Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 005

 
Tags:  Marcos Loures Sonetos  
 
401

A minha alma está cheia de alegria
Por que vieste, amor; em redenção!
Passando tanto tempo em agonia,
É bom poder tocar teu coração

E ver que nossa vida, em harmonia
Trará bem mais que simples ilusão.
Será toda a certeza de, num dia,
Viver com toda a força esta emoção

De ser bem mais que sonho, que promessa,
Matando essa amargura tão funesta.
Vem logo, meu amor, eu tenho pressa

De ser feliz. Mereço amor enfim,
Viver em nossa vida; gozo e festa.
Sacramentando amor que existe em mim!
402

A minha alma fechada quer respiro,
O meu berço quebrado diz de farsas
Nos mundos que não vi, resta um papiro,
Charnecas tristes charcos, meus comparsas;

Na sombra que ilumina vou, atiro...
Não me digas licença nem disfarças,
O canto que vasculho, vou, me estiro,
Voando repetis as mansas garças...

A minha alma transmuda-se em concreto,
Inaudita e feroz, nunca se cala...
Amor que me legaste, vai discreto,

O medo caminhando pela sala...
Perdoes por não ter nem mais afeto,
O gosto que me deixas, pus e bala...


403


A minha alma onde está? Pergunto ao vento...
Que teima em me ocultar qualquer resposta.
Na força inigualável, pensamento,
Encontra seus resquícios, morta, exposta...

Minha alma se deixara transbordar
Nos mares dos amores, se perdendo...
As ondas e procelas deste mar,
Aos poucos, meu amor, também morrendo.

Surge no firmamento, raio ardente,
Que treme em singular, rara beleza.
Mudando meu caminho totalmente,
Gravando em fino bronze essa certeza.

Amor que na minha alma se perdeu,
Da própria cinza, em brasa , renasceu!



404

A minha alma te deseja
Numa terna sensação
Tanto amor que já poreja
Até causar inundação.

Alegria tão sobeja,
Vai rodando em turbilhão
Tendo o sonho que se almeja
Trago em mim esta amplidão.

E não posso me calar
Se bebi os céus e o mar
Nos teus lábios sensuais.

Quero repetir a dose,
Sem tristezas que isso glose
Quero sempre e muito mais!


405

A minha alma, tristonha caminheira,
Que há tanto se perdeu qual nau sem rumo,
Naufrágio desta antiga carpideira,
Esvai-se num segundo amargo fumo.

Por mais que o pensamento ainda queira
Beber da fantasia todo o sumo,
A mão desta facínora é ligeira
E perco em desvario todo o prumo...

Assídua e merencória mercenária
Minha alma sem destino, temerária,
Não tendo qualquer porto, segue só.

Corroem minhas pernas, velhos sais.
Em passos sempre trôpegos, boçais,
Retorno ao inerente e inútil pó.



406


A minha boca torta neste ensejo
Pedindo um lábio teu, mas que fazer?
Apenas vou vivendo do desejo
Que um dia talvez trague algum prazer.

O corpo delicado sempre almejo,
Montanhas entre vales perceber,
Amor quando sincero esquece pejo,
E nele, com certeza eu posso crer.

Se o pesadelo traz terríveis serpes,
Pior eu te garanto, amor, essa herpes,
Que volta e meia chega e me incomoda.

Bicudo desse jeito, um belo susto,
O amor que tanto eu quis, no fim eu susto,
Beijar com tal moléstia, amor, é poda
407


A minha companheira tem o brilho
Das manhãs orvalhadas no quintal,
Se no seu canto tanto maravilho
Trazendo tanta luz, puro cristal...

A minha companheira tão viçosa
Robusta com a força lavradora,
Perfume que, emanando, lembra rosa
Certeza de quem sabe, vencedora!

Me dando o mel agreste da vontade
Que sabe bem pedir quanto ordenar...
Fazendo assim total felicidade
Sem medos e segredos, basta estar...

De minha companheira, o sal, sorriso,
O gosto de quem sabe o que preciso...



408

A minha dor ao espalhar seu sal
Estampa no meu rosto esta agonia.
De todo sonho o desamor recria
Imagem de um passado triunfal.

Da taça feita amor, sonhei cristal,
Porém ao perceber, a vi vazia
A solidão que agora propicia
Apenas, dos meus sonhos, funeral

Trazendo em suas mãos, cravos e lírios,
Na tétrica esperança diz martírios
Cevando no meu peito este amargor.

Noctâmbulo fantasma, eu vou sozinho,
Da morte mansamente me avizinho
Caminho que busquei; desolador...



409

A minha inatenção por tantas vezes
Causou-te a sensação de ingratidão.
Depois de tantas dores e revezes
Meu barco se perdeu de direção.
O tempo solitário, dias, meses,
No fundo o que me resta é o coração...

Eu me lembro do dia em que perdi
O rumo nesta estrada tão complexa.
Estava tão distante que nem vi
A tua imagem bela, em mim, reflexa.
Agora que percebo estás aqui.
A minha vida corre desconexa...

Neste quarto silente nada vejo
Senão a mão em preces, em desejo...



410

A minha maldição, julgava esparsa.
O tempo adormeceu tal tempestade.
Maldita seja então toda essa farsa,
Triste vulto enlutado na cidade...

Não tem sequer amigos. Um comparsa
Surgindo dessas sombras, causa alarde.
Num tempo, se fazendo tragifarsa,
Só deixa a sua marcas de maldade...

Quantas horas passadas sem prazer,
O templo da esperança foi queimado...
Quem sonha com momentos de lazer,

Num átimo percebe estar errado...
Nas sombras da maldita vou viver.
A maldição ressurge do passado!


411

A minha mão buscando no teu seio
Calor tão desejoso de prazer,
Procura nesta mina o rico veio
Que com certeza doura e faz perder

O rumo, meu juízo e minha sina,
Nestes carinhos loucos, tal riqueza
Que vem destas entranhas desta mina
Que leva nosso amor qual correnteza.

Espero o teu amor a cada instante
Vasculho nas paredes desta gruta,
Os traços tão sutis do diamante,
Polindo, com carinho, a pedra bruta.

Eu sei do nosso amor banhado em ouro,
Começo a achar o mapa do tesouro...



412

A minha mão passeia calmamente,
Buscando tocar todas reentrâncias,
Eu sinto esse desejo, mais urgente,
De conhecer molejos e cadências.

Sorvendo todo líquido fervente,
Que põe no nosso amor as evidências
Que poderás gozar, tão de repente,
Sem conceder sequer qualquer clemência...

Eu quero teu suor e teu sorriso,
Nas salivas trocadas; as delícias.
Teu prazer é tudo o que eu preciso.

Suave viajar dessas carícias,
Orgasmos delirantes, sem aviso...
Meu amor, por favor, me dê notícias.


413


A minha mão procura simplesmente
Macio porto envolto em tal loucura
E quando te encontrando se assegura
Do todo que deseja, e nada mente

Ainda que a saudade se apresente
E o todo se traduz numa amargura
A vida se transforma e com ternura
O mundo se transforma plenamente.

