Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 004

 
Tags:  Marcos Loures Sonetos  
 
301


A lua plena e branca em noite clara
Decifra os teus segredos e te expõe
Desnuda fantasia que te aclara
Cenário tão fantástico compõe

O amor qual jóia fina, bela e rara
Durante o plenilúnio recompõe
Ternura que sutil não se compara
E o sonho num cometa, amor já põe.

Girando pelo espaço, carrossel,
Constelações esparsas, vão ao léu
Fazendo da alegria um estribilho.

Vagando por teus braços sem descanso,
O dia se anuncia bem mais manso
Argênteas emoções contigo, eu trilho...


302

A lua, predileta musa. Brilhas
Esparramando bênçãos pelas matas!
Teus clarões nas searas forram trilhas
Noctívago, permeio serenatas

Refletes verdejantes maravilhas.
Nas buscas insolentes, me maltratas...
Lua, das tuas mansas, belas filhas,
Uma dorme comigo e m’arrebata!

És flâmula tremulas bruxuleias,
Tecelã tantas formas, tuas teias,
Passeando sutil, sobre essa terra...

A quem planta, fulguras nos plantios,
A quem ama, incitando tantos cios,
Nos teus rastros, clareiras, mares, serra...


303


A lua que eu beijava na calada
Dos sonhos estrelados que tivera,
Ao vê-la toda nua des’perada,
No raio solitário, quem me dera...

Ardendo toda fria, trovoei
Os preconceitos tolos. Encantado,
Em comoção total me apaixonei,
Apesar de eu estar tão afastado...

Aconteceu amá-la louca lua
Sonhava despencada nos meus braços
Nesta beleza clara, bela, nua,
Te tomaria, lua, nos abraços

Em plenilúnio, nova ou na minguante,
Me entregaria a ti, no mesmo instante!


304

A lua que levou o teu sorriso
Vagando pelo espaço sideral,
Não tem, eu te garanto qualquer siso,
A deusa tresloucada deste astral.

Satélite cruel e sem juízo
Não sabe que te causa tanto mal?
Partindo sem deixar sequer aviso
Provoca no teu peito, um temporal.

Nos seus brilhos, enganos, disso eu sei.
Agora iluminando uma outra grei
Levando o sol consigo, nubla o céu.

Porém, viver: eterno carrossel
Trará tenha esperança, e nisso creia
Depois da tempestade, a lua cheia!



305

A lua que me linka até você
Trazendo a paz que tanto desejei.
Meu corpo desejando o que se vê
Nos olhos da mulher que tanto amei.

Decifrar seus enigmas. A alma lê
Beleza sem igual onde encontrei
O amor perpetuado em que se crê
Fazendo da alegria, norma e lei.

Chegando calmamente, suave brisa
Da louca tempestade ele me avisa
E forma um turbilhão interminável.

Burila com ternura a jóia rara,
Que enquanto me fascina, vem e ampara
Na fonte do desejo, inesgotável...


306


A lua que me viu jamais voltou,
Perdida caminheira dos espaços.
Aonde um sonho outrora mergulhou,
Sem ter suas pegadas, perco os passos.

Não sei nem mesmo ainda o que restou,
Apenas no meu peito estes pedaços
De tanto que esta vida sonegou,
Dos sonhos já não vejo nem mais traços.

Porém, ao ver-te; estrela eu percebi
Que toda uma esperança existe em ti,
Mesmo que entre medos e incertezas

O barco dos meus sonhos, fantasias
Na luta por momentos de alegrias
Enfrenta com vigor, as correntezas...


307


A lua que se acende em nosso céu
Usando o seu vestido cor de prata,
Tocando mansamente o meu dossel
Enquanto acaricia, me maltrata.

Das nuvens descortina cada véu,
Iluminando em festa toda a mata.
Arranjos de crepom, marché papel,
Alucinante sonho que arrebata

E leva ao coração de um sonhador
Beleza sem igual em luz e cor,
Mergulho no infinito de nós dois

Imerso nesta rara paisagem,
Guardando na retina a bela imagem
Sem medo do que surja no depois...


308

A lua que se fez em duas peles
Deitada sobre a areia, nua, exposta.
Naquela que permite que te atreles
As mãos, a língua quente, carne em posta

Enlaças mansamente uma sereia
Em trocas de salivas e prazeres.
A noite mergulhando viva e cheia,
Nas lutas e procuras dos quereres...

A sede tão ardente que se mata
Na lua que irmanaste em paraíso,
A chuva se transforma na cascata
Mistura dos humores num sorriso...

Nas ânsias delicadas destas luas,
Eu vejo o lume intenso em vocês duas...


309

A lua que transborda de esperança
Na luta por um mundo bem melhor.
Trazendo numa voz calma e tão mansa,
Os sonhos que a beleza tem, de cor...

Ensina que o amor deve vencer,
As dores que esta vida sempre traz.
Amiga, como é bom poder te ter,
Na doce maciez da plena paz.

A lua que, mineira, é raridade,
E brilha mais intensa nas Gerais.
Sentir poder ter tua claridade
Aos olhos de quem canta é ser demais.

Por certo, uma verdade vai comigo;
Como é de se orgulhar ser teu amigo!



310

A lua refletida sobre o mar

Chorando suas lágrimas, orvalho...

Percebe que a distância a flutuar

Encontra com amor, um grande atalho



E lança-se, sem medo sobre as águas

Invade o manso mar com seus desejos.

Rasgando este universo sobre as fráguas

Mergulha delirante em mil lampejos...



O mar se extasiando com a luz

Se entrega sem temor aos seus carinhos;

A lua não percebe, mas seduz;

Entregando-se às ondas faz os ninhos



De cores e delícias mais incríveis,

Realizando amores impossíveis...


311


A lua refletida bebe o mar
E toca mansamente o que pudera
Gerar dentro do peito a primavera
Voltando neste instante a decorar
Florindo a cada instante num lugar
Aonde a solidão já não me espera
E sei do meu caminho em rara esfera
Presume cada passo a mergulhar
Nas ânsias mais audazes da esperança
E nisto o coração ao longe lança
Banhando de saudade o que se traz,
Apenas mergulhando no vazio.
O sonho de tal forma eu desafio
E a vida se presume inteira em paz.


312



A lua refletindo luz tão pálida
Por sobre o corpo nu desta mulher.
Argêntea maravilha com mister
De ser minha rainha, doce e cálida...

A sorte que tivera quase esquálida
Refaz-se da maneira que eu quiser.
Na lua que te cobre, um bem me quer
Guardando uma esperança de crisálida...

Afloram meus desejos, em mansa lua,
Que emana sobre ti, como um cometa,
A força que trará tal borboleta

Maravilhosamente bela e nua
Cravando no meu peito a fina garra
Da deusa em perfeição, feita em Carrara


313

A lua renascendo, anoitecer
Em raios refulgentes e brilhantes.
Nos olhos de quem amo, diamantes
Fazendo nosso sonho reviver...

Eu quero nos teus braços me perder,
Coberto pela lua dos amantes,
Eu sinto esta alegria por instantes
Na fantasia eterna do querer...

