Não sei se morro se permaneço
Nesta angústia velada
Como o cadáver espera a sepultura…
Vou
Ainda que sem caminho
Aos encontrões com a vontade
Dando tudo, querendo tudo
E ao mesmo tempo
Morrendo tão cedo…
O eu lutador de todas as lutas ideológicas
Cabeça erguida, sorriso resplandecente
Dá lugar à brancura obscena da carne morta
Ao odor putrefacto de quem deixou a vida
Num misto de loucura sem mistério!
Mas vou… como quem indo fica
Como quem procura na ânsia da ausência
Um mistério esclarecedor
Para justificar – não a vida partida
Que se evidencia no medo de ficar -
Mas o excessivo pulsar
No tubo de ensaio da solidão.
Permitam-me que chore todas as mágoas
De que me lembre
Todos os traumas
Que por bem me saciem
Que mate em mim a retórica que fui –
Cadastrado da vida
Enforco-me em cada palavra
Quero ser feliz à força de loucura
E suicídio!
Porque a loucura é um mito!?
Da grandeza dos sonhos que nos fazem grandes
O soslaio de um pedestre
Que corta os pulsos com o punhal do tempo
E não sangra porque o sangue coagulou…
A miséria humana
Deixada num saco de plástico
Ao lado do contentor vazio…
Insistir na fictícia verdade
Não é ter mais que essa grandeza de vento
Exposta no museu de mim
À insanidade de um público descrente…
É o círculo vicioso da estupidez!
Sou grande à força de nada ser!
Cresço como erva daninha num deserto
Convivo com répteis e aridez
Convencido que o mundo é pleno…
Pleno do lixo que me queima por dentro!
Pleno da exaustão que corrói as entranhas!
Pleno da desgraça que aos poucos constrói!
Nada quis… Ou tudo quis… Sei lá!?
Talvez na ânsia de mostrar ao mundo
A imagem do espelho que lhes reflecte
Esqueci-me de mim num beco qualquer
Sem vontade, dor ou sentimento
Qualquer coisa que me fizesse mais humano
À margem do descontentamento!
Nada fui… Nada sou… Nada provei!
Afinal
Como um pedinte pelas ruas
Emagrece no ódio que por mim verte
Sobre culpa que desfaz o ego
E o transforma em martírio
Nas desculpas que invento
Para poder sentir uma culpa maior
E assim perder-me mais uma vez
Em todos os caminhos que não sou eu
Não trilhei, não estive, nem fui!
Morro aos poucos na ilusão duma heroicidade
Que me perturba a medula e dilacera
Sem temor, sem raiva, sem piedade!
Sou o que sou e não sou nada!
Quis o que quis e não tenho nada!
Que mais me resta querer ou sonhar?
Aos poucos tudo vai perdendo o interesse
Como se o mar fosse apenas um substantivo
E a vontade um verbo impessoal…
O mais que sou…
É igual!
antóniocasado