

Ao fim de cada toque um reboliço
No qual em luzes tantas eu me viço,
Da areia movediça, a solidez.

Um fato com certeza assim concreto,
Assina da alegria este decreto
Aonde a fantasia já se fez...


2367

Amor que faz contente quem o sabe,
Aurora imaculada em raios claros,
Vontade de te ter, demais, não cabe,
Em sentimentos loucos, vivos, raros.

Os dias se passando mais amaros,
Fazendo que meu sonho assim desabe,
Na fêmea quando em cio, apuro os faros
E peço que este caso nunca acabe.

Ardentes emoções, em fogo intenso,
São partes deste jogo em sedução.
Tu sabes que eu estou sempre propenso

A ter teu corpo- ardentes devaneios,
Aplaca num momento em explosão,
A dúvida que trazes, teus receios...


2368


Amor que foi forjado demoníaco,
Nas vésperas da morte sangra o peito...
Nessas constelações, cabal zodíaco,
Desampara venal e contrafeito...

Andando pelas noites é maníaco
Em busca deste pleno céu, direito.
Amor quer periférico; cardíaco
É, qual navegador insatisfeito...

Procura pelas noites, minha estância;
Não pode mergulhar na antiga infância.
Conhecedor feroz de tanta discrepância;

Não dorme e nem conforma, vigilância.
No fundo de teus olhos, reviva ânsia,
Traduz tanto desejo e repugnância...


2369


Amor que fora nostálgico
Dói no meu peito cansado
Resto aqui, me quedo antálgico.
Coração desesperado

Batendo sobrevive álgico
Não lhe restará nem fado,
Latejando vai nevrálgico
Vai, por tuas mãos, cortado!

Coração quem dera fosse
Mais forte rígida rocha.
Mas, sensível, bate doce...

Coração nunca mais ame!
Não acenda mais tal tocha,
Nem deixarei que reclame!


2370


Amor que idolatrei por tanto tempo
Vendido nas esquinas encontrei,
Achara tão somente um passatempo
Aonde insanidade eu mergulhei.

De tantos contratempos que passara
Minhas passadas foram mais esparsas
Espessa nuvem cedo desfilara
Montando em meus caminhos sempre farsas.

Em velhas procissões o mesmo círio,
O corte tão profundo da navalha,
Empíricos desejos, um martírio
Que emana sofrimento a cada falha.

No cárcere, correntes e grilhões,
Nos bares, cabarés, loucas paixões...


2371

Amor que imaginei e tanto quis,
Durante tanto tempo, uma ilusão
A mais a fustigar meu coração
Marcado por imensa cicatriz.

Deixando meu passado que, infeliz,
Acorrentava a sorte em triste não
Açoites tão vorazes da paixão
Mudaram de meu céu todo matiz.

Agora que te encontro, amada amiga,
A vida renasceu em verso e prosa,
Colhendo o teu perfume, rara rosa,

Decido que este sonho assim prossiga
Até chegar ao rumo que eu pedia,
A Deus com emoção, tanta alegria!


2372


Amor que intenso sinto no meu peito
Produto deste sonho em alegria.
Agora vou contigo e satisfeito
Prevejo amanhecer um belo dia.

Sonhando com teus braços no meu leito
Encontro toda a glória que eu queria.
Um sentimento imenso e tão perfeito
Merece cada verso em poesia.

Somemos nossos passos d’ora em diante
E vamos desvendar nova manhã,
Fazendo do prazer o nosso afã,

Certeza de um futuro deslumbrante,
Alçando um canto livre, vou ao vento
Tocando tua pele em pensamento...



2373

Amor que invade tudo, firme e forte;
Qual fosse tempestade, vendaval,
Mudando a minha sina, rumo e norte,
Se torna cada vez mais colossal.

Amor tão soberano em nobre porte,
Raiando a claridade em festival,
Impede que a tristeza em fino corte,
Afete meu destino, traga o mal.