Assisto ao quanto pude num segundo
E todo este desenho onde me inundo
Presume a mais feliz coincidência

E sei de tanto amor aonde eu pude
Rever a minha ausente juventude
E desta luz imensa ter ciência.


414

A minha mocidade tão distante
Rolando nas lembranças, sem parar
O tempo nunca pára, vai constante
Passando e transformando faz voar...

Quem dera ter o gosto do teu beijo
Na boca que murchou, pele enrugada...
Porém nunca morreu o meu desejo,
O de poder te ter, ó minha amada...

Passamos tanto tempo na procura
Do bem que alimentou a juventude
Amor que se banhava na ternura
Amei, vou ser sincero, mais que pude...

Das forças que já tive, quer renovem
A vontade de ser, p’ra sempre jovem...


415

A minha noite vira um triste enfado,
O que pensei ser meu não me pertence.
Olhando para as sombras do passado
Amor já não me toca e nem convence.

O coração se enfurna, amargurado,
A solidão inútil já me vence,
Saudade vem chegando pro meu lado,
Amor um espetáculo circense

Fazendo de palhaço quem amou,
O jeito é me entregar completamente,
Contando cada caco que restou.

A vida se transforma tolamente,
E mata em nascedouro uma esperança
Apenas solidão, cruel me alcança.



416

A minha pele sente este calor
que vem do corpo quente da mulher
a quem eu me entreguei em pleno amor,
e sei que tanto bem, assim me quer.

Delírios sensuais em nossa cama,
nudez exposta e boca mais sedenta
ardentes sensações de brasa e chama,
paixão que nos devora, violenta.

Nos corpos e nos copos, brindes, vinhos
em toques mais divinos e tão gostosos,
as mãos, vãos percorrendo, teus caminhos
até que explodam fortes, doces gozos.

Assim ao atingirmos perfeição,
sentimos, nesse amor, um turbilhão...



417

A minha sina é te amar
Menina maravilhosa
Coração a vicejar
Vai batendo todo prosa

Esperando te encontrar
Numa noite glamourosa
Debruçando no luar
A beleza desta rosa

Que nasceu no meu canteiro
Que me fez feliz assim.
Teu amor foi o primeiro

Que bateu dentro de mim,
Deixa eu ser o jardineiro
E cuidar deste jardim...



418

A minha vida é cigana
Entre sonhos e carícias
A saudade não me engana
Vai morrendo sem notícias.

Da mulher que é mel e cana
Os carinhos e delícias.
Deita à lua soberana,
Seu sorriso diz malícias

Cavaleiro enluarado
Vou bebendo cada estrela
O meu céu foi constelado

Hoje traz escuridão,
Mal começo a percebê-la
Perco logo a direção...


419



A moça ao dar volteios por aí
Deixando um cavaleiro a ver navios
Mexendo com seus sonhos e seus brios
Expressa noutro verso o que eu perdi.

Assim como pensara ter em ti
Os olhos entre brilhos, meus pavios.
Os dedos que são escorregadios
Distantes da ilusão que descrevi.

Agora a lua imensa acaricia
Apenas o raiar da fantasia
Ausente da expressão que me guiara.

A dama e seus corcéis vagando à toa,
Seu canto em plena noite inda ressoa
Cevando com sorrisos cada escara...


420


A moça ao encontrar novo parceiro
Mostrou-se mais audaz, isso me encanta
Enquanto a fantasia outrora tanta
Não deu sequer o brilho no tinteiro.

Acende com vontade, belo isqueiro
Que a cada novo verso se agiganta
Mudando o seu destino, amor suplanta
As ondas, como fosse um bom saveiro.

Olhando este cenário, o trovador
Que um dia se fez tolo, enamorado,
Vencido pelas setas deste amor

Agora se escondendo amortalhado,
Já sabe como é bom poder compor
Um verso sem juízo, transtornado...



421

A moça da janela, carolina,
Agora virou simples periguete,
O que fazer, Meu Deus, desta menina,
Que um dia decidiu virar chacrete.

A fita em vídeo teipe rebobina,
Mantendo como fundo este chiclete,
Cachorra deixa marca numa esquina,
Não vou jogar sequer mais um confete.

A bela foguetinha quer o Créu,
Rebola até o chão, a popozuda.
Bolada, toda a turma inda saúda

Termina com certeza no motel,
Com tanta periguete por aí,
Fenômeno é dormir com travesti...



422


A moça desejava um marombeiro
Porém o que chegou, quase um fiasco,
Não sendo mais que um simples, frágil frasco,
Nadava nos cifrões, tanto dinheiro.

O amor que se mostrou foi verdadeiro
Depois de certo tempo, roto o frasco,
A moça já não tinha nem mais asco.
Acostumada estava com meu cheiro.

Se ela me quer ou nada disso sente,
Já não reclama mais do continente
O conteúdo basta, ela me diz.

Não sei e nem desejo ter resposta,
Se a gente na verdade não se gosta
Importa depois disso, é ser feliz...


423

A moça desfilando desafina
E mostra em suas pernas tatuadas
Vestígios de varizes disfarçadas
Mantendo sua pose, sempre fina

Detalhe em celulite que azucrina
Permite se falar em derrocadas,
As coxas entre luzes garimpadas
Do velho sedutor extingue a mina.

Nas modas entre rodas de fofoca
Mentira que em falácias já pipoca
Expressam a temível realidade.

A vaca que se expõe neste leilão
Alcança sempre a cifra que em milhão
Humilha quem procura a liberdade...


424


A moça desfilando pelas ruas,
Nariz empinadinho, e minissaia
Depois de certo tempo bebe luas
Caindo já de boca na gandaia.

Dizendo baboseiras em inglês,
A bela patricinha vai se achando,
Falando babaquices em francês
No colo de um maurício se acabando.

Rainha da cocada, ela se sente.
Não pode ver mendigo ou indigente
Que logo vai mudando de calçada.

À noite se derrama na boate,
No carnaval se entrega num iate;
Chegando em casa às seis; vem da balada...

425


A moça diz com força “ou mato ou morro”
Eu fico pasmo vendo a convicção
De quem sem nem pedir algum socorro
Espalha a sua voz de furacão.

Depois ao procurar um velho gorro
Que o vento carregou pra plantação,
Presente de mamãe, tem belo forro,
É coisa da maior estimação

Eu vi no matagal esta donzela
E um baita de um sujeito em cima dela
Fazendo a mais incrível sacanagem

Depois de certo tempo eu percebi
Que o mato que ela disse é logo ali,
O morro fica além, noutra paragem...


426

A moça faz com moço um bom dueto
A ursa tem no pau seu complemento
Deu tênia na barriga do jumento
Que morde com o rabo todo o gueto.

A soma desses dois mata o soneto,
Risível palhaçada neste intento,
Enchendo a paciência. Mas lamento
É tanta incompetência, vadre reto!

Depois vem me falar que toma tranco,
Se cai a cada frase de um barranco
A bunda não é minha, que se dane...

Descerebrada dupla se completa
Formando uma figura tão abjeta
Provando que o talento entrou em pane...