A lua iluminando a Terra inteira,
Envolve no luar a minha amada,
E mostra na magia, a feiticeira

Que tanto nos seduz e nos clareia.
Assim também minha alma apaixonada,
Ao ver teus olhos claros se incendeia...


314


A lua resplandece sobre amor
Que vive semelhante em alegria
À tarde que traduz tanto vigor
E sabe ser feliz com harmonia...

Amor que se pensara estar extinto
Renasce com tamanha valentia
Que mesmo que em tristezas vãs me pinto,
O brilho que carrego, em pleno dia...

Eu vivo pelo amor que te roubei
E tanto que pedi nas orações,
Amada tanto amor agora eu sei,
Explode em terremotos, corações...

Amor que sempre vela por quem ama,
Renova-se em amor, é brasa e chama...


315

A lua se aproxima soberana,
Tornando esse cenário inesquecível.
Nas mãos da bailarina, da cigana
A noite se transforma e segue incrível.

Percebo na distante serenata
Um trovador enamorado em sonho...
Beleza sem igual já se retrata,
Na fantasia, o verso que componho.

Ao refletir em maravilha os olhos
Da sílfide perfeita, iluminada,
Esqueço num momento dos abrolhos
E sigo com clareza a minha estrada.

Deslumbre em plenilúnio me tomando,
Um fabuloso dia se moldando...


316



A lua se derrama na calçada
Encontra-me dormindo no relento...
As horas se passando, a madrugada,
Assalta-me um terrível, frio vento...

Teu nome repetindo, não diz nada,
Só sei que me traduz em sofrimento...
A mão da morte mostra-se espalmada,
Não posso nem consigo ter alento...

O parto que me negas, da vergonha,
O gosto tão medonho da saudade...
Não tenho travesseiros e nem fronha,

O tempo que passei, mostra a verdade,
A dor de te perder, já sei medonha,
A lua se derrama na cidade...


317

A lua se entregando ao sol intenso
Momentos de prazer e de loucura.
Teu corpo em minha cama, sempre eu penso,
Trará enlanguescente tal ventura

Ao peito de quem vive triste e tenso,
Restauração com fome de ternura.
O medo de viver; contigo, eu venço
E teimo em ser feliz, sem amargura.

Vem logo que esta noite eu te prometo
Levar ao infinito, nos orgasmos
Que tornam bem distantes os marasmos,

Pois sei que em teus caminhos me completo,
Ardentes emoções, bacantes fúrias
Envoltos nos desejos e luxúrias...


318


A lua se entregando, imenso brilho,
Forrando a natureza em esplendor,
Formando com certeza um belo trilho
Para esse amante, triste e sonhador...

Ao ver tanta beleza busco exílio
Nos braços de quem sabe que o amor
É canto que merece um estribilho
Composto com carinho, sedutor...

No chão todo forrado por estrelas,
Essa deusa noturna se entregando,
Com toda uma ternura, sabe tê-las,

Testemunhas perfeitas, deste caso,
O sol já se aproxima, irradiando,
Deslinda-se na aurora, sem ocaso...


319


A lua se escondendo, tão mortiça
Não deixa que se veja amanhecer,
Na sorte de quem ama e não cobiça
Estrelas espalhando o bel prazer.
Areia não se torna movediça,
O mundo novas cores, passa a ter.

Assim, um caminheiro da amizade
Escreve com paixão cada passagem.
Ao ter ao fim da noite, a liberdade,
Percorre mais tranqüila esta viagem.
Na paz que num momento já me invade,
Eu sinto ser palpável tal miragem.

O coração vazio morre só,
Voltando novamente ao velho pó.


320


A lua se espalhando invade o dia
Formando com o sol, belo casal,
Forrando toda a Terra em poesia
Num gesto tão divino e magistral

Fomenta assim a sorte que se dá
A quem sempre deseja ser feliz.
Quem dera se eu tivesse desde já
Aquela que busquei e tanto quis.

Mulher da lua plena, rara estrela
Que brilha eternamente dentro em mim.
Vontade de poder sempre contê-la
Num sonho sem igual, tão belo assim.

Vivendo a fantasia, alegremente,
Manhã extasiante se pressente.


321

A lua se refaz em raios mansos
Deitada sobre um campo magistral
Olhando para as fontes e os remansos
Permite que se tenha o visual

De sendas promissoras entre flores
Marcantes esplanadas sem mistérios.
Algozes; entretanto em tantas dores
Matando as esperanças sem critérios.

Serenas, as estrelas vão guiando
Em meio a tantas trevas, caminheiros
Que o reino de esperanças usurpando
Estraçalham venais, seus companheiros.

No amor entregue às traças e baratas
As hóstias escondidas, nestas matas...


322

A lua sertaneja que eu carrego
Falando das morenas do sertão,
Distante da cidade, com paixão
Num sonho deslumbrante eu já me entrego.

Teus versos, companheiro, com apego,
Diversas vezes dizem da emoção,
Pensando ter no asfalto a solução,
Permita-me dizer: tu andas cego!

Embora seja um rústico poeta,
Lavrado pelos duros espinheiros,
Amores que concebo; verdadeiros,

Não falam de Cupido, nem têm seta.
Apenas o cheirinho da fulô,
Dizendo com sorrisos: meus amô!


323

A lua soberana brinda a noite
E em nobre porcelana se desnuda.
Um sonhador sozinho no pernoite
Procura em outras bandas por ajuda.
A solidão queimando como açoite
A vida parecendo tão miúda...

Vagando pelas ruas, bar em bar,
Não tendo mais descanso, continua.
Deitando sob os raios do luar
Caminha cego, a esmo pela rua.
Não tendo mais sequer onde aportar
Seus lamentos; dirige para a lua...

Amigo, eu também sei da desventura
Que em noite enluarada, nos tortura...


324




A lua soberana, brinda a noite,
Transmite veleidade e sentimento...
Não há quem não perturbe-se e se afoite
Distante plenilúnio vai ao vento..

No que farturas flanges não me acoite,
Sensatos se suprimem sem sustento.
A boreal fantástica do açoite
Que vermífuga a dor de ser sedento...

Merencoricamente lua serva,
A seiva em que me absorves se conserva
Nos potes divinais desta esperança!

Uma coorte que fiz nunca repara
Nas causas das loucuras que se avança
Uma esperança inglória me antepara...


325




A lua solitária reina plena
A deusa soberana e tão soturna
Na prata que se espalha nesta cena,
Esplendorosa diva-mãe noturna...

E as plêiades vagando no universo
Rendendo as homenagens vaga-lumes
Num mundo gigantesco e tão disperso
Estrelas faiscantes são cardumes...

Na profusão de luzes e de cores
A dança sideral jamais termina,
Meus olhos de teus olhos refletores,
O amor se consolida como sina

De um velho trovador enamorado,
Cevando os madrigais louvando o Fado...



326


A lua tão serena enamorada,
Espelha a noite inteira esta beleza
Também de teus olhares, anda presa,
Tal qual um sol em plena madrugada.