Eu sou feliz querida, nunca nego,
Por ter tua presença aqui comigo.
Andara tão sozinho em trilho cego,

Sem ter sequer um brilho da esperança
Nas asas deste amor, onde eu me abrigo,
Sentindo que a ventura já me alcança!

2374


Amor que irradiando juventude
Transborda com delícias e carinho.
Do sol que tudo invade em atitude
O mundo que passei, demais sozinho...

O tempo que vivera, tão escuro,
Agora reconheço, meu amor,
Um coração que bate mais maduro
É todo o meu princípio de sabor.

Já sabe e reconhece uma beleza
Não deixa se enganar tão facilmente
Conhece tanto a luz quanto tristeza,
Vida, sabe viver mais plenamente...

Amor que assim desejo em nosso ninho,
Sabor que tanto quero, como o vinho...


2375

Amor que já se basta por ser pleno
Não cabe nem nos versos nem nos sonhos,
Feroz embora trague vento ameno,
Audaz em gozos mansos e medonhos.

Amor não obedece nem quer aceno,
Apenas por si mesmo ele resiste.
Matando uma serpente em seu veneno
Amor uma alegria quase triste.

Gerando eternidade num segundo,
Profano se faz deus em carrossel,
Domina mesmo ausente todo o mundo,

Amor: insanidade que é sagaz,
Trazendo para a Terra inferno e Céu
Mortalha que liberta e mata a paz...


2376

Amor que já suplanta cordilheiras
Não posso mais conter aqui no peito.
Tocando o teu olhar, amor não queiras
Que eu viva, de outra forma, satisfeito.
As flechas dos teus olhos, tão certeiras,
Convidam para a festa, para o leito...

Embora não desejes meu desejo,
Embora não percebas totalmente
O quanto que em teu corpo, amor almejo,
Viver uma aventura persistente.
Vem logo, me beber em cada beijo,
Amar-te é necessário e tão urgente.

Quem sabe se vier pedirás bis,
Não custa quase nada ser feliz!


2377


Amor que mais desejo; intensamente.
Da forma mais perene e transbordante.
Eu quero o teu amor, de corpo e mente,
E ser, além da vida, teu amante...

Eu quero ter teu cheiro que me entranha
E ter o gosto teu sempre na boca.
Viver de tal amor que me acompanha
Vicia minha vida, e me treslouca.

Eu amo teu amor em meu amor,
Pois eles se completam e se fundem,
De tanto entreguei ao teu dispor,
As nossa almas tontas, se confundem..

Eu amo teu amor sem ter medida,
Não sei mais qual é tua ou minha, a vida...


2378


Amor que maltratando; me tortura,
Trazendo a solidão como estandarte.
Busquei a vida inteira por ternura,
Distante do saber desta fina arte.

Na luta por paixão e por candura,
Pensei que amor se encontra em toda parte.
Realidade mostra-se tão dura,
A vida não cedeu sequer aparte...

Se toda gente assim, de amor soubesse,
E como é doloroso um bem querer,
Que o coração teimoso já padece

Distante de quem sonha conviver...
Sabendo quanto custa o querer bem,
Não queria, jamais gostar de alguém...


2379

Amor que mansamente em vento calmo
Chegou e te tomou quase em surpresa.
Tomando o território palmo a palmo,
Fazendo um caçador virar a presa.

Ao levantar a saia da morena,
Mostrando belas coxas tão roliças
Num átimo depressa vem e acena
Acende meus desejos e cobiças.

Não peça mais clemência, venha logo,
Que quero estar contigo sem demora.
Nos braços mais gostosos eu me afogo
Querendo-te comigo. Vem agora

Que estrada que seguimos num segundo
Nos leva ao paraíso neste mundo...