427

A moça faz da noite o ganha-pão
E deixa pelas ruas seus pedaços.
Vencendo em teimosia, seus cansaços
Andando quase sempre em contramão.

Procura por estrelas pelo chão
Não vendo nem resquícios, segue os passos
Do sonho que pensara ver os traços
Aos poucos só encontra a negação.

E tudo o que queria é ser feliz!
A fé de quem jamais desistirá
Sabendo, na verdade desde já

Que a curva se repete. Amor desdiz.
No corpo da bonita meretriz
A lua não reflete. Brilhará?



428


A moça fez a feira na segunda
E trouxe uma cenoura para casa,
Brincando calmamente adentra a bunda
E deixa esta fornalha quase em brasa.

O gozo de quem sabe e se aprofunda
Correndo vem depressa e não se atrasa.
Pois quando em puro leite ela se inunda
Fazendo mil requebros já se abrasa.

A dona dos quadris virando os olhos,
Pedindo que te chupe traz os molhos
Mistura jurubeba com cachaça

Caçando enquanto vira fácil caça
Rebola engole a bola e já me esfola
Em tanta sacanagem faz escola.


429

A moça mal percebe que a tristeza
Demonstra que a saudade representa
Paixão que se mostrando violenta
Derrama mil sabores sobre a mesa.

A noite se decora e, com certeza
Em louca fantasia se apresenta
Trazendo à sonhadora uma tormenta,
Derrubando sutil qualquer defesa...

Amiga, eu te desejo boa sorte,
Não quero que tu sofras. É inútil.
O coração tão tolo deste fútil

Não pode macular, mudar teu norte.
Mas creia que aqui torço pra que tenhas
O amor que te incendeia em frágeis lenhas....



430

A moça manda um beijo
Olhando para os lados
Pensando noutro queijo
Com pés desengonçados

Amor que sem traquejo
Traz olhos bem vendados
Vencendo os seus desejos
sonhos prejudicados...

A moça faz de conta
Que nada percebeu
Andando sempre tonta

Mergulha noutro breu.
De novo a moça apronta
parece que bebeu...



431


A moça perebenta do quintal
Que nunca foi deveras tão mineiro,
Agora dança nua no varal
Motel, lugar comum e corriqueiro.

Manchete costumeira do jornal,
A rosa sem espinhos perde o cheiro.
Revela-se durante o carnaval,
Atola uma esperança em tal barreiro.

E viva a mocidade que não veio,
A velha juventude exposta e nua
Suave transparência mostra o seio,

E as saias levantadas, fazem festa.
Olhando já sem crer, a velha lua,
Se esconde avermelhada na floresta...


432



A moça quando entende do riscado
Faz sempre o coração bater depressa,
E tanto amor que traz sem ser promessa
Já deixa o cidadão apaixonado.

Por isso é que eu aceito de bom grado
O amor que esta moçoila me confessa.
Não tendo pra morrer nenhuma pressa
Eu quero o que sobrar a ter ao lado.

Dançando toda noite este forró,
Jamais terminarei meus dias só,
Somando cada noite, eternidade...

Vencer os meus complexos e temores,
Nas pernas o desejo em mil tremores,
Depois a mais completa saciedade...
433


A moça que comigo se encontrava,
Bonita e tão faceira, deu um nó,
Minha situação assim se agrava
A filha do danado deste Jó

Numa gargalhada lancinante
Mostrou por sob a saia um longo rabo,
Aquela moreninha deslumbrante
Queria, na verdade era dar cabo

Daquele que se fez amante e amigo,
Ao libertar a moça, perco o céu,
Sem ver qualquer sintoma de perigo,
A filha do safado coronel

Ao aprontar comigo essa falseta
A menina era esposa do capeta!



434

A moça que queria aparecer
Em tantas fantasias se mostrou,
Após gozar com puto do poder
Já diz a todo mundo: não gozou.

Em busca de dinheiro, quero crer,
A roda; presunçosa ela espalhou,
Da porra se fartou, até saber
Que dela outra mulher já desfrutou.

A vítima, coitada, agora quer
Vingança contra aquele que fedeu
Honrada e tão benquista esta mulher,

Que um erro eu nunca faça nem cometa,
Problema é todo dela, não é meu;
Só sei que ela alugou sua tarjeta

435

A moça que se faz desentendida
Parece que carrega na barriga
Um deus. Eu não suporto tanta intriga
E quero não problema e sim saída.

Por mais que a gente sonhe, a convencida
Fingindo ser – quem sabe? Minha amiga;
Coçando esta vontade como urtiga,
Não sei o que fazer de minha vida.

Mergulho no vazio e quebro a cara,
Quem tenta ser feliz se desampara
Se tem a porta assim, já tão fechada.

Eu sei que ela faz doce e na verdade,
Pensando ser a dona da cidade,
Se não for toda minha, tá com nada...


436



A moça que vivia amargurada
Olhando da janela de seu quarto,
Não via que esta noite enluarada
Trazia um principesco nu e farto.

O pobre descansando na calçada,
Refletia na poça o seu retrato,
A moça sonhadora, enamorada,
Guardava para si o seu recato.

Porém, não vendo o príncipe pensava
Que amor que um dia teve não voltava.
Vendo na poça d’água reles trapo

Gritou e se assustou com o que viu.
E fechando a janela despediu,
Xingando aquele horrendo e pobre sapo.


437

A moça tão bonita,flor e riso,
Sabendo quanto pode conquistar
O coração que sonha com o amar
Partiu na nuvem clara, sem aviso.

Os olhos tão grisalhos de quem fica,
Mortificada história sem remédio,
A vida vai passando em duro tédio
A dor que maltratou não edifica...

Porém ao fim da tarde, ouvindo a voz
De quem se foi há tempos, mas voltou
O rio encontra agora a sua foz

No mar feita esperança, se entranhou.
Fazendo da alegria a sua senda,
Mistérios deste amor, Amor desvenda...


438


A mocidade goza seu segredo!
Quem sabe não seria a minha conta...
Os ventos nunca deixam o arvoredo,
A lua embevecida anda tão tonta.

Futuro se escondendo traz o medo,
O rastro que deixou de novo aponta
A ponta mais feroz deste torpedo.
A vida se desnuda numa afronta

Lembrei dos velhos tempos de menino,
Sem saber encarava meu calvário...
As orquestras fingiam um novo hino

Espalhavam meus sonhos pelo mar...
Meu bisonho e decrépito fadário:
Aprender conjugar o verbo amar!

439


A morena mais guapa dos rincões
Distantes. As coxilhas maviosas,
Fazendo dos meus versos mil canções
Espalha pelos pampas rubras rosas.

Cevando com ternura, as emoções
Que mando aqui das belas alterosas
Estâncias lá do Sul, em vanerões
Dançamos as paixões mais gloriosas.

Se eu trago na guaiaca estas lembranças
Em farta provisão, meu embornal
O amor com valentia de bagual

No peito de um mineiro faz andanças
Eu quero teu querer e sem embargo,
Bebendo em tua boca um bom amargo...


