Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 009

 
Tags:  Marcos Loures Sonetos  
 
801

A tua boca amada me percorre
A pele assim exposta, toda tua...
O mel que dos teus lábios, manso, escorre
Em cada nova curva continua...

Permita que meu corpo ao teu já forre,
Com ânsias bem vorazes, pele nua...
O teu desejo ao meu, logo socorre
A cama, o quarto...tudo enfim, flutua...

Teus seios no meu peito, tentação...
Explodem mil prazeres incontidos
Marcando cada passo em sedução.

Mergulho no teu corpo, meus carinhos...
Os teus olhos reviram, vão perdidos...
Inebriante gozo... nossos vinhos...

802


A tua boca, esposa e fantasia,
Nos sabores ferozes dos teus beijos
As linhas cruéis: farsas, desejos...
Os ecos da discórdia em pleno dia...

Não sei de que me vale ou se valia,
O canto dos canários, tantos pejos,
O medo dos espinhos, vãos solfejos.
A porta das estrelas não se abria...

Linda e nua, remota e traiçoeira,
Os cardos e penúrias, podres urzes...
A mão que tortura, vez primeira.

Revejo estes cansaços e disfarces.
Mas posso te ofertar algumas faces,
Decerto encontrará as velhas cruzes



803

A tua boca invade sem defesas
Audaciosamente tantos cais
E quanto mais se te tanta em dias tais
Meus olhos de teus olhos, tolas presas.

E sigo contra ardentes correntezas
Marcando em toques raros, divinais
Delírios entre sonhos sensuais
Carícias demonstrando tais destrezas.

Resumo dentro da alma esta esperança
E o passo noutro rumo sempre avança
Trazendo esta diversa maravilha,

E o cântico em louvor ao deus erótico
Ainda que se mostre quase exótico
O Paraíso em vida, enfim já trilha


804

A tua camisola tão macia,
De pura seda, bela e transparente,
Mostrando e me escondendo de repente
Aquilo que desejo e enfim, queria...

Em teus seios delícia que pedia
Um beijo mais gostoso e assim ardente.
Como um vulcão em fogo e brasa, quente
Entorpecente raro que vicia.

Desnudo-te e; bebendo desta fonte,
Apalpo levemente vale e monte
Até chegar ao ponto mais fogoso.

E sinto o teu perfume delicado,
Ficando por completo extasiado
Tomando gota a gota todo o gozo..




805

A tua companhia, amiga amada,
Expressa uma vital felicidade.
Em flóreas esperanças, mostra cada
Momento onde porvir é liberdade.

Sem máculas ou farsas, exprimimos
Vontades que per si são radiantes
Jamais imaginamos ledos limos
Nos passos em que vamos triunfantes.

Erguemos, pois então um brinde à vida
Que irmana-se nos versos e palavras.
Nas mãos tão calejadas pela lida
A recompensa, vindo de tais lavras.

Revigorando sempre uma alegria,
De estar sempre ao teu lado em poesia

806


A tua estupidez vai destruindo,
Aquilo que se fora um grande amor.
Aos poucos meu castelo vai ruindo
Em sonhos tão distintos sem pudor.

Do tempo que passamos mais distantes
O nada sem motivos, desamor,
Tomando nosso mundo por instantes
Secando toda a fonte de calor.

Intrigas nos fizeram belicosos,
Espinhos espalharam entre nós.
Nos jogos mais difíceis perigosos

Amor não resistiu, insensatez.
Agora caminhamos, ambos sós,
Presente desta tua estupidez...



807

A tua garatuja: Satanás
Rondando a minha cama noite afora,
Enquanto a fantasia inda se aflora
O tempo derramando amarga paz.

O gozo que esperança ainda traz
Opalescente dor que se demora
Remoendo os temores desde agora
Deixando as alegrias para trás...

Carregas nos teus olhos breus profundos,
Meus versos são agrestes, vagabundos,
Meus dias não têm sol sequer um brilho.

O que restou de nós, somente trevas,
Distante dos meus sonhos já me levas
Demônios que espalhaste aonde trilho.




808

A tua silhueta maviosa
Desfila no meu quarto, toda nua...
A pele que recende olor de rosa
Convida e nossa festa continua.

Bem sei o quanto sentes vaidosa
Se em teu prazer minha alma assim flutua,
Na pele acetinada e tão sedosa
Brilhando sob a luz da plena lua

Uma argentina imagem me conquista
Mostrada na nudez tão desejada.
Não há ninguém no mundo que resista

Na sede do querer, logo deliro,
Bebendo de teu corpo, minha amada,
Aos teus seios e braços eu me atiro...



809


A tua silhueta tão formosa,
Reinando nos meus sonhos, vem ardente
Rondando o meu jardim, perfeita rosa,
Mostrando ser feliz; um fato urgente,

A mão que acaricia; carinhosa,
E toda esta alegria que se sente
Permite esta emoção que, enfim, se goza
Vestida em camisola transparente

Clamor que em fantasia se verteu
No fogo dos desejos e paixões
Tu sabes, meu amor, quanto sou teu

E disso faço glória em minha vida,
Prazeres que me invadem, borbotões
Numa nudez perfeita e distraída...


810

A tua voz me guia com desvelo
Trazendo para a vida, calmaria.
Um sonho mavioso eu te revelo
Que, pleno de emoção e de alegria,

Sou tão feliz somente por sabê-lo
E nisto vou vibrando em fantasia.
O vento que acarinha o teu cabelo
Em brisa, demonstrando o que eu queria.

Eu amo cada verso que me fazes,
Além do que tu pensas, imaginas.
Amor é muito mais do que estas frases

É; sobretudo, um sonho mais completo
Aonde reconheço nossas sinas,
Das quais me realizo e me completo...



811


A tua voz tocando mansamente
As ânsias de quem fora mais audaz
E agora tão somente satisfaz
Enquanto o coração em ti presente.

O todo se desenha e quando sente
O canto mais além e já se traz
A vida em novo rumo, mansa paz,
A dor deste passado se desmente,

E o caos aonde outrora inda se visse
O passo sem destino da tolice
Agora se vislumbra em belo prado.

E o tanto quanto pude ser feliz
Já nada mais calando ora desdiz,
E as sendas magistrais, portanto, invado.

812

A tua voz domina este cenário
E o quanto pude crer e não soubera,
Da sorte desdenhosa da quimera
Num antro tão terrível, meu fadário.

O vento se mostrando temerário,
O cântico desdenha a primavera
E o todo se transforma e tétrica era
O mundo dos meus sonhos, vão corsário.

Matando o que pudesse e não teria,
Deixando para trás toda a alegria
Apenas desenhando a ribanceira

Diversa da que pude constatar
Aprendo tão somente a navegar
Aonde o meu caminho em paz se queira.


813



A tudo sobrevive uma amizade
E enfrenta temporais, isso eu garanto
Se a base traz então, sinceridade,
Vence vicissitude e desencanto.

E mesmo quando a sorte nos ilude
Nos tantos desalinhos, muda o rumo.
Manter com segurança uma atitude
Após a dura queda eu já me aprumo.