2380

Amor que me acalenta em verso e canto
Promessa de carinhos infinitos,
Seguindo a poesia com seus ritos
É feito de emoção e assim, portanto,

Amor que não concebe um entretanto
Avança pela noite em tons bonitos,
Pois jamais conheceu sequer atritos,
É feito em alegria e mostra o quanto

Será eternamente benfazejo,
Trazendo uma bonança como almejo.
Amor em peito aberto, sem temores,

Plantando uma esperança dentro em mim,
Refaz tanta alegria no jardim
De mansas, perfumadas raras flores...


2381


Amor que me acalenta
E traz esta alegria
Aonde eu poderia
Vencer qualquer tormenta

A vida mais sangrenta
A sorte em agonia
O mundo, esta heresia
E nisto o passo tenta

Trazendo a luz enquanto
O quanto em paz garanto,
Mas nada se adivinha,

Esboço de um passado
Aonde em vão me evado
Fortuna jamais minha.


2382

Amor que me acompanha a vida inteira
Desde que a juventude começava...
Tivesse o teu carinho, companheira,
Nas asas que me deste, enfim voava...

Mas amor se egoísta nega o vôo,
As asas se podando, não libertam.
Amor que por amar assim, perdôo,
Embora tantos sonhos já desertam...

Te quero minha amada, não o nego,
E cada vez mais perto e mais distante.
Se liberdade é tudo o que carrego,
Por mais que tu me queiras, é bastante?

Não temas pelas asas, ó querida,
Eu tenho nosso amor, por toda a vida...


2383

Amor que me acostuma assim tão mal
Que nada mais consigo nem pensar,
Vivendo tanto amor, sou, afinal,
Estrela que brilhou em meio ao mar...

Não posso mais seguir sem teu abraço,
Que fazer dessa vida que não quero,
Prefiro mergulhar no teu cansaço,
Amar amor que sempre foi sincero...

Mas nada do que digo representa
A gota que querias deste orvalho.
A gente sem querer, por vezes tenta
Mas sabe que comete um ato falho,

E deixa nosso amor em sofrimento,
Que faço, meu amor, do sentimento


2384

Amor que me alucina em mil desejos
Anseios entre seios, coxas, pernas.
As noites em volúpia, densas, ternas.
Prazeres e loucuras são sobejos.

Divertimento pleno, raro jogo
As línguas sem limites, ou fronteiras,
Segredos desvendados, corredeiras
Alagam cada gruta, em água e fogo.

Torturas em carícias mais audazes,
Os dedos explorando cada espaço
Até que chegue enfim, nosso cansaço.

Colhendo cada orgasmo, satisfazes
Delírios deste insano sonhador,
Misturas de prazer, delícia e dor...


2385

Amor que me arrebata e me corrói.
Jaz seta em velho peito sofredor,
Que vai de tanto embalde, sem amor,
E sempre que soluça, me destrói.

Amor embarco tolo em seus navios
Sem rumos em temíveis maremotos.
Distante dos juízos mais remotos,
Desata a lucidez, não deixa fios.

Amor envelhecido sem sucesso
Em formas de tormentas faz carinho.
Sem ter amor talvez morrer sozinho

Pareça o meu destino, meu progresso.
Apenas um herdeiro da amargura
sem nada que me impeça uma loucura!


2386

Amor que me consola e faz viver
É minha própria vida. Uma esperança...
Sustenta e me embriaga de prazer;
É brilho que por sorte sempre alcança...

Atravessa as borrascas, chuvas, guerras...
Vibrante claridade que ilumina.
Passando por montanhas, vales, serras,
Toda uma cordilheira ele domina.

Qual anjo que sustenta tanto sonho,
Nas minhas ilusões a mais querida.
De todos os caminhos, mais risonho;
Embora nos maltrate toda a vida...

Amor é derradeiro sentimento,
Libertando nossa alma, solta ao vento!


2387


Amor que me dedicas, tão tirano,
Machuca e sem desculpas vai embora,
Por quanto tempo agüento o desengano
Eu sei que a fantasia não demora.