440


A mortandade segue amarga, amena,
Calando todo sonho mais piegas
A boca que me beija e me envenena
Caminha em noite imensa, sempre às cegas.

Egrégio de outro tempo; eu vejo tudo
E novamente omito o que hoje sinto.
Seguindo o mau caminho, sigo mudo
Em trevas o futuro agora eu pinto.

Aceito tão passivo tais verdades,
Na faca que se aponta numa esquina
Os olhos vão negando as claridades
A podre sensação já descortina

O amor que não devia ser assim,
Matando o que inda resta dentro em mim...


441

A morte, minha esquálida parceira,
No beijo que tortura pede lábios...
Fugindo deste vulto a vida inteira,
Perdendo meus caminhos, astrolábios...

Vencido postergando esta videira,
Não posso disfarçar amores sábios...
Procuro por vingança a companheira,
Jamais encontrarei nos alfarrábios

Nos livros de magia ou de presságios.
A morte não permite tais saídas...
Nos olhos, nos momentos, nos adágios,

Pedágios que pagamos, nossas vidas...
Não posso pressupor, isso alucina...
A morte qual a vida é luz divina!


442

A morte ao adentrar meu quarto escuro
Bebendo cada gota deste gim,
Preconizando em lágrimas meu fim,
Enquanto de meus erros me depuro.

Cansado de cevar um chão tão duro,
Sorrio neste instante e sinto enfim
Em flórea maravilha o meu jardim
O término das dores, eu auguro.

Os olhos faiscantes num momento
Prevendo que se encerre o sofrimento
Vislumbram de uma treva, um bom farol.

No funeral dos sonhos, finalmente,
Um dia nascerá iridescente
Da vida tão sombria, a morte é o sol!



443

A morte chega cedo a quem não ama
E mente pra si mesmo, temerário.
Deitado no curral, exposto à lama,
Vivendo o que temera, sem horário.
A sorte solitária não reclama,
No peito que morreu, um relicário.

Ao visto necessário para o riso,
Amor como um sentido além da vida,
Por mais que num amor se perca o siso
É nele que se encontra essa saída
Aberta para eterno paraíso,
Numa escalada mágica e sentida.

Morrer em vida assim é mau presságio,
Cuide então desse amor, embora frágil...



444


A morte da esperança, em primavera
Se faz a cada instante, sem talvez.
Resíduo do que fora a minha espera
No tempo que se foi sem ter nem vez.

A sorte que não veio, a dura fera
Tomando o meu sentido em triste tez,
A dor que sem sorrisos, degenera
Um pouco a cada dia, a cada mês...

Mas nada me tocou, nem mesmo amor,
Sou resto do que nunca havia sido.
Agora, minha amada, ao teu dispor,

Bem sei que voltarás em meu inverno,
Depois de tanto tempo, nada, olvido...
Meu braço te recebe, sempre terno...


445


A morte derramando o seu caudal
Na carne envelhecida, agonizante,
Tomando toda a sorte neste instante,
Lateja no segundo mais fatal.
Estrelas derramadas num bornal
Do sonho destruído, vil, farsante.

Vassalo de imbecis desejos tolos,
Riquezas e nobreza não carrega.
Adubo que renova sujos solos,
Ao nada perfazendo sua entrega.
Mulheres e carinhos... outros colos;
Aos vermes e bactérias já se apega...

A morte beija a boca, costumeira,
Amante mais voraz e derradeira...


446

A Morte, dos meus olhos se aproxima...
O Verbo que me fez já não me acena...
A vida que é de Deus sua obra prima,
Qual melancólica atriz sai de cena...

Permito-me rever Palas Atena,
Viver é conceber tanta auto estima,
No fundo não querer ter medo ou pena...
A morte com a sorte, pobre rima

Os sofrimentos lesam e não saram,
Amores que já tive, desvanecem...
Meus olhos, os espelhos não encaram...

Abismos se aproximam formidáveis.
As dores e os amores infindáveis,
Nas ondas deste mar se desvanecem...


447


A morte em redenção virá em breve
Na luz que tantas vezes, cega impura,
O vento deslumbrando tal ventura
Trará ao pensamento frio e neve.

Por mais que uma esperança, tola ceve,
A mão da realidade nos tortura,
A liberdade morre em plena agrura
Amor em perfeição? Meu sonho em greve.

Fervendo olhares tolos, primitivos,
Medonhos meus delírios são cativos
Da falsa pedra em lume cintilante.

Na rua da ilusão, bosque em queimada,
De vidro cada estrada ladrilhada,
Tomando as tais pedrinhas de brilhante...



448

A morte em sedução ora se empresta
Deixando o verso amargo e sem sentido,
O tempo de sonhar vai esquecido,
Apenas solidão decerto, gesta.

A boca que se beija em vão, funesta,
Meu riso aos poucos segue distorcido,
No corte aprofundado, desvalido
O fim que se aproxima já me atesta

O quanto é necessária uma esperança
Ao menos que permita ancoradouro
Enquanto a vida esvai, amor ancora.

Trazendo pelo menos temperança
Num sonho mesmo tênue em nascedouro,
A paz que num momento se assenhora.



449

A morte emoldurando a dura tela,
Fagulha que incendeia em agonia.
Enquanto a solidão inda bramia,
O tempo se perdeu sem rumo ou vela.

Alento derradeiro que revela
O quanto foi enorme esta sangria,
O amor em força insólita recria
A falsa sensação de alma tão bela.

Jazendo estes escombros do que fora
Guardados qual relíquias. Tola imagem.
A morte profanando esta paisagem

Em luzes mesmo opacas, já decora
Com flores quem cevou tantos desertos,
Os olhos do defunto estão abertos!



450

A morte me sorria, linda, loura...
Estava angustiado à sua espera!
Meu tempo de viver cedo se estoura,
Não quero perceber sequer a fera...,

Esperava-te, morte redentora!
Perambulava à beira da cratera,
Vulcânica cratera, salvadora!
Da vida, chave d’ouro que tempera...

Nas minhas derrocadas, das batalhas,
Foste esperança trágica vitória!
Repousar meus defeitos, minhas falhas,

Na tua boca amiga, minha glória!
A morte, companheira mais fiel,
Vem, fechando as porteiras do bordel!


451

A morte não escolhe quais os panos
Que cobrem o cadáver, com certeza.
O luto que promete desenganos
Tecendo com justiça a natureza.

Distante do que foram outros planos,
Igualitária morte em sutileza
Ao corrigir da vida seus enganos
Ao pó nos tornará, sem dar defesa.

Quando a vida é feita em alegria
Permite num sorriso, a redenção
Alçando na amizade e no perdão

A plena sensação que assim viria
Arrancando dos pés qualquer grilhão,
Trazendo enfim a tal libertação!


452

A morte, nos meus sonhos, engatilho
Tornando a tempestade bem mais breve,
Sem ter a poesia que me enleve
Perdendo há tanto tempo rota e trilho.

Não vejo no momento um empecilho,
Nem mesmo a fantasia já se atreve,
A vida se tornou bola de neve
Deixando para trás velho andarilho.