Embora magoado, estou contigo,
Sabendo perdoar a ti e a ela
Poder dizer de novo: meu amigo,
Destino pareado assim se sela.

Porém chumbo trocado não machuca.
Beijei tua mulher, a mameluca...



814


A um tempo satisfaz e satisfazes
Provocas e me tocas com desejos.
Nos jogos da alegria, tantos ases,
Carícias tresloucadas negam pejos.

A vida tem, decerto, suas fases
E nelas há momentos mais sobejos
De luzes e carinhos, pois me trazes
Prazeres muito além de relampejos.

Beijar a tua boca. Ser só teu...
Não quero simplesmente estar contigo,
Meu mundo nos teus braços se perdeu.

Sorriso inigualável em perfeição,
Embora cada canto diz perigo,
Nos braços da sereia, a perdição...




815

A vaca foi pro brejo sim senhora.
A moça prometeu que gozaria
Bastava relaxar, mas que demora!
Assim não posso ter nem alegria.

O povo vai sofrendo, mas agora
A gente não acerta a pontaria
Do jeito que eu sonhei vou logo embora
Deixando para outrem tal utopia.

Sem Meca que me salve ou revigore
Vou ler o meu Neruda, ou o Tagore
E vestir meu casaco de ilusão.

A gente faz amor, e fecha os olhos
Colhendo o que restou destes abrolhos
Fazendo desta fé a profissão...



816


A vaga que me arrasta ao infinito
Tramando em cada vento uma esperança.
Liberto de meus medos solto um grito
E a noite em calmaria já me alcança.

Rasgando em meu cavalo o céu bonito
Durante a vida inteira, sem pujança
Agora em amizade tramo um rito
Que trague finalmente a temperança.

Nas ondas deste mar, imenso e frágil,
Não deixo sucumbir esta alegria.
Já não permitirei mais o naufrágio

Do sonho que se fez em liberdade,
Almejo eternidade, uma utopia
Gerada sob os ramos da amizade



817


A vaidade fere a quem amamos
Tomando de soberba o coração.
Por noites, madrugadas procuramos
Amor que nos transmita uma emoção.

O mar quando se quebra em quente areia
Acalma esse calor que queima tanto
Teus olhos, o meu peito se incendeia,
Só beijos e desejos meu encanto.

Encantos que me trazes, minha amada,
Não vejo solução senão amar-te
Na cama que nos trouxe essa alvorada
Do amor, vasculharei parte por parte.

Eu amo teu amor com tal fartura,
Preenche minha vida de ternura...


818


A velha cartomante não sabia
Da sorte que escondia atrás da porta
Além do simples toque da magia
A moça desdentada tosca e torta.

Sem medo do que o tempo inda dizia
Vestindo o meu futuro, sonho corta
E volta a reviver o que queria
Quisera novamente a rota morta.

Acrescentando ao nada o pouco tenho,
Acendo o quase lume em meu olhar
E quando em temporais não me contenho

Arrebentando algemas e correntes,
Refaço a minha vida devagar
E a cartomante range; então seus dentes...




819



A velha classe média bolorenta
Que fede pra caramba, mas esconde,
Perdendo novamente o mesmo bonde
Não sabe que ninguém mais isso agüenta.

Madame nariguda e xexelenta
Ouviu galo cantar, não sabe aonde,
Uma tataraneta de visconde
Agora diz que senta que é de menta.

O sonho de consumo da boneca
São vinte e três centímetros e peca,
Olhando para o lado, o dorminhoco

Ricaço barrigudo e mal cheiroso,
Que sonha com um macho bem gostoso
Roçando devagar em qualquer toco.




820


A velha cucaracha não sabia
Do quanto se requebra no Caribe.
Olhando para a amarga poesia
Queria, agasalhar somente um quibe.

Não tendo com certeza, companhia,
Não pode ver ereto, logo inibe,
O vento em temporais quando assobia
Um sorriso, coitada, a moça exibe.

Pensando ser convite; coitadinha.
A cobra que mordendo se defende
Pensando assim quem sabe num duende,

Fingindo-se cordata, a diabinha
Não vê atrás de si, penduricalho
Barulhento em formato de chocalho!




821


A velha dos Jardins falsa cristã,
Erguendo a sua crista dita norma,
Enquanto a sua neta se transforma
Na quenga mais voraz do imenso clã.

A bruxa quis ser puta temporã,
E tenta recompor a antiga forma,
À plástica malfeita já deforma
Esta caricatura amarga e vã.

Ao ver a meninada nas baladas,
Roçando coxas, pernas e algo mais,
No fogo esmorecido, vendavais

Balançam estruturas mal armadas,
E não podendo ter seu cavaleiro,
“transforma o mundo inteiro num puteiro”.

Antes que me censurem, esta frase é baseada numa música do Cazuza tocada livremente nas rádios e nas televisões...

E parafraseando o genial funkeiro:

Se ele pode, eu posso...


822


A velha gargalhada do capeta
Ressoa em meus ouvidos desde já.
A gente que caminha assim cambeta
Não sabe o que o futuro mostrará.

Farei o que me der nesta veneta
E sei que disso tudo restará
Apenas um começo, qual vinheta
Que o fim do nosso caso provará.

O vinho que em vinagre se transforma
A sílfide em desastre já deforma
O que pensara outrora ser sublime.

O rio desafia em cada curva
A chuva que em meus olhos sempre turva
O quanto desafio, amor e crime...




823

A velha ladainha se repete
Estupidez faz parte do menu.
Fantasma de imbecil se pondo nu
Rebola o derriére tola chacrete.

Jamais eu desejei qualquer confete
Também não tenho a fome de urubu
Carniça misturada com angu
No rabo tão faminto da vedete.

O caco que se pretende ser alguém,
Tentando ser irônico já vem
Rasteja, cascavel, balança o rabo.

Sem ter sequer noção, a besta rosna,
Tão palatável ser, recende a losna,
De toda sensatez dá logo o cabo...



824


A velha poesia já morreu
Inerte, o seu cadáver numa sala
Aonde, amordaçada, nada fala,
Venenos em néons, ela bebeu.

Outrora, quando estava no apogeu
Na noite tão sublime feita em gala,
Ferida por perdida e justa bala,
A pobre entre fantasmas se escondeu.

Vasculho sob a cama, nem sinal
Daquela que vestida de ilusão,
Jogada sobre os rasgos do colchão

Tentava ser sublime e magistral.
Dos bardos outros bares e segredos,
Os sonhos condenados aos degredos...



825

A velha que, debaixo de uma cama
Criava tanto bicho, já se foi
Vivendo ao fim da vida um duro drama,
Chifrada pelo amado, antigo boi!

Fazendo da linguagem popular
Os versos em perfeita sintonia,
Eu tento ao mesmo tempo separar
O que sempre rebusca a poesia.

Não quero ser somente indecifrável,
Eu sei quanto é preciso a claridade.
Tampouco num balão, daquele inflável,
Eu não suportaria qualquer grade!

