Encontrava-te sempre, nestes caminhos onde os encontros são tão calorosos. Então, estendia-te as mãos e alisava-te o rosto, como quem quer partir e ficar nesta confluência traçada a duas mãos e cores mate. São finitos os contornos do meu corpo e apagados os gestos caricaturados em torno da noite. Só as minhas mãos trémulas, segredam aos Deuses os contos levados pela erosão do tempo e confinados a acidentais percursos. Naqueles dias a dor tomou conta de mim e não mais fui eu. Fiz quase sempre um esboço de como te seguir os passos.
(Caminhante nas horas mortas em que morrer será sempre um caminho).
Mas, vivo assim na anuência dos dias, em que partir também é ficar, se me lembrar de novo quem eu sou. Preciso deste silêncio enamorado, em que amar era dialogar sobre um amor presente num corpo guardado. Esqueci-me há já algum tempo, por não ter tempo para nele me contemplar. Estão lá todos os olhares que trocámos, todas as palavras que esboçámos paralelas no tempo, em que fomos tudo o que quisemos.
Eu fui ausência indiscreta, tu permanência concreta.
Tu, foste sempre tu. Eu, fui sendo nos teus olhos a invisibilidade de um único traço.
Como seguir-te os passos? Já nada me prende aqui. Sou só alguém que se perde nas vozes que cala, quando consente, sentindo que as mesmas são só um caminhar contra o tempo. Ouvi-as num choro lavrado em lençóis de linho puro. Esta linhagem que se firma no nosso rosto é grandiosa e esplendorosa, e eu, fixei-me nessa alvura. Há fugas que são um presente em cada esquina dobrada e novos encontros à espera. No cais há segredos guardados de outros tempos.
(Será que amei e não vi que no teu caminho há um porto mais seguro?)
Já fui espinhos nas rosas e essências em brocados fantasiados. Agora sou pétala delicada, onde mora a tristeza. Não me creias nua. Não o sei ser! Perdi-me nessa brancura e desfiz os traços pincelados na minha pele.
(A Voz do Silêncio)