A gente procurando nova escora
Caindo e desabando não me ufano
O gesto cometido desarvora,
Amor sem ter descanso é desumano.

Mereço, por acaso tal ocaso?
Se for assim eu me descaso
Nem faço qualquer caso do teu dote.

A cobra desdenhando quem vitima
Destrói em um segundo e inda se prima
Por rara precisão em cada bote...


2388

Amor que me deixou tantos cilícios,
Dos ócios meus pecados revestidos.
Mergulho por ferozes precipícios,
Abismos mais profundos, desvalidos.

Da morte que procuro, nem indícios...
Clareiras e cascatas dos sentidos
Denotam meus horrores e meus vícios...
Os prazeres, as dores, nos gemidos...

Carinhos congelados, meu velário...
Exponho minha entranha e meus desejos...
Da vida, meu farnel, meu relicário,

Carrego teus relevos u’a fornalha...
Troféus que levarei, teus falsos beijos,
Teu gozo me servindo de mortalha!


2389

Amor que me deu glória na verdade,
Espelha tanta luz, na calma brisa...
No peito me revela esta saudade,
As dores da existência ele exorciza.

O templo da paixão, a claridade,
Nas mãos desta divina poetisa.
É lua que me cobre de vaidade,
É noite que, de bela, me hipnotiza...

Embalde procurei outra beleza,
A vida não me deixa outro sentido.
Na marca triunfal desta nobreza,

A mão que me acarinha forte e lisa;
Quem dera nunca mais haver perdido,
A lança da nobreza de Adalgisa

2390


Amor que me devora, canibal;
Desfaz as tais auroras que não tive...
A lua enamorada deste astral,
Viaja pelos mundos onde vive

A bela criatura angelical,
Com quem o meu amor nunca convive...
Das portas não transponho seu metal.
As rosas nunca brotam no declive...

Amor que me devora, pestilento,
Não cura nem permite usar ungüento.
Destrói quem nunca teve sobrevida...

Amor mordaz me corta, vil ferida...
Amor que sempre vem nunca se espraia...
A vida vai morrendo em sua praia!


2391


Amor que me domina, e que me leva.
Permite que eu consiga viajar,
Luares, por estrelas, me releva
Aos planos divinais; imenso mar...

Amor que me dá asas, sobrevôo;
Criando as fantasias que eu habito.
Diversos sentimentos eu ecôo
Fazendo dos sonhos o infinito...

Amor que é milagreiro e que nos cura,
Das tais vicissitudes desta vida.
Abranda mansamente alma mais dura,
Encontra a juventude já perdida...

Amar é descobrir, mesmo invisível,
Aquilo que pensamos impossível...


2392





Amor que me emoldura em cena rara,
Nas telas soberanas molda a vida.
Decerto esta ilusão já nos ampara
E mostra a nossa sorte distraída.

Refém desta emoção, jamais amara,
No doce de teus lábios escondida
A luz que eu tanto tempo imaginara
Na sensação de paz tão bem sentida.

Tu és, nunca neguei meu manso porto,
Um lago em placidez inesgotável.
Amor em nosso caso, inseparável,

Distante de outro canto, quase torto,
A face mais serena deste amor,
É feita em lume intenso e sedutor...


2393

Amor que me entorpece; me envenena;
De forma tão sutil me toma inteiro,
Ao longe, tão distante sempre acena,
Vivendo no meu mundo, verdadeiro.

Amor que me incendeia, e logo queima.
Forrando meus caminhos com teus passos.
Amor que se pretende, tanto teima,
Morrendo docemente nos meus braços.

Eu quero teu amor, tenha a certeza,
Da forma que vier, todos os dias.
Sabendo que te amar é correnteza
Que trama tantas fontes de alegrias...

Amor que glorifica e me maltrata,
É sede que alimenta e que me mata...