Por mais que isto degrade algum soneto,
Na alma simples do povo eu me intrometo.




826


A velha sanguessuga não sabia
Que anêmico poeta já se esvai
Enquanto a solidão diz da sangria
O templo da esperança cedo cai.

Capacho de meus sonhos, poesia,
Embaralhando os passos, não me atrai
Vencendo por nocaute a fantasia
Espectro da ilusão não vem nem vai.

Um soco desferido em minha nuca,
O tapa quebrando óculos, vou cego.
Ingredientes fazem mestre-cuca

Caduco se não tenho o teu amor.
Nos restos que deixaste, eu já me apego,
Nos cacarecos teus, reza e louvor...



827

A velha teimosia não me larga,
Sou mesmo cabeçudo, mas garanto
Que enquanto não secar todo o meu pranto,
A voz sem solução inda se embarga.

A vida continua sendo amarga,
O resto de esperança quando janto
Mostrando esta faceta: desencanto,
Impede que eu deseje o gozo à larga.

Largado pelas ruas, um lagarto,
Enquanto não decide, já nem parto
E fico boquiaberto ao ver as teias

Que teces tão somente pro domínio
Usando o teu poder- raro fascínio,
Bebendo todo o sangue em minhas veias...




828

A velhice batendo em minha porta,
Trazendo as tempestades invernais...
A boca que beijava anda mais torta,
As pernas já não dançam carnavais.

O que fora vital, já não me importa.
As horas já não passam, voam mais.
A faca desdentada já não corta.
Os olhos que choravam pedem paz...

A velhice não deixa um só momento...
Não permite sequer esquecimento.
Representa fantásticas nevascas.

Da pele diferenças velhas cascas...
Aprendendo depressa a ter perdão.
Peço: Não envelheça o coração!




829


A venusta mulher por quem deliro,
Trazendo teus adornos naturais;
Transladando meus versos faz um giro
Remontando a meus sonhos ancestrais...

O teu nome, incrustado num papiro,
Traduzindo, em vigor, fenomenais
Desejos. Rememoro, num suspiro,
Um tempo que não volta, nunca mais...

As púrpuras saudades inflamadas,
Expõem toda a dor que me entranhou.
As chagas no meu corpo tatuadas,

Não negam, pois eternas cicatrizes,
As horas quando um deus presenteou,
As marcas destes dias mais felizes...



830

A verdade queimando-me as entranhas
Banhando de alegria os velhos rios
Sangrando nos antigos desafios
Percorro sem temor, altas montanhas.

Conheço os teus caprichos, tuas manhas,
E enfrento calmamente tais estios,
Seguindo os teus caminhos sei dos fios
Por mais que as rotas surjam tão estranhas.

Tua inocência salva e me desnuda.
Na ponta dos teus dedos, a verdade,
Meus pés roçando a terra; extensa e muda.

Olhar alçando os mares do infinito,
Percebem sutilmente a claridade
Do sonho juvenil, mas tão bonito...



831


A verdadeira força vem do amor!
Não tenho mais qualquer dúvida disso.
Se eu fui; em tua vida, um beija-flor
Refaço a cada beijo o compromisso.

No viço que se empresta à flor de lis
Plantada nos canteiros da esperança
Um velho jardineiro, este aprendiz
Retorna aos tempos belos de criança.

Amor, meu analgésico perfeito,
Na cura em que se dá o sofrimento
Estende os seus varais dentro do peito
Queimando em febre expressa o seu intento.

Dos erros, aprendi, eu te garanto,
Do amor, a mola mestra, luz e encanto...



832


A vergonha assolando meu país!
Pelos cantos a fome se aplacava.
Imprensa, oposição qual meretriz,
Ao ver que velha noite se acabava,

Um sonho mais gentil se acalentava,
Já tentam impedir de ser feliz
Aquele cuja fome não calava,
Aquele que vivia por um triz!

Silêncio sobre torpe corrupção
De quem sangrou, roubou,qual vendilhão,
Não deixando sequer resto de esperança...

Ao ver esse sorriso da criança
Faminta, não consegue se calar!
Ao povo por vingança, TRUCIDAR!



833


A véspera da fome é o degredo;
Por isso não segregue o coração.
Segredes o mais límpido segredo,
Mas nunca se permita a solidão...

Da vida já nem quero novo enredo,
Basta-me ser feliz; que vou fazer?
Nas tramas de teus braços, sempre cedo,
Pois quero, simplesmente; o teu querer...

Espero nova espera mais feliz,
Num tempo que se torne mais amigo;
Anseio caminhar sem cicatriz.

Pressinto o sofrimento, mas nem ligo,
Sabendo que encontrei felicidade
Louvando assim a força da amizade...


834



A vida, picadeiro em que converto
As dores que me marcam sem demora.
Nos palcos onde mostro meu concerto
Tristeza se demonstra e é senhora.

O tempo que passei não tem conserto
Não pode mais tornar-se belo agora.
Um títere da peça já me alerto
A morte sempre chega antes desta hora...

A peça desgarrada do contexto
Meus sonhos e desejos não se expressam.
Errei, não decorei sequer o texto.

No fundo tanta coisa triste à beça,
Pecados que forjei não se confessam.
A vida me pregando a mesma peça...


835


A vida, sem ninguém, segue funesta;
Melancolia em noite solitária.
Apenas o vazio ainda atesta
Minha ilusão que sei desnecessária.

Teria ainda um resto de esperança
Rondando a minha casa se eu tivesse
Ao menos, do passado uma lembrança.
Quem vive sem ninguém sempre padece...

Sem nada que me lembre uma partilha,
O coração sozinho e vagabundo
Entranha na esperança. Amarga trilha
Na qual, pobre iludido, eu me aprofundo.

Revendo desde agora o que vivi,
Deságua nesta ausência, amor, de ti...



836

A vida, minha amiga, às vezes se faz ácida,
Minha alma se perdendo andando maltrapilha
Outrora uma pessoa amável, mesmo plácida
Aos pouco penetrando, amarga; em outra trilha

Percebe o quanto é vil o mundo de quem sonha
Transforma-se em escombro e morre a cada dia.
A noite se transmuda e segue mais medonha
A dor e a solidão em louca e rara orgia

Rasgando o que sobrara, amaro coração...
O vento em tempestade; a lua/escuridão
Meu canto segue vão, atada a liberdade.

O gozo já se esfuma, o que me resta agora?
A vida se desmancha aos poucos em cada hora.
Restando tão somente, a força da amizade!



837

A vida, do teu lado, radiosa.
A sorte num instante tudo muda,
Quem teve uma aventura desditosa,
Percebe nos teus braços, grande ajuda,
Tua presença amiga e carinhosa,
Protege contra a seta pontiaguda

Que a dor em momento assim nos lança,
Ferindo com terrível crueldade.
Mas tendo na amizade uma esperança
Encontro finalmente a liberdade,
E o coração voltando a ser criança
Percebe mais feliz, tranqüilidade.

Riscando num segundo em cada verso,
Distante de outro tempo tão perverso...