O vento enciumado tanto brada
Roncando entre cascatas, correnteza
Amor que eu tanto quero e que me preza
Imagem para sempre resguardada.

Quem fora um cardo; amargo e desprezado
Ao ver a maravilha que tu és
Deitada em alegria do meu lado

Já vê que a sorte agora vem propor
Grilhões se desatando dos meus pés
Um canto inebriante feito Amor...


327


A lua te invejando se escondeu
Temendo o raro brilho deste olhar,
Amor na plenitude em que se deu
Tomou a nossa vida, devagar.

O gozo da ventura, meu e teu,
Permite que se possa imaginar
No quanto esta alegria convenceu,
Percebo a fantasia a nos tocar.

Fomentas os meus sonhos mais audazes,
Estrelas tal cenário triunfal
Meus olhos te buscando, tão vorazes

Capazes de dourar a prata lua
Teu corpo qual moldura magistral
Estampa a divindade, bela e nua...


328



A lua vai sedenta e vaga mundo.
Buscando por paisagem mais bonita.
Em toda esta amplidão, bem mais profundo,
Certeza de viver, sempre palpita...

Escoam meus sentidos pelas matas
Descendo as cachoeiras mais velozes.
Nos ouros destes campos, tantas pratas,
Em meio a sentimentos mais ferozes.

No seio ardente da mulher que quero,
Na boca que tremula a cada beijo.
Vivendo teu sentido em que me esmero.
Sabendo que no fim vence o desejo.

No mar que se arrebenta, tanta espuma,
Amor tão delicado, não se esfuma...

329

A lua vai surgindo atrás do monte
Que banha o horizonte de beleza,
De todo o meu cantar mais mansa fonte
A lua se demonstra na clareza

Que forra nossos trilhos deste amor,
Deitando sobre as folhas no quintal,
Eu olho para a lua, sonhador,
E sonho meu desejo sensual

De ter essa mulher amada, nua;
Rolando nestas folhas sem juízo,
Minha alma em teu céu, louca flutua
Encontra este portal do paraíso...

A lua é companheira dos desejos
Quem sabe testemunha dos meus beijos?


330

A lua varandando em nossa casa
Florindo de algodão forrando a cama.
A sorte generosa nunca atrasa
Na brasa decifrando toda a chama.

Tua nudez, meu peito já se abrasa
O fogo desfilando sempre inflama
No visgo deste olhar não se defasa
Amor vem logo. A cama já te chama.

Encontro no teu seio essa romã
Perfume delicado do desejo.
Não deixe pra depois nem pra amanhã

Agora é necessário se entregar
Ao gosto-gozo-festa em cada beijo
Depois, ir pra varanda enluarar..


331

A lua vem falar de poesia
Matéria tão distante do que sei.
Vertendo o que me resta em fantasia
Destino sem fronteiras se faz lei.

O verso que emoção deveras cria,
Não sabe do que outrora em vão, sonhei.
O gesto mais audaz, diz alegria
Palavra que inconstante, não criei.

Um cântico, quem dera, fosse o mote
Do encanto que deveras não desbote
Ao ter somente um fio sem meada.

A lua ao ver a audácia deste ignaro
Do raio esplendoroso belo e raro,
Não deixa nem resquício, envergonhada...


332


“A lua vem surgindo cor de prata”
Trazendo teu amor bem junto a mim...
Amor que quase sempre me arrebata
Tramando meu futuro, sem ter fim...

Amando que amei espero tudo
Que a vida, com certeza, pode dar,
Os olhos revirando, fico mudo,
Vontade de em teus braços mergulhar...

Trazendo a doce lua com meu beijo
Trazendo essa manhã que não termina,
Trazendo cada forma de desejo
Vertendo toda luz que me alucina.

A lua vem surgindo sobre a mata
Trazendo teu amor, salva e maltrata...


333

À lua, confidente mais fiel,
Declaro todo amor que, sabes, sinto.
Da prata deste sonho ora me pinto
E bebo da emoção, sublime mel

O pensamento gira em carrossel,
Buscando em tua boca um doce absinto,
Tornando mais real cada recinto
Aonde a lua exposta, rasgue o véu

Argênteos raios sobre o meu jardim,
Moldando a bela rosa insuperável
O toque sensual tão agradável

Dos corpos sob a lua do sertão
Trazendo para a Terra um Querubim
Envolto nas tramóias da paixão....

334


A lua, num momento de paixão
Se entrega ao trovador enamorado,
Num ato de loucura e sedução,
Neste canto ao deus Eros dedicado.

Aos poucos sem defesa e sem perdão,
Os dois já caminhando lado a lado,
Unidos pelo mesmo coração.
Ao ver que a ele havia se entregado,

Sedenta dos carinhos, a lua ávida,
Aos poucos foi se inflando. A plenitude
Mostrada pela lua, nua e grávida...

Fugindo para o dia, o trovador,
Com medo, sem saber que essa atitude,
Havia de gerar um filho: AMOR...


335


A lua, teu olhar, brilhos diversos,
A boca que se mostra em beijo e riso,
O toque tão suave e mais preciso,
Ao longe melodias, sons dispersos...

Um trovador inventa novos versos,
Ouvindo o coração, do Paraíso,
Neste diapasão, cadê juízo?
Olhares em olhares ora imersos...

Conhaques, mãos e dedos. Cheiros, ritos...
Estrelas desfilando em carrossel,
Momentos tão sublimes e bonitos

Aonde em fantasias eu me acabo,
Chegando sorrateiro, vejo o Céu
Em plena comoção, feito o diabo...


336


À lua, companheira dos poetas,
Que traz em cada brilho sensual
As fontes prazerosas, prediletas,
Na prata que se espalha pelo astral.

As noites sem a lua, tão discretas,
Mostrando uma alegria desigual.
Ao ver esta beleza em que completas
Nosso canto de amor, fenomenal.

Teus olhos estrelares são meus guias,
Na busca de uma intensa liberdade.
Além de todo lume que querias,

Além da poesia que nos brinda
Do nosso sonho: amor. felicidade,
A lua nos namora; clara, linda...


337


À luz da lua, pálida, dormia,
Sua nudez mostrada na janela,
A natureza em festa, então sorria
Deitando o doce vento em torno dela.
Ao longe um coração tudo sabia,
Mas não podia estar junto com ela...

Os anjos passeando pelo céu
Ao verem tal beleza esculturada
Clamavam pelo amor, lindo corcel
Que vinha assim deixando-a extasiada.
Meus lábios ao sentirem raro mel,
A vida se tornou mais encantada...

Às noites vou velando o seu cansaço,
Decoro de seu corpo todo traço...


338


A luz da rutilante e bela aurora
Transforma todo o dia em um mistério.
O brilho que depois se revigora
Promessa de esperanças lá d’etéreo.

Esplêndida manhã surge sonora
Por sobre todo o mundo, vasto império;
Toda a natura vibra mundo afora
Amor em plena aurora, um caso sério....

As bênçãos divinais não discriminam,
A todos os humanos trazem luz
E corações amantes se iluminam.

