I
Calem-se as vozes dos pobres de espírito,
deixem que se ouçam as vozes de mim,
eu calo o que sou para ouvir
o que me és a preencher-me.
A noite rasga-me o peito,
assalta-me o coração.
Calem-se os barulhos e os silêncios sem norte.
Tudo é aqui e agora neste instante.
Calo a vida,
calo o tempo,
calo tudo num momento
só para te sentir a seguir.
II
Calei-me…
Cruzei os braços a essa dor mas ergui a cabeça,
E antes que ela se escondesse debaixo da mesa,
Puxei do gatilho e matei-a ali mesmo.
Calei-me…
Guardei segredo, não disse nada,
Só em mim ardia uma dor que fora calada.
Deixa calar-se!
Enchi o peito de ar e gritei eu.
III
Ouves os cânticos de anunciação?
Os sinos a bradar aos céus?
As renúncias de tempos meus
que agora calo em segredo com medo de perder.
Os meus tempos sei-os eu de cor,
ninguém nesta vida tem o poder de esquecer
num instante quem aprendeu amar.
Mas calo o amor dentro de mim
para que as confusões passem,
Calo tudo num segundo para que não exista motivo para alarme.
IV
Resolvi num repente vadio de mim
Calar-me pela primeira vez.
Devolveste-me um eco quieto e parado,
revelado no aceno desse triste e enfadonho adeus.
Deixei que te fosses nessa manhã
calada subi os degraus da minha alma só para te ver desaparecer no horizonte.
Calei a fonte amor,
Calei a fonte de mim,
Morrendo de sede sucumbi à dor de perder-te.
Até isso eu calei em mim…
V
Vá lá cala-me com um beijo,
Deixa que me revele devagar
por entre a espuma dos dias que por ti passam.
Encosta os teus lábios nos meus,
quanta ternura!
Depois cala-me com um beijo e foge para o teu Reino encantado.
Tu não pertences a esta história.
VI
A chuva cala-se para me ver passar,
a minha alma está dorida de tanta saudade,
O tempo inclina-se só para me segredar mil e uma cantigas.
Eu já não sei,
Eu já me perdi,
Sem rumo certo deixo que tudo pare,
Um grito solto.
Uma dor que morreu.
Um coração que se calou.
Calem-se lá por favor…
retirado da minha mais recente casa http://petalas-da-alma.blogspot.com/ , onde tenho aprendido em segredo a calar a dor e a escrever poesia.
. façam de conta que eu não estive cá .