Vendemos tampos…
De cozinha…
Copos de vidro, sacos, talheres…
Migalhas de hoje
Pão de ontem
Homens pobres
Pobres mulheres.
Vendemos triciclos
Parafusos
Molas, brinquedos e detergente.
Futuros incertos, passados tristes…
Vendemos alma, a nossa gente.
Vendemos olhos,
Vendemos lágrimas,
Vendemos sonho,
Vendemos só…
Só de sozinhos,
Ficar sem nada…
Podres quimeras,
Descortesias,
Amores fingidos
Feitos de pó.
Vendemos restos
Restos de nada
Vendemos filmes
Prisioneiros
Vendemos voz
Boca calada
Vendemos nós
Para ficar sós.
Vendemos berlindes
Refrigerantes
Capitais de risco
Beligerantes…
Vendemos hortas
Vendemos terra
Vendemos paz
Compramos guerra.
Vendemos dor
Vendemos culpa
A liberdade…
Filhos da puta…
Vendemos fábricas
Trabalhadores
Compramos fome
E mais cem doutores…
Lambemos feridas
Compramos feiras
Esquecimento
Bebedeiras.
Vendemos tanto
Compramos pouco
Compramos armas
Formamos loucos…
Ficamos céu
Ficamos mar
Desertos de amor
Faros de amar
Ventos de sul
Lajes do norte
Sem lucro humano…
Nascemos mortos!