Aos loucos namorados, tanta gente..
Tal sorte benfazeja reproduz.
Qual sátiro profano, vou contente...


339


A luz de uma alegria me decora,
Mas chega a tarde e a nuvem sempre vem.
Na angústia que mormente diz de alguém
Que um dia sem avisos foi embora

Nem mesmo a fantasia traz a escora
Olhando pros escombros com desdém
A vida num instante desarvora
E perde simplesmente rumo e trem.

Semente que abortada nada diz
Tentei inutilmente ser feliz
E agora o que fazer se não consigo

Saber deste cultivo desejado,
O campo que sonhei ser adubado
Em ervas tão daninhas mata o trigo.



340


A luz de uma amizade permanece
Depois do duro golpe, desengano
A senda de um carinho, logo tece
O canto que se mostra soberano,

Vivendo deste sonho, favorece
A quem percebe amor como seu plano
Expressa em alegrias sua prece
Fazendo o seu viver bem mais humano

Toando uma canção em toda parte,
Trazendo um bom calor, sempre reparte.
Retira do caminho espinho e entrave.

Vencendo as urzes todas nesta senda
Na sorte que o mistério se desvenda
Um passageiro segue nesta nave.



341

A luz de uma amizade se acendia
Em meio a tantas nuvens carregadas,
Traduzo teu carinho em alegria,
Ajuda nessas dores mal curadas...

Tomando toda a vida como base,
Amigos encontrei, decerto, poucos...
Curando essa ferida, põe a gaze
Impede que meus dias sigam loucos...

Melhor saber que existes, meu amigo.
Dá forças pr’a seguir a dura estrada.
Percebo, em cada curva, outro perigo,
A mão que me sustenta, abençoada...

Por mais que este caminho seja duro,
Nos passos co-relatos, me asseguro...



342


À luz desta amizade eu vou contente
E nada impedirá meu firme passo,
Vivendo o que sonhara, plenamente,
Não temo descaminhos nem cansaço

Abraço os teus sorrisos, companheira
E deles faço o mote necessário
No quanto se reforça esta bandeira
O mundo não se mostra temerário.

Eu quero estar contigo sem demora
Singrando entre procelas, o oceano.
Felicidade eu sinto já se aflora
Deixando para trás o desengano.

Contando com teus braços, minha amiga,
A sorte tão volátil nos abriga...



343



A luz desta manhã iridescente
Mudando este cenário trama festa
Enquanto a noite amarga, as dores gesta
O dia que virá será mais quente.

Vontade de saber e ser contente,
O riso da esperança assim atesta
Que tudo o que consola, o que me resta
Saber o quanto brilha o amor da gente.

A lua se desfez em frágil traço
Negando argêntea fonte e sem abraço
Eu tive a solidão como parceira.

Embora, feiticeira, uma cigana
Matando em negritude a porcelana
Abismos espalhou na Terra inteira...

SOBRE SONETO DE GOLBERI CHAPLIN


344

A luz desta mulher que se deseja
Espalha pelos cantos desta casa
O fogaréu que intenso já lateja
No corpo de quem viva imensa brasa.

A cargo desta insânia sigo a vida,
Em via tão diversa acerto o prumo.
Primordial caminho, uma saída
Que a cada nova noite assim consumo.

No sumo de teus lábios me lambuzo
E bebo até fartar, mas peço mais,
O tempo vai perdendo rumo e fuso
Em meio aos mais divinos vendavais.

No cais eu desemboco os meus navios,
Criados pelos sonhos, loucos cios...


345


A luz do teu olhar
Estrela radiante
Chegando devagar
Entorna num instante

Vontade de ficar
Sorriso provocante
Convite pra sonhar,
Estrada fascinante.

A boca busca os seios
Os olhos, o sorriso,
Vivendo sem receios

Encontro paraíso
Entranho sendas, veios
Tens tudo o que eu preciso.


346

A luz em seus matizes mais diversos
Propaga-se entre as trevas num mosaico.
Estrelas multicores, universos
Renovam este mundo velho, arcaico.

Ouvindo a voz do vento que nos chama,
Convites para um vôo inesquecível,
O amor minimizando dor e drama,
Pressente este amanhã quase intangível.

Recebo tais fluidos de esperança
E verso sobre o quanto inda pretendo,
A força da emoção, rara pujança,
Segredos e mistérios; já desvendo.

Alheio ao que julgara inalcançável,
A vida se tornando mais potável...


347


A luz em treva intensa ele espalhou,
E nele com certeza eu já me espelho
Amor que em esperanças se lançou,
Renova um coração outrora velho,

E busca uma alegria que encontrou,
Não quer da solidão sequer conselho,
Vestindo uma emoção se demonstrou,
Mais forte e mais sereno. Em seu espelho

Reparo a juventude ressurgida,
Ao renovar em brilho a minha vida
Em toda essa amargura dá seu jeito

Não tendo o que temer eu sigo manso,
Sabendo que depois de tudo alcanço
A paz em devoção, eterno pleito.


348


A luz enegrecida pelas dores
Que há tanto coabitam com meus medos.
Ensandecido, tento ver alvores,
Mas vagos e tristonhos, tais enredos.

Espero a solução, mas ao propores
Tu falas como fossem teus segredos
Do vento que dobrando folhas, flores,
Arranca na raiz, os arvoredos.

Tempestuosa noite se anuncia,
Colérica expressão, tantos trovões,
Tomado pela insânia, nos senões

Eu vejo a realidade mais sombria.
Nefastas, malfadadas ilusões
Morrendo em meio à atrozes podridões...


349

A luz inutilmente em ronda gira,
As tochas da esperança se apagando...
O tempo em agonia destroçando
Desfaz o que se fez eterna pira.

Amor em cego vôo errando a mira
O templo da ilusão já desabando
O resto do que fui se derramando
A sorte sem resposta se retira.

Esboços do que sonho; desfiguras
E deixas tão somente em garatuja
Retrato de uma vida amarga e suja,

Entregue às marcas tantas das torturas
Entranhadas. Profunda cicatriz
Das garras rapineiras, fortes, vis...


350

A luz que é libertária, assim se aflora
Moldando um dia claro, enlanguescente.
Vivendo o paraíso desde agora,
Percebo o quanto é bom o amor da gente.

A paz que num momento se assenhora
E toma a nossa vida num repente,
Promete: não irá jamais embora,
Deitando nos teus braços, tenramente.

Somamos nossos sonhos, sem temores.
O tempo se repleta nos amores
Que a vida já nos trouxe há tanto tempo.

Ao suplantarmos, juntos, contratempo,
Lavramos na aridez de um duro chão,
Colhendo as flores raras da emoção...


351

A luz que iluminava nosso ocaso,
Não deixa testemunhas, me arrebata...
Amor quando se trai parece vaso
Quebrado, que jamais de novo se ata...

Não posso te perder, nem peço prazo,
A vida sem sentido, me maltrata,
És pilastra por onde eu sempre embaso
Os meus sonhos audazes. És a nata

De todos os meus passos. És a guia...
Nublando um claro céu, perdi a aurora,
A vida já não tem qualquer valia.