2394


Amor que me entranhou e me sorveu
Deixou que um triste canto se encantasse
De tanto deste pouco que sou eu
Amando tanto amor sem meu disfarce.

Nos passos nos compassos danças sanhas...
Assanhas teus cabelos nesses ventos.
Acenas tantas cenas plenas manhas
Que tento meu intento em pensamentos

Ausente do que sente quem te adora
Nas quentes envolventes tardes tontas
Amar é me deixar sabor duma hora
Nas vezes que viemos não aprontas

Pois sabe que não vejo outra saída,
Viver o nosso amor pleno de vida...


2395

Amor que me entregaste foi mentira
Do mesmo jeito trouxe vê se tira...

Quando te encontrei julguei sereia.
Agora que conheço me despeço
Não quero carregar na minha veia
Tal amor que, por certo, não mereço.

Não quero me enredar na tua teia
Nem quero despencar pois sei tropeço
O fogo que te queima me incendeia
O monte de tal Vênus desconheço.

Nas linhas que concebo verticais
A mão que me pediste foi-se embora.
Os cantos que me contas são banais

O medo do destino me tortura.
Teu quadro, na parede, não decora.
É muito mais bonita essa moldura...


2396

Amor que me entregaste
Em noite caprichosa
A sorte o tempo glosa
E gera este contraste
Negando qualquer haste
Ainda quando goza
Da vida pedregosa
E nisto o meu desgaste,
O corte se aproxima
E molda um torpe clima
Gerando o nada em nós,
O sonho se perdendo
O mundo este remendo
Agora é mais feroz.


2397

Amor que me envolvera totalmente
Não dando sequer chance de defesa,
Pintando mil segredos, de repente,
Invade novo rio em correnteza.
Se fora bem mais calmo, docemente,
Talvez me permitisse a sobremesa.

Senhora de meus sonhos, rigorosa,
Bem sabe dos meus erros do passado.
A mão que cultivou a bela rosa,
Às vezes se esqueceu que existe arado
Maltratando esta flor maravilhosa,
Carinho prometido e nunca dado...

Mas peço, encarecido, o teu perdão,
Quem sabe nosso amor tem solução?


2398

Amor que me feriu solenemente
Trazendo nos seus olhos minha luz
Vivendo o sentimento totalmente,
A mansa palidez já me produz...

Querendo teu amor como se fosse
O cais que desejava meu saveiro.
Amor que tanto amaro quanto doce,
É força que me toma por inteiro.

Vencido pelas lanças deste amor,
Não posso mais negar tudo o que sinto.
Entrego-me, corpo e alma ao vencedor,
Salvando um coração que achara extinto.

Sem medo de viver tudo o que quis,
Sem medo de te amar e ser feliz!


2399

Amor que me impediu temer a morte
De sorte que não posso mais temer
Nem urzes e nem cruzes, forma forte
O canto que te possa remeter...

E mostro neste canto tal potência
Que mesmo nas desgraças me contém.
Amor vai me ensinando a ter clemência
Com quem passa essa vida sem ninguém.

Coroa um sentimento sem saudade,
Sem dores e sem males, sem tormentas,
Amor que me ensinou a liberdade
Nas asas em que voa, me fomentas...

Minha alma na tua alma, amor nos una,
Formando um forte laço, uma fortuna...

2400


Amor que me inebria loucamente
Fazendo-me perder rumo e saída,
Devora minha história vorazmente
Sangrando, hemorragia que é bem vinda.

Amor é qual farsante que não mente,
Oculta e dissimula. Distraída
Sorte se transtornando totalmente
Encharca num dilúvio a nossa vida...

Um deus que quando fala, silenciam...
Nos vitimando, trama a salvação,
Os dotes deste amor tanto viciam

Que quase nada faço sem seu norte;
É fogo que nos queima em tentação,
Matando já nos faz temer a morte...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
Data
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