838



A vida;um carnaval em adereços,
Em tantas fantasias me embalando,
Num baile mil ternuras desfilando,
Mudando desta sorte os endereços.

Amor já me cobrando ricos preços
Não sabe conduzir, nem quanto ou quando.
Aos braços de quem amo me entregando,
Percebo em passeata meus tropeços.

Nos lenços que balanças, teu adeus,
Os olhos embuçados quase ateus,
Demonstras quanto dói a decisão.

Mas, amor; implorando por perdão,
No camarote imenso da saudade
Não vi mais desfilar felicidade...



839


A vida, companheira, em dores passa.
Em tristes romarias, os aflitos
Passeiam angustiados tais proscritos
Da sorte, cavaleiros da desgraça.

Às vezes num sorriso que disfarça
A sina de infeliz oculta os gritos
Dos pobres sofredores. Os benditos
Desejos se perdendo na fumaça.

A juventude morre esfarrapada
A mocidade aborta uma esperança.
Sozinho em noite escura, quase nada

Restando senão dor; mas na verdade
A sorte desejada inda se alcança
Nos braços tão sinceros da amizade...


840




A vida agora em paz, já não desanda
Quarando uma esperança no meu peito.
Os olhos vão rodando na ciranda
Mergulho no teu lago, satisfeito,

Palavra desejosa e mais sagaz
Esconde mil detalhes, subterfúgios,
Quem quer o amor que traga a boa paz,
Encontra nele os gozos dos refúgios.

São tantos os meandros deste jogo,
No qual não há sequer um vencedor.
Querendo o teu anseio desde logo,
Aprendo a ser um novo jogador.

Os rios vão buscando a mansa foz,
Vencendo a corredeira mais atroz...


841

A vida ano que vem, talvez quem sabe
Num quase que não tenho já faz tempo.
No passo de quem vai que não se acabe
A pedra no caminho é contratempo?

Bebido deste vinho, pás carrego
Cultivo o que não quis, fazer o quê?
Procuro pelo amor, porém sou cego,
O gozo de viver: diz-me- cadê?

Amálgama dos sonhos, sombras feitas
Batuca uma vontade de aguardente.
A lua te sarrando enquanto deitas
Cravando em minhas costas, unhas, dentes.

Acredito que possa, enfim, voar
Deitando meu tesão neste luar...


842

A vida ao permitir tantas façanhas
Espalha no jardim, divinas rosas,
Amor vai adentrando nas entranhas
E torna nossas vidas grandiosas,
Felicidades mostram-se tamanhas
Quando em palavras doces carinhosas.

Quem teve em seu passado, amor tão fero,
Marcado por tristezas e cobiças,
Percebo que também de ti espero
As flores perfumadas, sem as liças
Nas quais por tantas vezes desespero,
Tornando nossas vidas mais mortiças.

Não deixe, minha amiga que a dor vença,
Nos laços da amizade, a recompensa...



843


A vida batendo no meu peito
Não economizando sentimento
Fazendo que me encontre insatisfeito
Abrindo novamente, solto ao vento.

Na fantasia sempre tão romântica
Meus versos são serenas tempestades.
Vontade de te amar tão grande, atlântica;
É quase que suprir necessidades...

Abrindo-se também a flor dos sonhos,
Na lua que não sei se mais terei.
Os campos que passara, se risonhos,
Em plena alegoria que criei.

Não temo a triste folha que descoro,
Eu sei que, na verdade amor... Te adoro!



844



A vida chega e sangra sem perdão;
Dilacerando todo triste sonho.
Nada mais rutilando, resta o não;
O rumo deste barco é tão medonho.

Cicatrizes abertas; podridão.
Nas pernas que se quebram; eu me exponho.
A cada novo verso outra aversão.
Fui arrancado à fórceps, bisonho.

Amor que não teria, ledo parto.
Abortei das entranhas; meu futuro.
Das torpes cantilenas já me farto.

Perambulo vielas, salto o muro,
Talvez eu seja um verme; eu me procuro,
Do amor abandonado, eu me descarto.


845


A vida claramente qual remanso
Depois que esta alegria nos tomou
O amor que canto em versos, sem descanso,
Moldura em que minha alma se encontrou,

Vestido de esperança sempre avanço,
Buscando aonde estrela mergulhou
O coração feliz, batendo manso,
Já sabe o que procuro, aonde vou,

E segue este cometa enamorado,
Seguindo o que me resta, do teu lado
Na glória que se mostra sempre tanta.

A força deste amor nos conquistando,
Sublime fantasia derramando
A cada novo dia se agiganta.




846

A vida colocando pá de cal
Em todas esperanças que trazia,
Num ato em desespero, sem igual,
Matando pouco a pouco, em agonia.

O golpe desferido foi fatal
Deixando para trás o que eu queria.
Na dor angustiante, uma ancestral
Certeza de que nada poderia...

Mas vindo bem distante um novo vento,
Assoma e toma a forma magistral
Que invade sem pergunta o pensamento,

Demonstrando um resquício em claridade.
Na força que demonstra que a amizade
Retrata um santo Deus, fenomenal...



847

A vida com certeza traz mistérios
Aos quais eu me submeto todo dia.
Surpresas que nos mostram que critérios
Jamais existirão, pura magia.

Ao encontrar depois de tanto tempo,
Jogado pela rua este bilhete,
Percebo solidão ser contratempo
E a sorte só nos tem como joguete.

Um sonho muito além do que mereço
Ou mesmo concebera no passado,
Ao ver neste papel teu endereço
E o amor a mim, com força endereçado

Eu percebi que existe sim um Deus,
Unindo os dois caminhos, teus e meus.


848

A vida com certeza traz o medo
E gera da esperança este vazio
E quando alguma sorte eu desafio,
Um passo para o nada e o vão concedo,

A sorte se traçando em desenredo
O tanto quanto eu quis já dita estio,
E o sonho se apresenta em tênue fio,
Deixando o dia a dia atroz e ledo.

Vencido pelo passo sem destino,
O quanto ainda quero eu determino
Audaciosamente em noite escura,

Depois de certo tempo, nada vindo
O quanto se imagina agora findo
E a vida sem sentido me tortura.

849

A vida com certeza, só se abranda
Depois de ter passado a tempestade;
Se amor, a nossa vida já comanda,
Reflete em nosso peito a liberdade.

Porém se em desventura vã desanda,
A vida não conhece claridade.
Um coração que andando vai de banda,
Pesando bem mais forte uma amizade.

Assim depois de triste decaída
A sorte se fez bênção no deserto,
Amor que em amizade descoberto

Ajuda a resgatar o bem da vida.
Depois, na caminhada mais possível,
O mundo se anuncia em paz visível...


850

A vida como um rio turbulento
Descendo em cachoeiras e remansos.
O sol por entre nuvens, bruma e vento,
Momentos pós tempestas, calmos, mansos.

No lusco-fusco, às vezes eu me perco,
As margens me confundem, montes, matas
As nuvens se acirrando, fazem cerco,
As cores se misturam, ouros, pratas...