Um quadro que envelhece e se descora,
Nos pélagos medonhos, alma mora...
A tua ausência mata a fantasia...


352



A luz que irradiaste sobre mim,
Na turgência dos seios tão famintos..
O brilho desta lua sobre mim,
Em plena embriaguez dos absintos...

Dançávamos na noite, tontos passos,
Nas valsas e nos beijos, danças, sonhos...
Nas pernas e nos braços, loucos, baços...
Nas camas e nas chamas, vis, medonhos...

Nas mãos sertões, promessas, minas...
As bocas procurando turbilhões,
Em danças alucinas, e dominas,
Valsando desatinas excursões

De mãos e doces línguas que se caçam
Nas dança nossas chamas, esvoaçam...


353

A luz que me maltrata e me alimenta,
Fazendo fotossíntese em minha alma
Enquanto mansamente é violenta
Um turbilhão insano que me acalma

Cevando no canteiro rosa e espinho,
Abelha que ferroa mel e fogo.
Vinagre que se faz do doce vinho,
Vitória na derrota, tenso jogo.

A fome insuperável que sacia,
Sacrílego oratório em que confesso
Momentos de fartura e de agonia,
O frágil sentimento que obedeço

E trama movediço e belo norte,
Tatua com prazer, delírio e corte...



354

A luz que se irradia em teu olhar
Acende uma esperança dentro em mim,
Depois de tantos anos te buscar,
Encontro o que queria, amor, enfim...

O vento da esperança devagar
Chegando faz florir velho jardim,
A rosa que se fez doce ao luar,
Entranha tua boca carmesim.

E o verso que se deu em tal ternura,
Decifra nos teus olhos a ventura,
Bonança que sonhei na tempestade.

Eu quero que tu saibas, e garanto
Que o amor se sucumbindo ao teu encanto,
Já trouxe à minha vida, a claridade...
355

A luz que se irradia, tão distante,
Também aquece, amada. Não se esqueça
Que a vida não repete um só instante
Por mais que isto difícil me pareça.

A força do querer quando gigante
Não tem sequer juízo que obedeça,
Um passo que se afirme mais constante
Não deixa que saudade trame a peça.

Toda realidade é dolorida
A vida se permite sonhos, risos.
A luz que se irradia, vai perdida

Em meio a turbilhões de pensamentos,
Os passos muitas vezes imprecisos,
Se perdem no caminho, em outros ventos....


356

A luz que te traria me enganou,
Não trouxe nem sequer um vago lume.
Saudade que senti, ressuscitou
Nas asas desse amor, um vagalume!

Carrego o muito pouco que sobrou,
A dor, o medo, a ponta de ciúme,
A dúvida feroz, ser o que sou?
Não posso perseguir o teu perfume,
(A rosa que deixaste, não brotou...)

Perdoe se não posso estar contigo,
Meu grito nunca mais te importará.
À noite, adormecido, não consigo,

Saber o quanto a dor traga infinita,
Estrela dos teus olhos brilhará
No que me restará de vida, Anita!


357

A luz que vem de um belo paraíso
Reflete nos teus lábios, minha cara
Sabendo: ser feliz é o que preciso
Teu braço a cada passo já me ampara

A cada caminhar um novo aviso
Moldando esta emoção perfeita e rara,
Por isso em cada verso, assim eu friso
O brilho que decerto deslumbrara

Aquele que se fez amigo teu,
Matando com certeza todo o breu.
No teu aniversário o pensamento

De um tempo mais alegre que virá
Meu verso tão feliz te mostrará:
Que aprazo em noite clara o sentimento.


358

À luz sempre bendita dos desejos
Em corpos delicados e vadios,
Rondando em nossas carnes, fogos, beijos,
Matando com delícias; velhos frios.

Dourando a nossa pele, tais estios
De amores que mais fortes eu prevejo,
Fulguram mil prazeres, relampejo,
Mistura enlanguescente, ritos, cios...

Na lúbrica vontade sem limites,
Em côncavos, convexos, união.
Na gruta estalactites, estalagmites

Formando num delírio, um turbilhão
Rainha devotada pede ao kaiser
Uma explosão de gozo feito um gêiser...


359

A luz tão penetrante que irradias
Invadindo o meu quarto, qual a lua,
Deixando bem distantes noites frias,
Aquece-me em seus raios, forte e nua.

Verdade que te digo, nua e crua,
Mostrando tão somente as alegrias
Nas quais a minha vida já flutua
Reinando sobre os sonhos, fantasias...

Sorrisos que trarei ao ver-te estrela
Deitando em minha cama, luz tão bela,
Roçando minha boca com desejos...

E assim mal surja enfim uma alvorada,
De sol a bela luz se faz banhada
Desnuda em deslumbrantes azulejos...


360

A maciez das mãos sobre meu peito
Permite que se tenha algum alento.
A gente tantas vezes vai desfeito
Entregue aos dissabores, sofrimentos.

Do céu risonho apenas pesadelos,
Meus olhos procurando algum descanso
Encontram no horizonte, frios, gelos
Distante me afastando de um remanso.

De tanto que eu sonhei e nada tive,
Das esperanças restou arribação
Apenas teu carinho sobrevive
E nele algum resquício de ilusão.

Meu verso se perdendo em noite fria
A sorte pouco a pouco se esvazia...


361


A maciez que encontro em teus cabelos,
Fluindo mansamente como um rio.
Teus olhos tão divinos, ao revê-los
Esqueço o meu passado, algoz sombrio.

Do duro inverno, neve, fome e gelos,
Um coração sofrido, assim, vazio,
Amores tão difíceis percebê-los
Desejos, fantasias que inda crio.

Mas tendo o teu convite para a festa
Na noite e nas campinas mais brilhantes.
Encontro uma esperança por instantes

Que possa povoar meu coração.
Abrindo no meu peito imensa fresta,
Já permitindo os sonhos e a paixão...


362

A madrugada vem me segredar
Um sonho que bem sei ser falsidade
Pois sei que logo vens me procurar
Tão logo noutro amor a dor te invade

Tua alma então ficando a observar.
Percebo no teu caso insanidade
Mas eu preciso enfim continuar
Na caça desta tal felicidade

Vivi de ilusão e fantasia
Além do que pudesse ou bem queria
E vejo como eu fui um idiota-

Achei que em ti teria lealdade
Mas és muito volúvel - que revolta!..
De tudo não restou nem amizade...


363

A mágoa em soberana e triste idéia
Compele tanta vez ao sofrimento.
Quem pensa ser amor a panacéia
Engana-se decerto, e num momento
Em diferente senda, uma platéia
Transmuda a mágoa em dor, vivo lamento.

Porém já contraposta, uma amizade,
Trazendo para os rios ricas fozes,
Permite alçar a plena liberdade
Realça na alegria nossas vozes,
Portando no seu bojo a claridade
Matando os sofrimentos mais atrozes.

Do acérrimo lamento faz o riso,
Propõe um passo certo, enfim, preciso...


