Enfurno-me, quieto... penso,
mas em círculos infernais...
Em horas assim, desconfio
de tudo que eu disse,
e do que ainda vou dizer!
Esqueço-me de que sou um
“ponto único de cruzamento
dos aconteceres do mundo”,
e num balanço de resignificação,
surge esse impulso de anular-me
em comparações sem nexo!
A furna da palavra...
A quietude necessária
à contemplação de entornos,
à rumorosa escutação profunda,
ao apreender daquilo que,
em si mesmo, seja
mais que o cascalho,
mais que a impureza [do olhar?]!
A furna — o apurar,
num crisol, das sensações?
Fosse isto possível...
E se o que de mim tem valor
estiver justamente na ganga
que eu tento lançar fora?!
Pergunta inútil — sem resposta!
Ah, nada mais vão, mais fútil
que esta empresa, esta luta
para escapar da furna, e enfim,
ascender ao "estado de poesia"!
Quem sabe uma brecha...
Exatamente esta, por onde,
do fundo escuro da furna,
vazaram estas palavras?
[Em tempo — outra definição:
— escrevo para não dizer Nada,
escrevo para aprender a morrer!]
[Penas do Desterro, 25 de novembro de 2010]