Querências tão diversas se perdendo
Nas nuvens que solúveis nem mais chovem,
Sem ter as esperanças que desovem

Os rios da ilusão estão morrendo
E a seca se espalhando em arrebol,
Quem quis ser arquipélago, hoje atol....



453

A morte, o bem supremo que inda resta
A quem durante a vida só sonhou.
Jardim no qual a seca desandou
Apenas os abrolhos; inda gesta.

Janela se fechando sem ter fresta
Castelo de ilusões já desabou,
A boca que me morde é indigesta
O tempo em armadilhas revoltou.

Agarro uma esperança em furacões
Tentando vislumbrar as soluções,
Porém não tendo nada em arrebol,

Da tábua imaginada em tempestade,
Ao ver com ironia em claridade,
Deparo tão somente com anzol...



454


A morte prometida dos amantes
Barbárie sem motivos nem sentido.
Os raios deste sol são deslumbrantes
E trazem na memória, todo olvido.

Eu minto se te digo que não sonho
Com tramas que vieste me enganar,
Urdido por palavras mas risonho,
Não temo sequer medo de te amar.

Mas quero o teu amor sem ter a morte
Somente uma emoção bem mais feliz.
De tudo que não tive, sei a sorte
E toda a grande sorte, o que mais quis.

Eu amo teu amor assim sem rumo;
Da vida que me dás eu bebo o sumo...

455



A morte que espreitando na tocaia
Faz festa com meus olhos taciturnos,
Recebo os teus carinhos mais soturnos
Na solidão imersa já se espraia

A lua que levanta a sua saia
E mostra nas virilhas, cais noturnos.
Revezo no seu corpo vários turnos
E bebo da argentina antes que saia

Desnuda pelos bares da cidade
Serpenteando nua meretriz.
Nos vícios mais infames, companheira.

Amada se tu fosses minha lua
Terias a magia desta rua
Exposta e sem vergonhas, verdadeira...


456

A morte que me beija em pleno tédio,
Negando o que talvez ainda houvesse
Além deste caminho em que se tece
O quanto se pensara ser remédio.

Por mais que a gente tente um novo mote,
Sem preces, obedeço ao sentimento
Que mata com ternura e num momento
Explode arrebentando casa e pote.

Ao ver a tua imagem num anseio,
Revivo novamente este dilema,
Por mais que um passo livre já se tema,

A casa desabando sem esteio
Demonstra quanto é forte a correnteza
Matando uma esperança, de tristeza...



457

A morte que se dá na mocidade,
Deixando os corações quase descrentes
A fome de vingança em nossos dentes
Sonega o que restou de claridade.

Apenas o vazio, dura herdade,
Legando a quem virá os penitentes
Momentos que se foram, descontentes
O medo de seguir agora invade.

Que vale o Paraíso sem poder
Usufruir da vida algum prazer,
Trazer os olhos vagos, sem destino.

A cova que se abrindo aos nossos pés,
Qual barco naufragado. No convés
Da vida me perdendo em desatino...



458


A morte se aproxima intensa e violenta
Calando tanto sonho em mar tão revoltoso..
De tudo o que queria, um mundo mavioso,
A vida não me deu, mas minha alma acalenta

Esperança divina. A luta que se enfrenta
Por um tempo feliz, um mundo generoso,
Desfaz-se no meu peito, amargo e venenoso!
O fim de inútil luta, a lágrima arrebenta.

Do pouco que me resta , eu busco meu prazer,
Não tenho, na verdade, o medo de morrer.
Bem sei do meu final. Mas quero as alegrias

Do riso de criança escondido no peito.
Do gozo tão sincero, enorme e satisfeito!
Da vida? Nem um dia! E de vida, plenos dias!


459

A morte se aproxima, agora sinto
O vento em temporal anunciando
O fim deste tormento em que me abrando
Deixando o que pudesse ser extinto.

Meandros tão diversos de um caminho
Que leva à mais dispersa realidade.
Meu vinho se avinagra e a qualidade
Dos sonhos se perdendo em burburinho.

Arrefecendo em tréguas tal batalha
À qual já me entreguei em outras eras
O corte se aprofunda e da navalha
As hordas de fantasmas viram feras.

Sinérgicas estradas se confluem,
Sem ídolos nem ritos que cultuem...


460


A morte se fazendo anunciada
Espreita de tocaia e dá seu bote,
Cansado de beber do mesmo pote
Não vejo no final, sobrar mais nada.

Um vago que caminha em fria estrada,
Repito e não me canso o duro mote,
Espero uma alegria por rebote,
Porém a sorte segue enviesada.

Nas folhas todas brancas do passado,
O vento quando vem é mais gelado
Herança que ao final tu me legaste.

Sem ter sequer um resto de ilusão,
Partindo tão somente deste não;
Às vezes eu me sinto feito um traste.


461

A morte se tornando o meu anseio
Inspiração suprema e mais perfeita,
No quanto em amor pleno já descreio
A trama feita em sonho está desfeita.

Outrora intempestivo e sem receio,
Agora uma amargura se deleita
De toda uma alegria sigo alheio
A solidão me aguarda em fria espreita.

De tudo o que pensara ter no mundo,
Um sentimento amargo e tão profundo
Deixando a minha sorte abandonada.

O céu que me iludira, imaginando,
Em tétricos sonhares desabando
Mostrando o que retrato, sempre o nada.



462

A morte soberana toma a cena
E deixa todo mundo em polvorosa,
Rainha que se mostra presunçosa
A cada novo dia mais se acena.

E mesmo que distante me envenena
Espinho sobrepõe-se sobre a rosa
Usando esta coroa, caprichosa,
Aponta a sua cara, dura, amena.

Reinando sobre todos, solitária
A face em que se expõe, terrível, vária
Espelha tal terror que cedo espalha.

Tocando com seus olhos cada ser,
A morte no final irá vencer
Não perde e nunca foge da batalha...



463

A morte sorrateira vem e avisa
Do pote que quebrando perdeu mel.
A boca em que se deu outrora um céu
Agora desdentada segue lisa.

Bolor que nossa cama aromatiza
Traduz o vento manso, até cruel.
Cabelos empapados pelo gel
O gol do campeonato se reprisa.

Malemolências? Nada. É só preguiça
O carro da esperança quando enguiça
Nem mesmo reza brava. Pois; danou-se.

Há tempos que sei disso e nada falo,
Engulo tanto em seco que me entalo.
A vida já perdeu o que era doce...



464


A morte talvez seja a solução
Que tanto procurei durante a vida,
Veredas tão distantes, negação,
A estrada em descaminho, a mais comprida.

Das serras e montanhas ao sertão,
A sina com certeza a ser cumprida
Impede que se sonhe e na ilusão
O beco substitui uma avenida

Olhando os meus fantasmas eu percebo,
Inúteis os delírios de um menino,
O fardo mais pesado que eu recebo

Traduz cada retalho da esperança,
E enquanto a fantasia eu assassino,
Preparo pros meus filhos, minha herança...