364


A mais brilhante estrela do universo
Deitada em minha cama, fúria e gozo.
Expressa a poesia em cada verso
Descendo um rio imenso e caudaloso.

O Paraíso exposto enquanto eu abro
As pernas e penetro cada senda,
Iluminada noite, o candelabro
Cada minúcia adentra e já desvenda.

Relâmpagos cortando a nossa cama,
Os olhos faiscantes holofotes,
Esquece-se em prazeres tolo drama,
Os dedos decifrando tesos motes.

Farnéis abastecidos por luares,
Pecados, sacrilégios, céu e altares...



365

A mando deste sonho, um beija flor,
Achando que podia ser feliz.
Depois de tanto tempo quis a flor,
A flor que na verdade, sempre quis.

Porém tal flor com medo deste sonho,
Deitada sob os ventos da saudade,
Ao ver que o beija flor era tristonho,
Deixou de desejar felicidade...

Não sabe que no fundo tantas vezes
Amor vem sob as formas mais estranhas...
Passaram-se talvez uns poucos meses,
O beija flor fugiu para as montanhas...

Mal sabe que no fundo uma tristeza
A todo grande amor, traz a beleza...


366


A manhã me trazendo seus albores
E seus raios solares... sensação
Da abelha fecundando belas flores,
Na eterna primavera... coração!

A manhã, companheira dos amores,
Refaz a nossa vida, é solução
Para os noturnos medos, seus horrores,
Abrindo a porta, fecha a solidão!

Há tanta coisa mais interessante
Que acompanha os solares raios, vida...
As libélulas, pássaros, as cores...

Nossa vida passando em um instante...
A tristeza anestésica, esquecida...
A manhã vem trazendo seus albores...


367


A mansidão de um rio sem cascatas

Descendo para o mar sem ter percalços,

O vento desfilando sobre as matas...

Os sonhos se mostraram todos falsos...


As noites se passando, morrem frias,

O sol jamais de novo irá brilhar?

As mãos sem primavera estão vazias,

O medo se espalhou e ganhou ar...


Meu canto se perdendo, bem mais frágil,

Restando quase um nada... Nada mais...

Quem sabe talvez venha um bom presságio

Em forma de canção. Mas tanto faz


Talvez inda me reste um novo dia

Trazendo uma esperança em poesia...


368


A mão da solidão, mais fria e fina
Roçando meus lençóis, dentro de mim
Com toda a maciez, qual de cetim,
Prenuncia em sorrisos a ruína

Dos templos da esperança. A dura sina
De quem um dia teve em seu jardim
O perfumado sonho de jasmim,
E agora erva daninha já domina...

Nascendo em meu canteiro tais abrolhos
Deixando mais depressa cegos olhos
Heranças que ficaram por farol.

Negando qualquer sombra de beleza,
A vida vai seguindo a correnteza,
Quem dera renascesse em mim, o sol!


369


A mão deste infeliz rasgando a pele
Erguendo um brinde à sorte traiçoeira,
O bote da serpente me compele
À trama desleal, mas verdadeira.

Conhecimento humano que se atrele
À máscara cruel e lisonjeira
Que bebe do veneno e que repele
Qualquer alma mais nobre: ela se esgueira

Por entre as carcomidas esperanças,
Promessas de terror entre vinganças,
Deixando restos podres tão somente

Assim, a consciência coletiva
Matando com sarcasmo já me priva
Mostrando o seu sorriso de demente...


370

A mão do meu destino, sepulcral
Rasgando o que sobrara de ilusão
Rondando a solidão do mar astral
Impede qualquer forma de emoção

Que diste deste medo que ancestral
Transmite desde sempre a negação.
Nos sonhos quem outrora, magistral
Esboça pouco a pouco a podridão...

Somenos importante o que te digo,
Há coisas bem mais sólidas, eu sei.
Um verme aqui se expondo traz consigo

Antiga ladainha dos insanos...
Desculpe se te enfado, procurei
Noutras vertentes, trágicos enganos...


371


A mão escorregou, parou na coxa
Depois de viajar o corpo inteiro
Vontade sem juízo, heterodoxa
Traduz todo o matiz deste tinteiro.

Homólogo desejo eu catalogo
Etéreas emoções; a noite traz
Desejo o teu carinho e desde logo
Encontro o que eu buscara a pleno gás.

Na frouxidão depois do gozo pleno
Detalhes mais sutis: querer atento,
Prazeres que nos tocam, quando dreno
Tomando com vigor o pensamento.

De um mel feito em fartura, encantador,
Teu colo, minha amiga tem sabor

372

A mão que acaricia me maltrata
E traz este punhal por entre os dedos.
Quem dera conhecesse os seus segredos,
A vida não seria tão ingrata.

Não quero mais ouvir velha bravata
Tampouco reconheço estes enredos,
Os dias foram tolos, todos ledos,
Apertando este nó, tosca gravata.

Jamais conceberei uma saída
Que possa transformar a minha vida,
Ausência se tornando uma constância.

O quase ser feliz; nada mais vale,
Por mais que uma esperança ainda fale
O rumo está perdido desde a infância...


373

A mão que acaricia, em garra já se atreve.
A noite não permite o brilho em novo dia.
O canto que me deste, a dor o revestia.
No sol do nosso amor, o lume não se escreve.

De todo nosso sonho, a manhã morreu breve.
O que levamos? Nada. Amor não mais havia...
A lágrima forjada, a carícia mais fria.
Agora o tempo corre, a vida se faz leve!

Não sinto mais cansaço, esqueço o meu tormento.
Não quero mais mentira abraça-me a verdade.
Não quero nem aceito a tua piedade.

Notícias que me deste, espalho-as no vento.
A lágrima que corre, o sol que anda mais forte.
A voz tão engasgada, aguarda minha morte...


374



A mão que acaricio, vacilante,
Decerto não me trouxe um só momento,
Onde estarei liberto do tormento.
Em tudo que pensei, tão inconstante

Mas sei que tu carregas minha dor
Envolta nos teus olhos-azulejos,
Querendo teu desejo em meus desejos
Amando imensidão do teu amor.

Versejo meus momentos mais sutis
Buscando no matiz dos olhos teus
Espelho que reflita os olhos meus

Quem sabe, finalmente, ser feliz
Vivendo a fantasia que bem quis,
Sem ter sequer notícias de um adeus...


375


A mão que carinhosa traz amor,
Não deve ser deixada assim de lado,
Nos dedos divinais de um escultor,
Amor parece sempre engalanado...

Perfume que exalado desta flor,
Merece ser por Deus abençoado.
Inundam nossa vida de calor,
Deixando um coração desenfreado.

Mas quando maltratado, o coração,
Não queira que ele trague maciez,
Se feito com respeito e com paixão,

Amor sempre domina e satisfaz,
Porém quando o desprezo toma a vez,
Quem pode reclamar, quem é capaz?
376


A mão que engatilhara pega a pena
E mostra num segundo, transformado,
Um mundo diferente do passado,
E a sorte de um futuro bom se acena.

Palavra outrora rude vai amena,
O que é distante, não mais cobiçado,
Um sonho mais feliz sempre cantado
Deixando nossa vida bem serena...