Porém o cinza toma este cenário
E as sombras me acompanham sem dar tréguas.
O tempo vai passando, temerário,

A chuva se aproxima no horizonte,
Distante de um remanso muitas léguas,
O amor que tanto eu quis, serve de ponte...


851



A vida desafia e já nos doma,
Um coração que outrora foi guerreiro.
Agora se perdendo já se assoma
E mostra-se mais frágil, por inteiro.
Porém te entrego amor. Renove a soma
Vencendo o medo, velho carniceiro.

Os dias que formaram primaveras
Distantes deste inverno que hoje vem.
Parece que já foi em priscas eras
Por tanto tempo andei ser tem ninguém.
O peito em que se abriram tais crateras
Um fio de esperança agora tem.

Rebelde coração, sem rumo ou meta,
Explica, na verdade, o ser poeta...



852


A vida desde o nosso batistério
Prepara para nós a sepultura
Bramindo com vigor golpe funéreo
Às vezes com aspectos de tortura.

Envoltos nesta bruma, em tal mistério
A dor que nos maltrata não se cura
Descortina a nossa alma em climatério
Legando um frio inverno em noite escura.

Na solidão terrível dessas fragas
Cobrindo o nosso corpo em negras chagas.
A sombra da esperança? Claridade...

Embora quase sempre seja tarde
Aplaca o firme sol que assim nos arde
Somente o laço firme da amizade...



853


A vida destinou-me tal ventura
De ter esta alegria duradoura
A sorte que já veio e a futura
Em tua fantasia já se doura.

Minha alma te procura a todo dia,
Sabendo que algum dia serás minha,
Vivendo do teu lado em harmonia,
Na mão que com desejo, me acarinha.

Teu quero ser; eterno namorado,
Erguido da paixão em vivo sonho,
Andar o mundo inteiro lado a lado,
Querida, é o que desejo e que proponho.

Assolam-me flamejos de um vulcão,
Neste desejo imenso, coração...


854

A vida do teu lado, extasiada
Permite que eu me expresse em cada verso
Vagando com presteza este universo
Nos braços da mulher imaginada.

Não tendo depois disso quase nada,
Não andarei sozinho e nem disperso
Nos braços de quem quero, estou imerso
À espera da fantástica alvorada

A barca dos meus sonhos singra o mar,
Bebendo da emoção vai ancorar
No porto que em belezas se assenhora.

Colhendo em tua boca o que plantei,
Agora com certeza eu já terei
Prazer que eternamente revigora



855



A vida é tecelã que na aquarela
De cores tão diversas emoldura
O que no dia-a-dia se revela
Num misto de furor e de brandura.

O barco desfraldando a mestra-vela
Percorre este oceano de amargura,
A lua-montaria, o sonho sela
E vaga clareando a noite escura.

Amar é perceber cada detalhe,
Por mais que a solidão em fogo entalhe
Usando da tristeza por buril,

Eu creio ser possível um novo sol,
Tramando a claridade do arrebol,
Formando este cenário mais gentil...


856

A vida é um mistério, disso eu sei,
Muitas vezes sozinhos caminhamos,
Além de todo o sonho que vibrei
Descanso minhas costas, fogos, amos...

Distante do que fora a dura lei,
No mundo em que vivemos, nos amamos,
Mas tanto que em castigos eu sangrei,
Cansado deste rumo que tomamos...

Mas vejo em tua voz, querida amiga,
A sorte que talvez não encontrara
Nos rumos que por vezes eu tomara.

E sinto que isso pode me salvar,
Nesta ternura imensa e tão antiga,
Com tua amizade sempre irei contar...


857


A vida em alegria, calma e terna
Na procissão de luzes e de estrelas,
Na tenra fantasia, não hiberna
E deixa as nossas noites bem mais belas.

A força conclamada em paz interna
Permite que ilusões, que sempre ao vê-las
O barco sem tempestas não se aderna.
As horas; tão gostoso assim vivê-las.

Sorrisos já não são simples centelhas,
No mesmo brilho agora, tu espelhas
Raiar inesquecível, deslumbrante.

Mantendo sempre acesa essa lareira,
A chama além do sonho que se queira
Na duradoura flama de um instante...



858


A vida em névoas feita, já neblina
Cigarros são meus únicos parceiros
E neles os momentos derradeiros
Insânia vem e sonda; e me domina.

Vulto fantasmagórico se declina
E beija os frios lábios costumeiros,
Retratos de outros tempos, vêm ligeiros
E partem com a nuvem matutina.

Apenas um cortejo de lembranças,
Levando nos seus rastros, esperanças
Deixando tão somente este vazio.

O quanto fui feliz. O sol invade
E traz pelas janelas, a saudade
Interminável sonho que recrio...



859



A vida me cedendo os agasalhos,
Permite-me saber da noite e frio...
Não temo meus fantasmas, espantalhos;
Não temo a solidão, eu vou vadio.

Persigo procurando meus atalhos...
As horas se passando, meu estio;
O sol que me tortura; os atos falhos.
Pretendo conhecer desejo e cio...

Minhas certezas, sumo e cercanias.
Minas profundas, resto e valentias;
Rotas perdidas, rumos e incertezas.

Quem fora podridão hoje respira...
Quem fora solidão, hoje transpira.
Flutua, cultuando estas levezas...



860


A vida me levando na corrente
Que sempre traz a sorte que Deus quer,
Às vezes infeliz, outras contente,
Na espera do que der, do que vier.

Qual a folha caída em correnteza
Na chuva que não pára de cair,
Levado pela vaga em incerteza
Sem nada que me impeça de seguir.

Sou esmo, sou sem nexo, um eremita
Que teme toda a luz que se aproxima.
A sorte tão distante não se agita
Restando-me buscar somente a rima

Que faça da amizade uma esperança
De noite diferente, em plena dança..



861


A vida me marcando em funda chaga
Fazendo no meu peito uma avaria,
Distante deste sonho, noutra plaga,
Espero te encontrar, quem sabe um dia.

A dor que me consome e já me traga
Dizendo que em amor, velhacaria,
Mas quando vens, querida, tudo alaga
Transforma toda a dor em fantasia...

Navego nos veleiros e jangadas,
Os mares transformando velhos rios,
As noites que retornam consteladas,

Embarcações diversas que me levam,
Tanto calor, às vezes num estio,
Em duro inverno, olhares tristes nevam...




862


A vida me permite tal grandeza
Nos atos onde busco majestade?
Quem dera conhecer felicidade,
Poder dispor enfim de tal riqueza!

Voando por teus braços na leveza
Da pluma que traduz imensidade.
Oscilo tantas vezes, na saudade,
Como medo da cruel fatalidade...

Meus olhos pobrezinhos, rasos d’água
Lotados, carregando tanta mágoa,
Buscando a claridade... Foi embora...

Me lembro de momentos mais felizes,
A vida se desfez, tantos deslizes...
A noite me promete nova aurora?



863


A vida me promete a primavera
Talvez a derradeira em minha vida...
Não sei mais se resisto a tanta espera.
Não se demore tanto assim, querida...

