Eu não sabia o que pensar. Minha vida estava sendo um pesadelo. O que mais me magoava era o desepero em ver que boa parte daquela situação era culpa minha. Eu nunca tive paciência em lidar com esse tipo de situação.
A mulher com a qual passei a viver junto tinha pouco mais de quinze anos. Era ainda uma menina. Agora, depois de cinco anos juntos, ela tinha duas crianças pequenas e indefesas. Nossas brigas constantes fizeram com que nos separássemos. Depois de cinco meses longe dela resolvi ver as crianças.
O menino correu. Correu ao me ver para os braços da mãe. Correu de mim. Que animal me tornei? O que dizem sobre mim? O olhar aterrorizante do pequeno denunciava um medo. Minha alma tornou-se em um espectro. Já não sei mais quem sou.
O encontro não foi tão mal assim. Olhei nos olhos daquela que era a mãe dos meus filhos. Queria descobrir algo. Eles me negaram qualquer resposta. Nada. Apenas um silêncio sepucral existia neles. Com uma tranquilidade imensa pedi a ela que pegasse as duas crianças e viesse comigo para uma volta na cidade. Eu estava com a caminhonete do patrão.
Parei nas proximidades do cemitério São Miguel. Cercado de mato era quase impossível encontrar ali uma alma vivente. Por alguns instantes olhei para o infinito. Ao meu lado estava minha mulher e meus dois filhos. A menina ainda buscava o alimento no seio da mãe. O menino, maiorzinho, me olhava ainda assustado.
Abri o porta-luvas do carro e peguei uma arma que estava ali dentro. Virei-me para eles e comentei: - Vou matar você e essas duas crianças. – Não sabia o que faria depois. Provavelmente me mataria também.
Os olhos negros daquela mulher refletiu a calma. Não existiam neles o pavor da morte. Quem sabe talvez essa seria a melhor saida naquele momento. O sofrimento reinava na alma de ambos. A reação dela me imobilizou completamente. Não havia o que fazer.
Guardei a arma de volta no porta-luvas e voltamos a viver juntos.