Quem dera se assim fosse, meu amigo.
O mundo não teria mais problemas.
Mudando, de repente em outros lemas,

Trazendo o seu irmão, em forte abrigo.
Seria tudo belo, de verdade,
Se assim reinasse em nós, toda a amizade...



377

A mão que lapidando esta pepita
Transforma em jóia a pedra fria e bruta.
Silêncio dentro da alma, sabe e escuta
Nos sonhos, fantasias acredita.

Tu tens este poder em tua escrita,
Na mágica palavra, a tua luta
Eu louvo enquanto admiro esta conduta
Que tens para com todos, tão bendita.

Cativas com teus versos, poesias,
De métrica perfeita e nos ensina
Técnica de quem sabe e assim domina

Espalhando fulgores e magias.
Aceite deste pobre trovador,
Os versos que hoje faço qual louvor...
378

A mão que maltratando quem discorda
Criando preconceitos e deslizes
Arrebentando assim a frágil corda
Tornando os seus cordeiros infelizes.

Da forma mais canalha sempre aborda
Os pobres, os mendigos, meretrizes,
Enquanto o seu prelado nunca acorda
Permitem que se inventem novas crises.

Vendendo Jesus Cristo dia-a-dia,
A corja não se cansa de beber
O sangue do profeta em heresia.

Das chagas fazem rendas e fortunas
Usando da palavra ao bel prazer
Nas costas dos espíritas? Bordunas!

EM HOMENAGEM À POSIÇÃO CRIMINOSA DE UMA ALA DA IGREJA CATÓLICA INTOLERANTE E ABSURDAMENTE ANTI-CRISTÃ.


379

A mão que me acarinha esconde a faca
E ao mesmo tempo ri, se escancarando.
Na noite em que dormimos quando atraca
Ataca minha boca, me sugando.
Depois chamo ambulância e vou de maca
Mas volto noutra noite te buscando...

Refaço-me do susto e recomeço,
Bem sei que isto te faz, amada, forte.
Não vejo mais meu rumo ou endereço,
Aceito tão passivo a minha morte.
Talvez reste de tudo algum apreço

Mas sei que morrerei nos braços teus...
Bebendo do prazer em doce adeus..


380



A mão que nos acolhe e nos abriga
Em meio a tantas pedras no caminho,
Ao permitir que a marcha assim prossiga
Jamais me deixará seguir sozinho.

Palavra que se mostra mais amiga
Aquece com certeza o nosso ninho,
Na força da amizade, rara viga
Que amadurece como um belo vinho,

A cada novo dia, novo encanto,
Que nos permite sempre imaginar
Um mundo mais perfeito sob o manto

Que traz ao mesmo tempo a liberdade
Forrando nossa sorte, faz sonhar.
Trazendo para todos, claridade...

381


A mão que tanto apóia, sempre acena
Trazendo uma esperança pra quem sofre.
Não quero minha amiga tua pena,
Apenas quero a chave deste cofre

Aonde encontrarei tua amizade,
Em meio a duras guerras e tristezas,
Portando nos teus olhos, qualidade
Que mostra para tantos, tais belezas...

Não quero mais falar de dor imensa
Que a vida num momento desfraldou,
O custo em que se cobra a recompensa,
Não vale todo o tempo que passou.

Mas sei que tenho em ti, clara palavra
Pra quem plantando colhe em rica lavra...


382



A mão que te procura não se atreve
A mendigar carinhos, orgulhosa.
Quimera que me toma em alva neve,
Perdendo o bom perfume, nega a rosa,
Que o tempo que passamos não preserve
Sequer a tua luz, maravilhosa.

Sou aspas e parênteses, um til,
O resto do que foi um sonho lindo.
A morte tão voraz e mais sutil,
Aos poucos minha porta vai abrindo.
No toque delicado é bem sutil,
E em passos quase rápidos, vem vindo...

Sonego uma esperança, nego a sorte,
Na doce mansidão de minha morte..

383

A mão que um novo tempo esplêndido constrói
Gerando esta esperança aonde eu quis amor.
Trazendo ao meu canteiro, a mais sublime flor,
Por vezes; outro rumo emerge e quanto dói...

O sonho que a verdade estúpida destrói,
Algoz das ilusões, cenário a se compor
Em trágica loucura; amargando o sabor,
Assim uma esperança a vida em vão corrói...

Quem dera se eu pudesse ainda crer no sonho!
E o verso mais feliz que agora não componho
Expressaria além da face carcomida

Exposta em podridão, espelhos distorcidos...
Os dias que desnudo em cantos desvalidos
Mostrariam a luz enfim, já soerguida...


384


A marca da pantera em minha pele,
As unhas penetrantes rasgam fundo,
Enquanto ao Eldorado me compele
No corpo que faminto eu me aprofundo.

Bebendo a tempestade eu quero mais
E trago gota a gota de teu gim,
Alçando o pensamento, vendavais,
Trazendo todo o gozo que há em mim,

Hedônica promessa que se dá
Na nua maravilha em que se expõe
O gosto que decerto tomará
O novo amanhecer que amor compõe.

Trajando cada parte deste sonho,
Meu barco nos teus mares; recomponho...


385

A marca do cigarro que tu fumas,
O gosto da bebida em tua boca,
De costa para o mundo, nego as brumas,
E o vento da ilusão logo me toca.

As horas de prazer foram algumas,
O rio sem ter mar não desemboca,
Além do que desejas tu costumas
Falar da noite insana, cega e louca.

De tudo o que provei restou bagaço,
O verso mais estúpido que faço
Faltando este pedaço que sonegas.

Se estrelas são ainda nossos guias,
Eu quero que se danem poesias
Falando deste amor sem ter entregas...


386



A máscara medonha se levanta,
Dos restos, podridão deveras unta.
Nos olhos vermelhantes, sacripanta,
Da minha solidão já se besunta.

A noite que me poda, finge santa
Não passa de vergonha nem pergunta,
Sangria que me trazes cedo espanta
As larvas destas moscas dor conjunta...

Haverei de viver meus lassos dias,
Beirais monumentais são meus abismos...
Na máscara medonha as agonias,

Expressas no calor desta fornalha.
Os dentes serrilhados mostram trismos,
Na lama da minha alma, a vil batalha...


387

A massa que caminha, feito gado,
Arreios entre estribos e chicotes.
Nos olhos mais famintos dos coiotes
No lombo iniciais, corpo marcado.

O olhar já de nascença, derrotado,
As cobras preparando os mesmos botes,
Sem chance de saída, sem os botes,
Açoite disfarçado. De bom grado.

Amigo, o povo segue seu destino,
Correntes costumeiras, seus grilhões.
Enquanto o seu pastor, velho ladino,

Permite algum respiro, samba e gol,
O pensamento morre nos grotões,
E o sonho que era doce se acabou...


388



À meia luz brindemos nosso amor
Os beijos mais audazes preparamos
Enquanto com carinhos desfrutamos
Dos sonhos que permitam recompor

Caminhos que morrendo em tanta dor
Há tempos, malfazejos caminhamos,
Depois que num instante nos tocamos,
A vida renascendo, sem rancor...