465


A morte, companheira mais dileta,
Deitando em minha cama, pede abraço.
E cerra com meus dias, forte laço,
Se torna derradeira e predileta.

Não tenho nessa vida, uma outra meta
Que trague novamente um bom regaço.
Seguindo calmamente passo a passo,
No fim da dura estrada me completa.

Das coisas que da vida levarei,
Encantos e quimeras, dor e fado.
Perdendo depois tudo o que ganhei,

Morrendo simplesmente sem passado.
Meu nome restará em desabrigo.
Apenas nas lembranças de um amigo!


466


A morte, minha esquálida parceira,
No beijo que tortura pede lábios...
Fugindo deste vulto a vida inteira,
Perdendo meus caminhos, astrolábios...

Vencido postergando esta videira,
Não posso disfarçar amores sábios...
Procuro por vingança a companheira,
Jamais encontrarei nos alfarrábios

Nos livros de magia ou de presságios.
A morte não permite tais saídas...
Nos olhos, nos momentos, nos adágios,

Pedágios que pagamos, nossas vidas...
Não posso pressupor, isso alucina...
A morte qual a vida é luz divina!

467


A morte, solidária companheira,
Ressona, calmamente, no meu quarto...
Cansado, procurando seu retrato,
A vida se esvaindo em corredeira...

Quem me dera poder saber inteira,
Deitada, descansando, senso lato,
Comendo, desfrutando o mesmo prato...
A morte principal lema e bandeira.

As carícias que peço, sem demora,
O seu manso sorriso, triste embora,
O que resta de tantas tempestades...

Vencido pela atroz lassidão, morro...
Descalço, vou pedindo seu socorro.
Na morte, encontrarei felicidades!

468


A multidão caminha ainda cega
Distante de teu claro ensinamento,
Quem à riqueza em vida já se apega
Condena seu irmão ao sofrimento.

A vida não se dá pra quem se nega
É muito mais que um simples, bom momento.
O pensamento livre assim navega
E vence qualquer forma de tormento.

Vieste para nós e para tantos,
Na forma de Jesus ou de outros santos
E nisso, meu amigo, tantas vezes

Pastores confundindo suas reses
Querendo ter maior autoridade
Denigrem o sentido da amizade.



469

A Musa já sem blusa em belo seio
Na pele bronzeada bebe a praia,
O vento vem chegando e sem receio
Levanta, expondo as coxas, sua saia.

A vida me virando assim do avesso
Entranha em minha pele; incorpora a alma
Voltando novamente recomeço
Somente esta semente, amor, me acalma.

No corpo da delgada bailarina
Enteso esta vontade insaciável
Um passo delicado me domina
No amor que se deduz interminável

Amáveis fantasias, redenção
Amor em verdadeira infestação.



470

A musa que me inspira, com certeza
Conhece muito bem os meus defeitos,
Meus dias normalmente estão sujeitos
A terem no final, uma surpresa.

Por mais que tente amar, sem ter destreza
Enganos deixam sonhos contrafeitos,
Adoço a tua boca com confeitos
Depois sem ter cuidados viro a mesa.

Joguete das paixões, o coração
Coage enquanto sofre um desafio.
Nos motes que profiro não confio

E vendo tão somente uma ilusão.
Colhendo cada espinho invés da rosa,
A vida se escorrendo caprichosa...



471


A Musa que num sáfico romance
Se entrega destemida e mais audaz.
Percebe a maravilha de um nuance
Que traz felicidade e satisfaz.

Homérica vontade: ser feliz.
Em conchas repartidas, mar imenso.
A Musa desta Ninfa colhe o bis
Pensando noutro Phebo mais intenso.

As águas caudalosas vertem rios
Que invadem em cascatas, as montanhas,
Adoçam, aquecendo mares frios
Trazem fertilidade pr’as campanhas.

E assim destes fluidos derramados
Os mundos se tornando povoados...



472


A Musa tão safada quis o fado,
Eu sei ser enfadonha a poesia,
O vento que sem vento foi “lufado”
Fartura na fatura não se via.

O que pensei talvez ser de bom grado,
Já segue degradado sem a guia
Que aguando desde sempre não cumpria
Destino em desatinos enfronhado.

O pássaro canoro desafina
Se adoro ou descompenso, sou avesso.
No beco da ilusão, tolo tropeço

Na prancha eu me esqueci da parafina,
Só quero poder ter parafernália
Que fale das anáguas desta dália....



473

A Musa, traiçoeira, escolhe como e quando
Surgir em minha vida. O vento já trazia,
Ao mesmo tempo, vai. Nenhuma poesia!
E toda a fantasia, esvai-se como em bando.

Mas antes que esta Musa espalhe-se, voando;
Espero que consiga um pouco de alegria:
Fazer um verso manso a quem se prometia.
A vida se transcorre e o dia vai passando...

Pois bem querida amiga; o verso? Vou tentar!
Não sei se falo em sol, do mar ou do luar.
Mas te prometo um canto, a Musa anda invisível...

Luzia é gloriosa, guerreira sem igual,
No amor me trouxe rosa. Na vida, carnaval.
Desculpe-me, querida. Sem Musa, é impossível!


474

A música encantada da amizade
Ecoa no meu peito como prece,
Garante em meu viver, tranqüilidade
E sinto que este amor por ti já cresce.

Eu sei que não consegues discernir
Amor dum sentimento bem mais nobre,
Por isso venho aqui para pedir
Que saibas que o que sinto já me encobre

De uma alegria imensa e benfazeja
De ter essa emoção encantadora,
Meu corpo te procura e te deseja
Minha alma já te sabe redentora.

Tu és bem mais que simples companheira,
És minha amada amiga, a verdadeira!




475

A música me toma como o mar
Trazendo para os versos uma estrela.
Estrela que pensei tanto encontrar,
Na noite e no mar, estrela bela...

Meu peito que se inunda do teu canto,
Nas ondas dos meus sonhos, sem quimeras.
Vertendo tais miragens, meu encanto.
Recebe a solidão, vigor de feras...

Vibrando em mim palavras mais doídas,
Navio que se naufraga sem ter bóia.
Fugindo dessas dores, a saída,
Encontro no meu peito, clarabóia...

Imerso em convulsivas emoções,
Trazendo deste mar, as sensações!


476

A música que guia os passos meus,
Levando ao libertário pensamento,
Aproxima-me aos poucos deste Deus
Silenciando assim, dor e tormento.

Se os dias que passei, loucos, ateus
Trouxeram ilusões; o sofrimento,
Das luzes como herança; trevas, breus,
A redenção e a paz, agora eu tento...

E vejo tão somente uma saída
Que possa transmudar a minha vida
Revigorando assim a imensa luz.

Traduzo nos meus versos a verdade
Que trama esta alegria que me invade:
Presença soberana de Jesus...


477

A música repete sentimentos...
No crescendo voraz, aumenta o pranto,
Não pude nem pedir um outro canto,
A vida não deixou sequer momentos...

