Mirava com atenção o lápis que me corria o pé de um lado ao outro, riscando-me as cócegas do desenho no cartão. O dedo grande tinha crescido mais do que devia e já não me cabia nos sapatos que tinha...
Da feira, trouxeram-me então umas sandálias azuis-escuras novinhas em folha.
Não eram bonitas nem nada, mas tinham umas tiras de lado, que, quando as prendia na minúscula fivela doirada, faziam com que resplandecessem ao sol. Pena era, que não me servissem. Nada que uns chumaços de papel bem aplicados pelo lado de dentro, não resolvessem. O meu pai dizia que era para durarem mais...
Quem me mandava a mim ter uns pés que mais pareciam os do pateta e para cúmulo não paravam de crescer!
Ainda assim, e movida pela emoção de ter
uns sapatos novos de sair, não havia nada que me impedisse de acordar de noite, acender a luz da mesinha de cabeceira e olha-los em silêncio uma e outra vez, enquanto me crescia no peito uma felicidade sem fim.