Porém viva penumbra no meu peito,
Meu coração eterno insatisfeito,
Não deixa que se veja a luz suave.

Crepúsculos que trago de outras noites
Queimando em minhas costas, vis açoites
Impedem a alegria, duro entrave...


389

À meia noite a festa prometida,
Nos cabarés as luzes multicores,
Falando da ventura dos amores,
Da sorte a cada esquina, já perdida.

Nos olhos da mulher que me convida
Eu vejo refletidas tantas flores,
Bebendo no seu corpo estes licores
Eu tento retornar à minha vida.

No afã de ter somente uma alegria,
O olhar tão desejoso, assim recria
Imagens que vivemos... Mas perdi.

Depois de tantos passos, tempo afora,
O ritmo das orgias revigora,
Porém, inutilmente busco a ti...


390


A melodia acalma; suave som
Que invade a madrugada, ganha o dia.
Na boca da morena este batom
Roçando a minha pele com magia.

Recende a todo o bem que a vida trama
Num gesto em perfeição, sublime e audaz
Enquanto o dia nasce e o sol nos chama
A vida recomeça em pleno gás.

Suave transparência, camisola,
Teus seios delicados e bonitos
O pensamento clama, alma decola
Trazendo novamente loucos ritos.

A melodia invade e nos convida,
Amor não reconhece despedida...


391

A melodia agora está perdida,
Sem ter mais solução aguarda o corte
Procuro a poesia que me aborte
E mate em nascedouro a própria vida.

Imprópria pro consumo, despedida,
O medo acaricia quem suporte
De toda a solidão encontro o Norte
Mordendo as minhas mãos, há quem me agrida

Somente por dizer que amo demais.
Não falo mais de amor. Prefiro a paz,
Ou mesmo em outros temas canibais

Eu possa ter um pouco de sossego.
Desculpe se eu pensei tempos atrás
Que ainda houvesse amor. Agora eu nego...


392

A memória da vida sempre traz
Momentos tão difíceis que passei,
Olhando firmemente para trás
Percebo como tanto já sangrei.

Dizer desta ilusão de ser feliz
Que sempre acompanhava meu desterro,
Nem sempre conseguindo o que mais quis
Errando, pois se aprende mais com o erro.

Fiz versos, universos sem sentido,
Perdido neste espaço, sem ninguém.
Sem rumo, tantas vezes vou perdido
Na busca do descanso que não vem.

Ao ver-te enfim, deitada aqui do lado,
Esqueço minha dor; flor do cerrado...



393

A menina brincando com tinta
Pintando de esmeraldas o meu céu,
Ao mesmo tempo sonho enquanto pinta
Lambuzo de aquarela o meu corcel

Que vai pelos espaços, se retinta
Da tinta esparramada neste véu
Jogado nalgum canto. Nunca minta
Para menina, abelha, cera e mel.

Menina cavalgando o seu cavalo,
Desponta para o sol, menina-moça
Amor, castelo, toca num resvalo

O coração pacato da menina,
Formando da ilusão em gotas, poça
Paixão adolescente e genuína...

394

A merencória lua em noite pálida
Deitando em seus luares bela prata,
Amor que se fazendo de crisálida
Nascendo novamente, o sonho mata.

Beleza tão sutil, intensa e cálida
Calada, nada mostra e me arrebata,
A noite que se fora assim, inválida,
Tomando por refém palavra ingrata

Noctâmbula alegria se desfaz,
Esperança tropeça e quase cai,
Prazer que em vago rio já se esvai

E nada do que fomos, noite trás
Apenas o vazio deste cálice
Mostrando o derradeiro e fino cale-se!



395

A mesa posta, a cama bagunçada
Depois de tanto amor, minha querida
Manhã sempre contigo ensolarada,
Tu és a claridade em minha vida.
O medo de depois não haver nada
Se perda nesta luz bem concebida

Do amor que é nosso pão e nosso vinho
Afeto que nos leva à salvação.
De novo, meu amor, vem de mansinho
Que a vida se renova em emoção.
Desejo teu prazer e teu carinho
Regados por amor, por atenção..

Não deixe que se perca mais a sorte
Do amor que a cada dia é bem mais forte...


396


A mesa, a cama, a vida, sempre posta,
Banquetes em divinas iguarias.
Nudez em maravilha, agora exposta,
Convite às mais sublimes fantasias.

Peregrinação feita em noite insana,
Num misto de loucuras e carinhos.
A mão que se demonstra audaz profana
As sendas mais diversas, teus caminhos.

Orgásticas lições são reveladas,
Fronteiras? Desconheço totalmente.
Os vales e montanhas inundadas
Nesta explosão voraz e tão premente.

A lua nos rondando embevecida,
Entranha cada raio em nossa vida...


397



A mesma mão que amansa, sacrifica.
Em preces mentirosas se reveste
A falsa pedraria em roupa rica
Engodo pra quem usa e se veste.

A seta ludibria quando indica
O rumo das estrelas. Que se infeste
No amor que nada acalma, nada fica.
Encontra a solidão que o ateste.

Amor sem paz é quase incoercível
Só deixa vir caminhos tateantes.
Porém se gigantesco é invencível.

Resiste qual falésia à tempestade.
Permite novos sonhos delirantes
Demonstra no seu rumo, a liberdade...


398


A mestra dos embustes já chegou!
Sentada na primeira fila ri.
Neste intervalo inerte em que saí,
A máscara que usava se quedou...

Ilusionista mentes. Mas já vou
O meu futuro está longe daqui.
Nas metas que prometes perco o gol,
Nos mares onde afogas, me perdi

Vencida pelas tramas em que mentes
Teu mundo de repente está caindo.
As presas que me mostras, de serpentes

No riso que falsária finges lindo...
A mestra dos embustes já me chama,
- Vem logo que incendeio até a cama...


399

A minha alma ecoando busca a tua,
Nessas fráguas, as mágoas queimam, tanto...
Amiga, me permita teu encanto,
Talvez, um dia, venhas bela e nua

Nas noites que imagino, minha lua...
Respiro seus venenos, lentos, pranto...
Amor divino, cego, louco, santo,
A cada dia, a dor vem, continua...

O vento e madrugada, nova dança;
Nas estradas, atalhos d’esperança
Levam ao nada, nada, simples nada...

Caminhemos distintos caminhares,
Naveguemos por mares, por vagares
Que, afinal, voltarão por essa estrada...



400


A minha alma embuçada nas torturas.
Um sino repicando esta saudade...
No gosto mais amargo, as desventuras
Nas neves que me deste, frialdade.

Num tempo bem distante das ternuras
Chuvosas cordilheiras, tempestade...
Amores necessitam de branduras
Sem elas; impossível liberdade...

Destino me levando pr’outra estrada
As noites esquecidas trazem nada.
O vento? A calmaria desconhece...

Meu canto transtornado, uivo e prece
O resto do que fui já não existe...
O mundo que me deste, morre triste...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
Data
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