Vou dançar a Polka…
Sei que tenho de o fazer!
Tenho de desembraiar e perder a vida numa dança qualquer…Polka, Tango, Valsa…
Tenho o som assassino das palavras cruéis a fender-me no fígado.
Tenho o vómito ao pé das amígdalas a vociferar…
Escritores de Merda!!!
E vêm piegas, inocentes, com pezinhos de lã e dotes virginais, que o Pacheco ejacularia putas e escárnio se lhe perguntassem: “o que diria aos novos escritores”…
-Olha que se fodam!!!
É desta maneira que tenho as letras, pobres, pró vinho, para dançar como um escroto, vil, ordinário, que até o Pacheco mandaria apanhar no cú e ele ia, e eu ia, a dançar a Polka, a cravar vinte paus por extenso, que me dá nojo ver reduções da expressão á escala numérica!
È isso, detesto matemática e amo a Polka…vá…uma Polkazinha…vá lá…
Os carneiros alinhados em frente á Sociedade Portuguesa de Autores, com manuscritos impressos em papel branquinho e eu de cuecas na cabeça, com merda até ás orelhas a cravar um olhinho…
-Deixa-me lá ver a tua ficção científica, deixa-me provar o teu sonhozinho de merda, cheio de robots e fadas e fodas lamechas…
Sempre em Polka, em Valsa, em Fandango…
Qualquer porra que honrasse o artista, o Zé, a Maria do Best-Seller dor de corno, da paixoneta punheteira que se pensa no Liceu vá lá…um Tsara, uma Yourcenar…
Não… o que eles querem é disto, uma varinha de condão que pinga moedas mágicas, com monstros, com conspirações á Rodrigues dos Santos e á Dan Brown…sim, que essa porra do Tolstoi, do Borges e do Satre já eram…
A propósito…o Satre também era um filho da puta, mas dançava a Polka…e dançava bem o cabrão.
Certo dia que não sei de verão ou inverno disse para enfiarem o Nobel no recto, que ia dançar…Polka, Tango, Folclore…o que fosse, para deixar bem claro que a escrita não se paga, não se vende, não é ficção, nunca é ficção…
È física, a doer, a fazer bebés, a lavar a loiça, a beber ácido e a comer iogurtes…
Polka, Polka, Polka…é uma alegria!!!
Ah…depois os criativos, os cursinhos, os ursinhos, a pelúcia das letras em delicias de: “aprenda técnicas sublimes de escrever”, “Truques e dicas para disfarçar o mau jeito e acabar a fazer lindos postais de natal, de casamento, de baptizado”…escrita criativa por assim dizer…de Polka…Nada!!!
Sei que tenho de o fazer!
Dois dentes de alho esmagados uma cebola duas lágrimas.
Quem te sabe assim á beira de um tacho abatida de peito e cansaço a perder o tempo e o ser, o tempo de ser…
Sai um bitoque para uma mesa qualquer ao lado daquela onde bebo um gin tónico.
Consigo a momentos entre o troado dos talheres ouvir-te em poema, a cozinhar na língua o fel, a vapor, a pôr em banho crucificado o teu nome Maria, a venderes-te á lei da valia de um Judas Iscariotes que explora o teu corpo a suar futuros de sangue e de nada…
De avental, de touca… Maria?
Coroa de espinhos operários que sustêm suores de obra-prima, de força… e de Polka!!!
A ti ninguém te escreve, Maria…
Madalena pecadora das cozinhas…
Não és criativa, não tens uma varinha de condão, nem conspirações mirabolantes…
Até a varinha mágica te tiraram e deram-te uma colher de pau para que não possas fugir, para que não possas escrever senão refogados e lágrimas que não têm romance, nem deus nem dança!!!!
Oculto sob o avental… o teu corpo Mulher.
Como estas outras que estão a meu lado tão fúteis como um verbo de encher…
E tu a encheres…panelas e pratos, terrinas, travessas…a encher o dia, que te vai levar de novo á cozinha, á algazarra dos putos, ao hálito etílico de um Cristo que carrega baldes de massa em força de pão para a última ceia.
Dois dentes de alho esmagados uma cebola duas lágrimas.
Vejo-te com uma faca na mão e queria-te a rasgar o destino, a rasgar o avental, a touca, o patrão de alto a baixo, esses empreiteiros porcos que babam pelos queixos nódoas de gente…rasgar estas gajas de lábios pintados e meias de renda que sobem na vida a entesar o pau sem pegar na colher.
Rasgar-me a mim, espetar-me como gin tónico no focinho e verter na humanidade um cálice de lágrimas de coragem…depois…confessares-te Maria.
Sei que tenho de o fazer!
Confessares-te ao mundo debaixo do avental, confessares o tempo e o ser, o tempo de ser…
Mulher.
E para nunca mais teria de ouvir poemas de doce, romances de açúcar, só passos, de Polka, de Tango e de Valsa…
Tenho de o fazer…
Depois aos grupinhos, ás tertúlias, a brincar á democracia das letras com peregrinações á primeira hora das editoras, a prostituírem-se a querer vender banha da cobra, Harry Potter’s, guerras das estrelas, coisas de gajas na meia idade…fodasse pá e a Polka pá…
Eu que me foda é?
Está bem mas…mas mando-vos todos bardamerda, Pessoanos e Camonianos e Lobo Antunianos, e Saramaguianos…
Que não me vendo pá…
Danço Polka!!!
A propósito…a Polka é uma dança?
Que se foda a Polka…o que eu quero é dançar o meu lápis até ao cadáver dos dedos!!!
Tenho dito!