Poemas : 

DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

 
Três epígrafes:

"Tenho medo de ter medo."
(do então arcebispo de São Paulo,
dom Paulo Evaristo, cardeal Arns,
numa entrevista que me concedeu para
a revista Manchete, sobre suas descidas
aos porões da ditadura, em defesa dos
presos políticos.)

"Humano, assim como ele foi, só podia
ser Deus mesmo."
(Leonardo Boff, teólogo e escritor brasileiro, sobre Jesus Cristo.Leonardo, ex-frade franciscano, foi banido da Igreja Católica, pelo cardeal Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, por seu livro Igreja: Carisma e Poder, proibido pelo Vaticano.)

"Com Bento XVI, a Igreja Católica tende a cair no ridículo."
(Leonardo Boff também)

A Teologia da Libertação foi um movimento surgido no início dos anos 1970 na América Latina. Mas não pertenceu apenas à Igreja Católica, mas a todas as igrejas cristãs. De início, apareceu entre os católicos progressistas, que se juntaram a todas as outras correntes também progressistas -protestantes e metodistas - tendo como lema principal a opção preferencial pelos pobres.
A América Latina vivia subjugada pelas ditaduras e a crueldade do capitalismo. Dizem que surgiu no Peru, com o sacerdote e teólogo Ernesto Gutierrez. Mas o nome, ao que parece, foi dado pelo bispo brasileiro dom Hélder Câmara, um dos mais legítimos representantes do movimento, chamado o "Bispo Vermelho".
Na verdade,o embrião da Teologia da Libertação vai nascer durante um encontro de bispos em Roma, no Vaticano II, iniciado durante o pontificado de João XXIII - talvez o pontífice mais querido - e concluído - se é que foi - pelo progressista Paulo VI, cardeal Giovanni Montinni.
Foi nas catacumbas de Santa Domitila, em Roma, que bispos católicos tiraram seus anéis episcopais, substituindo-os por uma aliança de casca de coco, usada também por sacerdotes e leigos simpatizantes, símbolizando a opção preferencial pelos pobres.
Era a verdadeira igreja de Cristo, aquele que nasceu pobre numa estrebaria, em Belém, e faria o chefe da sua igreja,Pedro, um rude pescador, num barco tosco, não num palácio renascentista.
Ninguém mais rebelde e político do que Cristo. Foi escolher seus doze amigos no meio de homens simples. Ninguém gritou como ele contra os abusivos impostos de Roma.
Na época em que surgiu a Teologia da Libertação, a América Latina vivia massacrada por um país que só soube explorar os povos menores. Os países latino-americanos, inclui-se o Brasil, exclua-se Cuba, com o corajoso Fidel Castro, estavam entregues a militares canalhas, a mando dos Estados Unidos. A ala progressista da Igreja Católica também tomou as dores dessa exploração, desse massacre. Apoiou-se também em teorias marxistas, em defesa da igualdade. No Brasil, foram criadas as comunidades eclesiais de base (CEBs), o que custou também a prisão e tortura de muitos religiosos, entre eles o escritor e frade dominicano Frei Betto, o Betto - ele não quis receber a ordem, portanto é irmão leigo consagrado_, acabou condenado à prisão. Frei Tito de Alencar Lima, bastante jovem, também filho de São Domingos, enlouqueceu de tanto apanhar da ditadura. Sua ordem o mandou para a França, para ver se recuperava a saúde,tamanha as judiações que sofreu. Mas, na França, Tito acabou se matando, enforcado numa árvore, porque sempre enxergava a figura do seu carrasco, o delegado Sérgio Fleury, chefe da polícia política.
Com a entronização de João Paulo II ao papado, o movimento começou a enfraquecer. De início, João Paulo chegou a apoiá-lo. Influenciado, porém, pelo cardeal nazista Joseph Ratzinger, que viria a sucedê-lo,com o nome de Bento XVI, passou a atacar o movimento. Humilhou, em Manágua, num estádio lotado, o padre e poeta Ernesto Cardenal, por ter apoiado à revolução sandinista e depois aceito o cargo de ministro da Cultura do governo revolucionário. O mundo inteiro assistiu à arrogância de João Paulo, apontando o dedo para Cardenal, que humilde se pôs de joelhos e baixou a cabeça, sem, no entanto abandonar seu ideal.
Ratzinger era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé - nome camuflado do Santo Ofício, o Tribunal da Inquisição.
No Brasil,tido como um dos maiores teólogos do mundo - ele só fala nove línguas, inclusive grego clássico e hebraico -, perseguido pelo Vaticano, Leonardo Boff pediu dispensa dos seus votos para não ser mais humilhado. Seu livro Igreja:Carisma e Poder foi proibido. Léo casou-se com sua secretária, Márcia, o que não o impediu de ser o grande teólogo.
Com a Teologia da Libertação, a Igreja Católica, sempre misógena, abriu espaço à mulher, que então só servia para enfeitar altares. Surgem notáveis, como a agostiniana Ivone Gebara, condenada ao silêncio obsequioso , uma terrível punição que a Igreja impõe a quem fala demais. Feminista, a reliosa, teóloga e filósofa, manifestou-se favorável à mulher poder decidir sobre seu corpo. E por ser favorável ao aborto foi punida.
Assassinatos também ocorreram. Em El Salvador, o arcebispo dom Oscar Romero foi assassinado, por ordem do governo direitista, no altar quando celebrava a Eucaristia. Dom Helder Câmara viveu sob ameaças: havia um complô para sequestrá-lo e atirá-lo ao mar, por iniciativa do louco João Paulo Burnier, brigadeiro da Aeronáutica, o mesmo que mandou explodir o Rio-Centro, durante um show de Chico Buarque. Dom Paulo Evaristo sofreu atentado na República Dominicana: um acidente de automóvel não bem explicado até hoje. Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia e poeta, uma região de conflitos até hoje, por ser espanhol, foi ameaçado de extradição várias vezes.
Bento XVI, o nazista que quis a volta da missa em latim e de costas, venceu. Os bispos vermelhos foram aposentados. Muitos sacerdotes progressistas abandonaram a Igreja Católica. A Teologia da Libertação acabou. Agora, como bem disse Leonardo Boff, que caia a igreja de Bento XVI no ridículo de vez.Parece que já caiu.

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Júlio Saraiva

 
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Julio Saraiva
 
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Enviado por Tópico
Karla Bardanza
Publicado: 16/11/2010 19:18  Atualizado: 16/11/2010 19:18
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 Re: DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
Ju,

Não sou católica e abandonei muito de minhas crenças numa total mudança.Para mim, a igreja faliu há muito tempo.Ela sempre naturalizou a dominação.Segundo Pierre Bordieau:
“A estrutura das relações entre o campo religioso e o campo do poder comanda, em cada conjuntura, a configuração da estrutura das relações constitutivas do campo religioso que cumpre uma função externa de legitimação da ordem estabelecida na medida em que a manutenção da ordem simbólica contribui diretamente para a manutenção da ordem política”.
Portanto, a libertação está longe de ser alcaçada e entendida.Que caia tudo então.

Beijo

Karla B