Não quero nem sorver os teus tormentos.
Paro, penso, reflito e me levanto.
As horas que se passam, novo encanto...
Devagar fui procurando elementos

Que permitissem sabres e bastões.
Que me salvassem dessas podridões,
Que não sorvessem luz nem dessem trevas...

A seiva sanguinária foi letal.
Não quero transformar num carnaval;
As dores que me deixas quando nevas...

478


A música tocando, traz saudade...
Partiste em um aborto tão insano...
Deixaste tanta coisa, frágil plano;
A vida se perdeu... Diversidade,

Contraste entre a mentira e a verdade...
A música tocando, tanto engano...
Os restos de poeira que eu espano
Do coração, darão a liberdade!

Maliciosamente me deixaste,
Sabias que jamais te esqueceria...
A alegria banal que tu roubaste,

Deixou esse embornal de sofrimento...
A música tocando, traz Maria,
As notas espalhadas pelo vento...


479

A natureza amada aguarda a traição...
O século consome a boca desta amada.
Num cataclismo louco espermas da ilusão
A vida adormecida esvai-se, magoada...

A morte da natura eterna e sem perdão,
Renova-se na podre ação desenfreada
Daquele que, por Deus, seria o guardião!
Na flora que se acaba, a vida destroçada.

Já vai, agonizante, empresta a tal cenário
A face da desgraça. Embalde tanta luta
No canto passarinho, a morte do canário...

Um cheiro de queimado abraça a pobre Terra.
Quem pode conquistar não usa a força bruta...
Amor que se conquista, esconde-se da guerra!



480


A natureza chora de tristeza
Ao ver que não estás aqui comigo.
O rio se perdendo em correnteza,
Não deixa mais restar um só abrigo.

Amor deixou saudade em sobremesa,
A solidão vagando em desabrigo,
Encontrando a minha alma sem defesa
Maltrata como fosse assim, castigo.

Recolhendo os meus cacos pelas ruas,
Na perda destes sonhos maltratando,
Aos poucos de saudades me matando,

Cegando minha noite sem ter luas.
Eu sou o que restou de um belo sonho,
Morrendo pouco a pouco, tão tristonho...
A natureza chora de tristeza
Ao ver que não estás aqui comigo.
O rio se perdendo em correnteza,
Não deixa mais restar um só abrigo.

Amor deixou saudade em sobremesa,
A solidão vagando em desabrigo,
Encontrando a minha alma sem defesa
Maltrata como fosse assim, castigo.

Recolhendo os meus cacos pelas ruas,
Na perda destes sonhos maltratando,
Aos poucos de saudades me matando,

Cegando minha noite sem ter luas.
Eu sou o que restou de um belo sonho,
Morrendo pouco a pouco, tão tristonho...


481


A natureza envolve-se em teus braços.
Adormece silente, tal beleza...
Dormindo calmamente teus abraços,
Esquece-se profana da tristeza!

Natureza adormecida, nos seus traços,
A vida se refaz bela certeza!
Os olhos que choravam, tristes baços,
Abertos, enamoram...Natureza...

Vindo o cheiro da terra que se molha,
Percebendo a meiguice, ser amada.
Acordando, tão mansa, pra tudo olha.

Procura teu sorriso, não vê nada!
A chuva caindo lágrimas, implora!
A natureza, entristece-se, chora!


482

A natureza gera em cada germe
A vida feita em vida eternamente.
Nos corpos devorados pelo verme
O mundo se refaz completamente.

Ao ter como certeza o não deter-me
Minha alma vai liberta, plenamente
Quem dera se eu pudesse conhecer-me
No mapa que se faz de minha mente

Veria tua imagem que me espelha
Mosaicos de nós mesmos, perfeição
Amor que nos guiando se revela

Ao acender a brasa em tal centelha
Certezas deste sonho em emoção
Emoldurando a vida em rica tela.

483


A natureza inteira em esplendores
Abrindo os elementos no horizonte.
Repare na fineza destas flores
As águas percorrendo a calma fonte.

A lua nas montanhas, suas cores,
Aurora: madrugada-dia, ponte...
A tempestade louca dos amores,
A Serra do Curral, Belo Horizonte...

Estrelas passeando constelares...
Abismos, profundezas, vasto mar...
A natureza mãe, tantos lugares...

O brilho que encontrei na luz solar,
Merecem orações nesses altares.
E mais maravilhoso, teu olhar...



484


A natureza mestra dentre mestras
Mostrando a cada dia o quanto amor
Ensina-nos sem aulas ou palestras,
O quanto tem por certo, de valor.

Na flor que se fecunda em doce entrega
Ao colibri faminto e carinhoso,
No beijo de uma abelha que carrega
O pólen necessário e valioso.

Pedra fundamental para a existência;
Sem ele, nada somos, com certeza.
A vida sem amor é penitência,
É rio que se vai sem correnteza

E morre sem ter águas, perde a foz,
A vida sem amor? Um nada após!



485

A natureza muda em suas mãos,
Transforma-se em diversa maravilha.
Enquanto a humanidade segue a trilha,
Às vezes os caminhos são tão vãos...

Usando como exemplo os vários grãos
Fartura que com máquinas se empilha,
Porém como se fosse uma armadilha,
A fome toma conta dos irmãos...

Para se construir tudo derruba,
O rei dos animais não tendo juba
Destrói tanta floresta, inutilmente.

Se Deus nos fez imagem, semelhança,
O homem destroçando uma esperança
Demonstra o que é se ter inútil mente...


486

A natureza traz fantásticas lições.
Por isso nunca perca o brilho de esperança.
Por mais que esteja escuro,a manhã logo alcança
A calmaria vem depois de furacões.

A boca que te beija espalha as ilusões.
Na mais incrível guerra uma antiga aliança.
O homem mais sisudo, um dia foi criança.
Amor mal se distrai, espera por perdões.

Nos mares, a pobre ostra, em dor descomunal;
Ferida pela areia, em louco ritual;
Gerando tal beleza, o dom maior da vida.

Transmuda o grão de areia em pérola sublime.
Do escuro desta vida, a luz que me ilumine.
Assim é nosso amor, pérola, Margarida!


487


A natureza traz fantásticas lições.
Por isso nunca perca o brilho de esperança.
Por mais que esteja escuro,a manhã logo alcança
A calmaria vem depois de furacões.

A boca que te beija espalha as ilusões.
Na mais incrível guerra uma antiga aliança.
O homem mais sisudo, um dia foi criança.
Amor mal se distrai, espera por perdões.

Nos mares, a pobre ostra, em dor descomunal;
Ferida pela areia, em louco ritual;
Gerando tal beleza, o dom maior da vida.

Transmuda o grão de areia em pérola sublime.
Do escuro desta vida, a luz que me ilumine.
Assim é nossa sanha, em pérola vertida...


488

A neblina caindo como em flocos,
Cortina em meu olhar que quer saber,
Em meio a tantas cores busca em focos,
Depois de tanto tempo perceber

Os brilhos deste olhar tão festejado,
De quem eu esperei a vida inteira.
Não nego, se eu estou apaixonado,
Amar e ser feliz, minha bandeira...