Saudade corroendo pouco a pouco,
A primavera passa tão depressa...
Em grito desumano, amor tão rouco,
Aguarda mas precisa; tenho pressa!

Fechando os tristes olhos devagar,
Divago sobre quem já foi embora.
Não tarde meu amor, o teu chegar,
A solidão em tudo me devora...

Espero, ansiosamente por teu sol,
Meus olhos te buscando, girassol...



864

A vida me promete este tesouro,
Vestido de mulher em riso franco.
Errado sei que sou, do nascedouro,
Quebrei a poesia e não desbanco

Tirando da alegria todo o couro
O pangaré da sorte andando manco,
O amor jamais será um bom agouro
E em versos tão dispersos eu desanco.

Um passo sem tamanco faz a festa
Tropeça numa escada e vai liberto,
O beijo se mostrando tão incerto

Encara a fantasia que me resta,
Se o templo se perdeu, foi profanado,
O amor já se esqueceu. Cadê recado?




865


A vida me propondo encruzilhadas.
Somando o quase nada, resta o zero,
O amor que tantas vezes diz que quero,
Deixando as sensações, cruéis, ilhadas.

Palavras tantas vezes humilhadas,
Servindo no meu prato de tempero,
Não vou falar sequer do desespero,
Nem das louças tão sujas empilhadas.

Apenas vou beber até cair,
E nada e nem ninguém vai me impedir.
Que se danem as velhas convenções.

Metamorfoses somo em minha vida
Que embora tantas vezes vã, perdida,
Encontra sempre ao fim, as direções...



866


A vida me tocando, na ribeira
Levado pelas sinas mal tecidas,
Na morte derradeira companheira,
As esperanças somem, já vencidas.

Resumem as histórias verdadeiras,
Amargas soluções pra tristes vidas
A noite do teu lado, a derradeira
Impede que eu vislumbre outras saídas.

Capítulo final que se pressente,
Encerrando o farnel de toda gente
Que um dia quis sorrir, mas vou sozinho;

Espalho a tempestade nas andanças
Na busca por antigas esperanças
Desvio a cada curva, o meu caminho...



867

A vida me vestindo antiga túnica
Palavras se perdendo em luzes trágicas
Vontade de te ter, mulher tão única
Nas noites insensatas, porém mágicas.

A noite se esvaindo quase estóica
Sem nada, sem ninguém que venha lânguida
A luta se demonstra sempre heróica
Embora algumas vezes bem mais cândida.

Nos termos que se fez este armistício
Perdido; eu sigo em voz triste e patética
Amores me impelindo ao precipício
Matando uma ilusão viva e poética.

Nos jogos que se fazem histriônicos
Quem dera se pudessem ser harmônicos...


868

A vida não dá tempo pra sonhar,
Apena quem deseja ser romântico.
Minguando um sentimento que era atlântico,
Matando toda fruta do pomar.

Quem pensa que consegue disfarçar
A lágrima contida em algum cântico,
Amor já se tornou erro semântico
E a fera na tocaia a me espreitar.

Ouvindo a tua voz tão delicada,
Volvendo ao reino aonde a boa Fada
Dizia de castelos e princesas,

Percebo que inda temos solução,
Nas tramas, nos enredos da paixão
Banquetes entre valsas pondo as mesas...



869


A vida não me deixa nem compressa...
Do vinho da esperança? Só vinagre
A mão que me maltrata já tem pressa,
Não há sequer um sonho que consagre

Felicidade existe? Não conheço.
Quem soube só do mal procura o bem,
E esquece, de repente o seu tropeço.
Não quero ser brinquedo mais de alguém,

Eu sei que tanto errei, mas sendo humano,
A perfeição jamais existirá.
Agora se eu mereço o desengano,
Talvez o sol que sonho, morrerá.

Quem dera se eu tivesse uma amizade,
No fim da negra noite : a claridade...

870


A vida não permite mais lirismos.
Nem sequer o sabor de uma saudade
Pelas portas do céu, os meus abismos,
Adentram ocultando a claridade...

Não me permitirão meus transformismos,
Nem a solene dor da liberdade;
Herdada pela força d’atavismos...
Permita, pelo menos, falsidade!

Nas pedras do caminho, tento o salto.
Na rigidez cruel deste basalto,
Não me restou sequer mais uma curva...

Meus medos, minha fome, tudo enturva...
Fantasias perdidas no egoísmo.
A vida reproduz meu fanatismo...



871


A vida não seria torpe e vã
Se o amor não fosse apenas tal miragem.
O quanto poderia neste afã
Realizar contigo esta viagem.

Porém a vida trama outras verdades
E deixa a solidão, fatal herança,
Não quero ter somente as vaidades
Estúpidas, cruéis de uma esperança

Eu quero muito além de um simples cais,
Ancoradouro sempre mais seguro.
Decerto que eu procuro, agora mais,
Que um simples clarear em céu escuro.

Bem mais que estar feliz e satisfeito,
Eu quero em nosso caso, amor perfeito.




872



A vida não teria tanta luz
Se quem eu sempre quis não me quisesse
Aí não bastaria toda prece
Imagem que no olhar se reproduz.

Sem medo da saudade; amor traduz,
Bem mais do que meu canto já merece.
De todos os meus sonhos não se esquece
Aquela que em meu verso se seduz,

Somente essa menina que chegou
Em meio à tempestade, já brilhou
A flor do meu desejo mais profundo.

Mar e sol, lua e vida soberana
Um peito apaixonado não se engana
E morre nos teus braços num segundo...


873

A vida negará qualquer adeus
A quem já se perdeu de tanto amor.
Olhares divinais iguais aos teus
Invadem o meu peito sonhador.

Caminhos confluentes teus e meus
Refazem o perfume desta flor,
Por tantas vezes passos vãos, ateus
Tramaram tão somente amarga dor.

Partindo deste nada, tive o nada,
Porém minha alma louca e transtornada
Cansada de vagar inutilmente

Encontra no teu peito ancoradouro,
Sabendo que encontrei, enfim, tesouro
Meu rumo se transmuda num repente.



874

A vida no meu peito, entardecendo,
Promete anoitecer bem mais suave...
Amor com mansidão adormecendo
Comanda sem tumultos a minha nave.

Esqueço em algum canto, revolta, ira,
Carinho que tu fazes me sustenta
A dor que posso ter, cedo retira,
E todo o meu amor, macio, venta...

O sol estremecido não desponta
A lua envaidecida inda brotando
Nas hastes deste amor, percebo a ponta
Que fere mansamente, mal cortando...

Amor que calmamente faz espuma
Derruba minhas dores, uma a uma...


875


A vida nos demonstra tantas chances
De mostrarmos amor a muita gente.
Por mais que te pareça não alcances,
Pequenas coisas fazem tão contente
Aquele que recebe uma atenção
Ou mesmo paciência pra escutar.
Um sorriso, um abraço, uma emoção
Por vezes nos ajudam. Se pensar
Nisso, meu companheiro, tu virás
Como é bom partilhar de uma alegria.
Assim propagarás por certo, a paz.
E viverás a vida em harmonia...
É nas pequenas coisas que sabemos
O bem que ao semelhante nós fazemos...




