não questiones a sintaxe
olha-te para lá do verbo
sê-te livre como um livro a galgar caminhos
como as águas rebentadas de uma gravidez
não queiras ser suporte de uma lâmpada
nem a luz redonda que fica no chão do teatro
escreve o nós como se o nós
fosse a a vida diante do espelho
ou como aquele profeta que foi à morte e voltou
apenas com o pretexto de repetir a cena
caminha para o poema
pelo centro da dor das palavras
agita-as numa vontade de mar
até veres no fundo da música
os pássaros brancos
***
Vejo que nunca te disse como escuto música e, fico assim, a pensar nessa forma de caminhar, quando não me vês, de poder tocar-te sem que me sintas e, por vezes a escrever-te longas cartas em mar alto. Este quadro preso por trás de ti, sensibiliza o arrepio de saber o sabor-a-ti nos teus instantes de lembranças, tão objetivos a escorrer pelos traços negros e finos. Ouve-me com teu corpo? Ouve-se a música. Pinto os meus quadros quando escrevo-te inteira na palavra intocada sem restringir tudo o que não se esquece, como aqueles pássaros de água na qual pintaste com dedos, contornando as asas como quem depositas segredos. É assim que crio os alicerces, pelas páginas que me dedicas. Nada como amanhecer em chuva e, perceber que no pensamento arrisca distraidamente o que não cabe nas entrelinhas; o casulo onde me recrias.