Mas sinto que não queres meu amor,
Pressinto que este canto foi em vão.
Peço-te, então, somente este favor,
Já basta p’ra valer esta emoção.

Se amar nunca depende da vontade,
Desejo tão somente uma amizade...


489

A nebulosa noite aproxima-se trágica
No pálido semblante, amada desespera...
Do éter tresloucado a vida sem espera
Deseja tolamente a salvadora mágica...

A morte se redime, audaciosa e fágica,
Num céu avermelhado expõe-se numa esfera.
E num segundo, troa, espírito de fera!
A morte companheira, astral e necrofágica!

As águas na convulsa esperança da luz,
Vão tresloucadamente, as angústias expostas...
A noite cai, pesando, expressa a minha cruz...

Na noite deste amor, que tanto consumiu;
Os raios desta noite invadem minhas costas...
Negridão do oceano... Amor morreu, partiu...


490

A nobre porcelana em noite rara,
Irradiando a luz sobre este mar,
Pegadas que este sonho me mostrara,
Qual divindade surge em preamar.

A vida sem martírio se pintara
No verso que te fiz, sempre a adorar.
Ao ver tua beleza, fonte e lume,
Desvio meus fantasmas, morro em ti.

Amar além da vida o teu perfume,
É mais do que sonhara, estou aqui.
No doce que me deste de costume,
O mel que me inebria, eu consegui.

Naufrágios, bóias, mares, lua plena,
Na areia em que te encontro, a vida acena...



491

À noite a solidão, trama a tristeza
Que faz de nossa vida merencória.
Porém amor espalha tal beleza
Que tudo se reverta em plena glória.
Levados pela forte correnteza,
Deixemos que o amor mude esta história.

Fazendo deste canto qual um hino
Rendendo uma homenagem ao amor.
Futuro mais brilhante descortino,
No peito que se faz tão sonhador.
Bebendo deste amor, eu me alucino,
Diante deste verso embriagador.

A noite solidária vem e tece,
Um sonho que jamais alguém esquece...


492


A noite apascentando meus olhares
Meu cais já se aproxima da verdade
Procura a liberdade de um Palmares
Nos becos e botecos da cidade...

Buscando respirar em outros ares
Distantes de um amor em falsidade.
Amiga vem tecendo em seus teares
O pano todo branco da amizade.


A noite se transcorre então, silente,
Na mansidão de calmos, leves ventos.
Seu braço que antepara a minha vida

Nos ombros, com carinhos, envolvente
Meus dias de tenazes sofrimentos
Encontram na amizade uma saída...



493

À noite dançaremos mil prazeres
Em ritmos tão suaves e selvagens
Serei, querida, tudo o que quiseres
Promessas de loucuras e viagens

Por mundos sem limites, sem decência
Tomados por vulcões enlanguescentes
Amar assim demais, com tanta urgência
Cravando com vontade nossos dentes

Nesta maçã que é deusa do pecado,
Abençoadamente sensual
Deixando cada corpo bem marcado
Por toques de loucura, sem igual...

Tatuo em tua pele com fulgor
As marcas mais sagradas deste amor...



494

A noite desfilando suas luzes,
Em meio a ventanias inconstantes.
O frio transtornando e por instantes
Ao sofrimento intenso me conduzes.

Num único momento velhas cruzes
Pesando em minhas costas, são gigantes
Estrelas disfarçando-se, mutantes
Algozes que terrível, reproduzes.

De tudo o que sonhamos, resta o gelo,
E nele o descaminho; posso vê-lo
Granizos dentro da alma, o que restou.

Do amor que imaginei, apenas neve,
A solidão voraz ora se atreve
E mata, pouco a pouco, o que inda sou...



495


A noite deslumbrante nunca vinha
Deixando os meus retalhos no caminho.
Não quero que minha alma vá sozinha.
Que faço se perdi meu velho ninho.

Nas mãos de um sertanejo, lua e pinho,
Enquanto uma emoção já se avizinha
Depois da lida feita enxada, ancinho,
Distância se entalando como espinha.

Televisão a cabo acaba tendo
Macabra dimensão para quem sonha.
Realidade chega tão medonha

Aos poucos meu amor se corroendo
Só deixa uma saudade do que fomos,
Das frutas do desejo? Nem os gomos...


496

A noite desvendando as fantasias
Que trouxe quando estavas bem aqui.
Se fazes do teu canto as melodias
Que queres quando feres tanto assim?

Por certo tuas garras afiadas,
Rasgando minha pele, fundas chagas;
Pretendes destruir as tão amadas
Carícias que decerto, enfim, apagas.

Não venhas me culpar por tuas dores,
Tu sabes muito bem quanto te quero.
Mas deixo para sempre tais amores,
Depois de tanta luta. Sou sincero...

E quero que tu sejas mais feliz...
Destino que criaste mas não quis.



497

A noite devagar, chegando mansa
Trazendo uma amargura, dentro em mim.
A dor desta saudade já me alcança
Penumbra vai caindo. É sempre assim.

A festa que se foi, sem sequer dança
Tramando uma tristeza que sem fim
Aos poucos no vazio já me lança.
Quem dera se restasse algum festim

E a vida não seria tão amarga,
Meu canto poderia ser mais belo.
À lua, feiticeira, eu não revelo

Os sonhos que perdi, há tantos dias.
A voz quase silente, inda se embarga,
Lembrando das passadas alegrias...


498

A noite do teu lado mansa e farta
De toda esta loucura que fizemos,
Teu corpo de meu corpo não se aparta
É tudo o que mais quero, e que queremos.

A dor contigo, amada, se descarta,
Futuro deslumbrante o que prevemos,
Certeza de que amar, antes que parta
Da vida o bem maior que nós já temos.

Deitar tua nudez maravilhosa
Neste dossel que é feito em pura estrela.
A noite alucinada em que se goza

Uma alegria imensa se revela
Marcando cada dia em verso e prosa,
Uma delícia insana: poder tê-la...


499

A noite dos amores, densa e bruta,
Não permite perfumes nem de rosas
Amar, renunciar à tensa luta,
Não posso receber as mãos nervosas

Nem templos esculpidos nesta gruta:
Coração, responsável por sedosas
Ilusões... Quem me dera a nova escuta
Trouxesse nos meus sonhos, lendas, prosas...

Amor que não perdoa e me constrange,
Não deixa essa pobre alma libertária.
os carinhos transformam-se em falange.

Nos pícaros febris, mais alto encerra...
Noite que não permite luminária,
Estrela apaixonada pela Terra...


500

A noite é linda; amor, nos sonhos meus
Eu vejo em teu olhar, a clara lua,
Não quero nunca mais ouvir adeus
Tua alma em minha vida continua...

Não deixe pra depois, te quero agora,
Quem sabe faz seu tempo de viver.
Não deixe que a alegria vá embora
Eu vejo, neste amor, o sol nascer...

A lua enamorada não nos deixa,
Apenas acalanta o nosso amor.
Que eu saiba nosso caso não se queixa
De tanto que se faz encantador...

A noite é tão bonita, minha amada,
A vida é sempre nossa camarada...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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