876


A vida nos ensina o bem de amar,
Sem ter qualquer limite nem medida.
Por mais que uma palavra vã te agrida
Melhor deixar o barco te levar.

Assim tu poderás beber do mar
Além da água que salga em despedida,
Aprenda a cada dia com a vida,
Que tem rara nobreza de ensinar.

Os sonhos? São as asas que Deus deu,
E neles universo todo teu
Ao qual ninguém penetra se não deixas.

Não ceda aos vãos caprichos insolentes
Daqueles que vazios, descontentes,
Apenas aprenderam tolas queixas...




877

A vida nos ensina uma lição:
Quem ama e necessita ter respeito
Precisa respeitar do mesmo jeito.
Precisa perdoar se quer perdão!

Pois se Deus tanto amou na criação
Do mundo que gerou, assim perfeito;
Não pode permitir-se contrafeito
E sabe que quem ama não diz não!

A vida é necessária e se completa
Em cada criatura. A velha meta,
Ser feliz, se completa no seu par.

Se quer ser respeitado, então respeite,
Pois se quer ser aceito, sempre aceite.
Quem age desta forma sabe amar!




878


A vida nos ensina muito enquanto
Ao mesmo tempo e fere e acaricia,
Assim regendo a dor e a fantasia,
Também noutro momento diz quebranto

E o quanto poderia e não garanto
O passo em noite escassa, atroz e fria
Marcando com terror, esta agonia
Gerando após o sonho, o ledo pranto.

Vestindo esta mortalha; uma esperança
Audaciosamente ao nada lança
A sorte desejada de quem tenta

Vencer com calmaria esta procela
E quando a poesia se revela,
Aplaca em tal bonança esta tormenta.


879

A vida nos impele desde cedo
A procurar apoio e convivência
Quem tem e reconhece esta ciência
Não traz a solidão nem o degredo.

Pra ser feliz já basta este segredo
Que salva contra a dura penitência,
É preciso saber, então clemência
Com quem concebe a vida em outro enredo.

E ter a consciência assim liberta
Respeitando as diversas diferenças
O mundo te trará as recompensas.

Uma alma sorridente e sempre aberta
Prenúncio de viver felicidade
Numa pura acepção de uma amizade...


880

A vida nos impõe as turbulências
Terríveis cachoeiras sob a ponte,
E o céu quando se nubla no horizonte,
Permite aos corações torpes demências.

Não posso suportar tais penitências,
Tampouco quero seca a velha fonte,
Enquanto o sol, de novo, não desponte,
Só peço ao Criador, paz em clemências.

Porém, mesmo que sinta desbotado
O terno que me diz de um bom passado,
Em meio às esperanças mais sutis.

Eu creio, mesmo que isto seja tolo
Que um dia, restará fatia e bolo,
Da festa que emoção inda me diz...


881

A vida nos maltrata e nos perjura
Roubando um sentimento, às vezes claro.
Olhando os descaminhos logo eu paro,
E vejo noutros céus, outra pintura.

Erguendo as mãos tão frias, em tortura,
Carrasco deste sonho, um ser avaro,
Impede que se faça num reparo,
A vida noutros termos, com brandura.

Profundos dissabores, fundo corte,
Profanam os carinhos, seus altares.
Num vento tormentoso frio e forte

Quem sabe talvez tenha a claridade,
Em sonhos de Quilombo outro Palmares,
Na força e no poder de uma amizade....


882


A vida nos mostrando duras leis
Deixando o nosso peito desarmado,
O dia que se foi, triste passado,
Não bebe mais dos gozos feitos méis.

Nos braços em que fortes vos ateis
Permitem novo dia imaginado
No sonho que se fez tão encantado
Castelos eu concebo: lendas, reis.

Vencendo, com vigor, os inimigos,
Na luta que se faz no dia a dia,
Os medos esquecidos, tão antigos,

Apenas desfraldando esta bandeira
Que crava em nosso peito uma alegria
De ter a cada liça, a companheira...


883

A vida nos remete a valsa e festa

Nos versos somos unos, universos

Aberto o coração, enorme fresta,

Dizemos nossos somos tão diversos.



Nas ondas espalhadas pelos ventos

Se vemos ou se temos, não tememos,

Sem pena, libertamos pensamentos,

Na valsa que dançamos já vivemos.



Um mar que se agitando nos acalma,

Nesta torrente imensa que nos cura,

Futuros que guardamos, mão e palma,

Sem medo sem remendo, só ternura...



Ter cura em cada verso que cantamos,

Encanto que somenos, já somamos...



884

A vida nos teus braços, bem amada,
Transcorre com total felicidade.
Sentindo da alegria, a baforada
Percebo esta fantástica deidade

A mão de quem se mostra abençoada
Roçando a minha pele. Na verdade
Encontro a sorte grande tão buscada
No amor que me traduz eternidade.

Deixando para trás as aparências
Na vida que encontramos transparências
Em atos e palavras mais gentis.

Percorro tão suave o meu caminho
Tocando o corpo teu; brando carinho
Certeza de que sou, enfim feliz.



885


A vida nos tomando em majestade
Permite que vejamos belo templo
Aonde se percebe uma amizade,
Perfeita sintonia, raro exemplo
Da mais perfeita paz, da cristandade.
Nos olhos desta amiga eu já contemplo

O sol que vem raiando, comovido,
Num sentimento puro, pois eterno,
Carinho que se mostra engrandecido
Sublime sensação de ser mais terno,
Nos braços da amizade, convencido
Da suprema beleza: amor fraterno.

De todos os que eu sei, sua clemência
O torna, nos amores, excelência...



886


A vida nos trazendo uma estranheza
Que toma em desespero a nossa mente,
Embora tantas vezes com presteza
Remonte a velhos dias, lentamente.

Nos mares esquecidos, correnteza,
Nos rios da esperança esta corrente.
Que mostra num momento a realeza
De uma amizade feita plenamente.

E tanto quanto eu canto, já sabia
Dos cardos e das curvas, pedregulhos.
Nas ondas dos amores, meus mergulhos

Terminam tão somente em água fria.
Juntando tantos cacos, meus entulhos,
Apenas a amizade ainda me guia...






887


A vida nos trazendo – em lágrima- o mistério
Num erro cometido em um lugar comum,
Embriaguez que cura, em farto gole – rum,
Seja, amigo, talvez amor sem ter critério

Invade nossa casa e sob seu ministério
Não deixa quase nada e vestígio nenhum
Subindo nossa escada este algoz, número um
Tirando quem sonhava em rumo calmo e sério

De todo o prumo exato, em passo decidido,
Mostrando em outro fato, às vezes derradeiro
Negando a sorte plena e mesmo a recompensa

Por ter tanto lutado e condena ao olvido
Com risos de ironia, um mal alvissareiro,
O amor faz seu estrago e torna a dor imensa...



888

A vida numa festa, meus amigos
Trazendo uma alegria em passo certo,
Distante dos terríveis inimigos,
O coração em fresta descoberto,
A proteção perfeita pr’os perigos
Que cada vez estão, daqui, mais perto.

Eu quero o gosto doce da morena,
Na audácia que se mostra em fogo e chama,
Deitando minha sorte, logo acena
Fornalha que me aquece em minha cama.
Paisagem sensual que, nua acena,
E num momento insano, vem e me ama.

Eu quero ser feliz e nada mais,
Distante dos medonhos vendavais...


889

A vida passa a ser deliciosa
No cálice perfeito em que mergulho
A boca mais audaz, maliciosa.
A senda sem espinho ou pedregulho.

Do quanto eu te desejo, e já me orgulho
De ter em minha vida; a fabulosa
Mulher que se entregando sem orgulho
Do mesmo gozo insano, se antegoza.

Assaz maravilhosa, a noite segue,
Sem blagues armadilhas ou rancores.
Não quero mais saber de uma mixórdia,

Vivendo em mansidão, plena concórdia
Acórdãos respeitados, bel prazer
Num sonho tão sublime de viver...


890

A vida passa brusca; e nela, a sensação
Desoladora e triste, o gosto mais amaro.
Deixa-me, então, decerto, o desejo mais raro.
O de percorrer, livre, espaço e amplidão!

Nunca despreze a dor, nem negue o seu perdão.
Amor belo, de outrora, a morte sente o faro
E em menos d’um segundo, está no desamparo!
Amor é qual semente, a rega brota o grão.

Não despreze a mulher mesmo que não a queira.
Amor nunca permite afronta nem cegueira.
O vaso que se quebra, aceita nova cola.

Mesmo que nunca seja igual depois da queda.
Amor sempre se paga, o beijo é a moeda.
Por fim, amor não sabe e não respeita escola!


891


A vida pode dar bem mais que sonho
A quem se entrega inteiro e sem pudor.
Fazendo da alegria o seu louvor
Certeza de outro tempo mais risonho.

É tudo o que desejo e te proponho,
Levando em calmaria nosso amor,
Futuro se mostrando promissor
Deixar no esquecimento um mar medonho.

Quem sabe desfrutar tal maravilha
As sendas mais suaves sempre trilha,
Seu barco com fantástica ancoragem.

Porém quem desconhece esta verdade
E traz bem mais distante a liberdade
Desesperança marca em tatuagem.


892


A vida pode ser maravilhosa
Se temos neste mundo alguma ajuda
De uma pessoa amiga e caprichosa.
A sorte num momento, tudo muda,

Espinhos vão deixando a bela rosa,
A dor vai se calando e fica muda,
Diante da alegria fabulosa
Saudade se tornando, enfim, miúda.

Eu tenho uma certeza renovada
Da mão tão carinhosa de uma amiga
Trazendo para a vida uma alvorada

Na qual felicidade já se abriga
E ganho, num segundo outro universo
Matando um mundo rude e tão perverso.


893


A vida preparando intensa vaia
A quem; por vezes, tolo imaginou
Que após seus desvarios encontrou
A cândida ternura areia e praia.

Por mais que em tentação a gente caia
O pouco do que fomos, mar levou,
Deixando a sensação do nada sou,
Enquanto o sol à tarde, vão, desmaia.

Levaste o que restara da promessa
Do quanto a vida cega nos confessa
Mostrando assim somente veleidade.

Adivinhando o fim da nossa história
A boca deste esgoto merencória
Vomita o que bebera da cidade...



894

A vida preparando uma tocaia
Às vezes não permite que sonhemos;
Nos dias doloridos que tivemos
A sorte se escondendo noutra praia.

Por isso, meu amor, daqui não saia
Amar é com certeza o que podemos
Fazer. Nesse belo mar, pois naveguemos,
Que a lua, enamorada, já se espraia.

Roçando um sentimento mais profundo,
Nem sempre nós seremos mais felizes.
Porém, isto valida num segundo

Distantes desta dor – tocaia grande-
Que o tempo já prepara outros matizes
Mas eu te imploro; amor: tocai a glande!


895


A vida prometendo alguma festa
Estampa o teu retrato na janela,
Entrando como um vento pela fresta
Destino, num momento, em paz se sela

De toda esta saudade que me resta,
Beleza de teus olhos me revela
Que enquanto a poesia em amor gesta
O céu trará imagem sempre bela

Na qual as nossas almas comungadas
Traduzem a maior felicidade
Que pode se querer por sobre a Terra,

Depois da solidão das madrugadas
A neblina tomando esta cidade
O teu olhar, farol, por sobre a serra...



896


A vida proporciona tanto corte,
As ruas se transformam em saudades.
Não posso perguntar sequer à morte,
As dores que trancamos trás às grades...

Quem dera se soubesse a minha sorte,
Por certo saberia essas verdades.
Não há um só momento que reporte
Alegrias não passam, veleidades...

Deitado sobre um barco; vil, lascivo,
O medo me carrega qual serpente...
Meu sangue derramado, rubro, vivo...

Nas lutas que perdi, vou indolente...
Não posso confrontar, me perco altivo,
Na palidez mordaz, vivo doente...

897


A vida quando é feita de combate
No qual encontraremos dura treva,
Somente aos solitários, ela abate,
No peito de quem sofre sempre neva.

Um canto que demonstra uma conquista
Vertido em sensações mais prazerosas,
Ao longe uma esperança sempre avista
Jardim que se decora em belas rosas.

A dor em alegria se converte,
Deixando para trás a sorte agreste,
E a fonte da ilusão em risos verte
Promete recompensa em voz celeste.

Tão força poderosa não se cala,
Nem mesmo a tempestade insana, abala...


898

A vida que atravessa nevoeiros,
Percorrendo infinitas amplidões,
Meus erros cometidos, os primeiros,
Me fazem ser mais ermos corações...

As naves que precisam passageiros,
Envoltas em tempestas soluções
Se deixam carregar sem motorneiros,
A chuva vai caindo aos borbotões!

Onde esperava senso nada mais
Me resta senão lumes contraditos...
A chuva devorando a minha paz,

Me restitui levando a velhos ritos...
Muitas vezes pensei fosse capaz,
De poder conhecer os infinitos...



899

A vida que inebria enquanto fere
Merece tão somente o meu desprezo.
Do quanto que não tenho e que interfere
É na verdade o bem que tanto prezo.

Sorriso cadavérico da imunda
Mulher que se fingira num instante
Além da solidão que me fecunda
O sonho de um momento fascinante.

Morrendo em ironia e sarcasmos,
Gritando em mel o fel que produzia.
Sabendo disfarçar falsos orgasmos,
Aos poucos, tão venal, apodrecia.

Cansado das falácias e mentiras,
Devolvo toda a merda que me atiras...


900

A vida que nos traz
Carinhos sem cessar,
Mostrando ser capaz
Do eterno navegar

No corpo que se faz
Prenúncio de um luar
Amor que satisfaz
Sem nunca maltratar..

Eternidade existe
No amor que a gente tem,
Felicidade insiste,

E toda noite vem,
Não sou, querida triste,
Enfim, tenho o teu bem...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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