Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 003

 
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201



A flor de uma esperança ganha viço
Mudando num momento o meu jardim,
O amor que se fez mágoa, vil, postiço
Morrendo pouco a pouco dentro em mim.
O sol do novo amor, ora cobiço,
Matando essa tristeza, agora, enfim.

A sorte deste sonho em claro assédio,
Carrega toda a luz dentro de si.
Percebo que encontrei raro remédio
Deixando para trás o que vivi.
O tempo que tivera em puro tédio
Garanto, meu amor, eu esqueci.

Manhã que renasceu, em paz, sorrindo,
Mostrando o sol intenso, claro e lindo...


202

A flor do sonho trouxe primavera
A quem tanto queria um manso cais.
Um doce sentimento em mim impera;
Te peço, meu amor, não vá jamais!

A noite vem pousando suas asas
E cobre meu desejo de carinhos.
Sem perceber me perco em tuas brasas
Deitados como simples passarinhos...

Ninguém sabe entender, mas não me importo,
Não quero importunar com meus segredos.
Na carne, se preciso eu mesmo corto,
Apenas não mais cabem tantos medos.

Eu te amo sem transtorno e sem pavor,
Pois Deus abençoou o nosso amor!

203

A flor dos meus receios, temporã,
Aflora em nosso caso, triste amor...
Quem já guardou no peito um talismã
Adormece tremido de pavor...

Vivemos nas esperas, nosso afã
Angústias transformadas em rancor.
A vida desespera e passa vã
Não tenho mais comigo o teu calor.

A flor dos meus desejos, despetala,
Não deixa nem perfume nem saudade...
A voz que enamorada, sempre cala.

Quem sabe restará qualquer estima
Do amor que vai morrendo e que se prima
Por ser além de tudo, uma amizade...

204


A flor mais bela e rara que encontrei
Em meio a tantas ervas mais daninhas,
Mostrando todo o sonho que plantei

Nas ilusões mais caras, todas minhas.
Ao vento do carinho me entreguei
Numa esperança toda de andorinhas...

Na cândida certeza de vitória
Meus passos tropeçaram, egoísmos.
Invés de mil sorrisos, os de glória,
Senti destes amores, cataclismos.

Mas antes que esta vida se maldiga,
Refeito destas dores; a verdade,
Te digo, minha amada, minha amiga,
Eu tenho esta esperança, uma amizade...


205


A flor mais delicada ganha viço
Nos olhos do faminto aventureiro.
Do sangue tão ardente de um mestiço
O gozo se mostrando por inteiro.

Quem dorme no relento em pedregulhos,
Ao ter cama cheirosa se deleita,
Porém prazer imenso traz barulhos
Tremendo como febre de maleita.

A moça com gemidos e sussurros,
Olhando para o lado, o coronel,
Não vendo mais ninguém, desfere murros
Criando no final este escarcéu.

A bala do jagunço em mira certa
Uma alma desta vida se deserta...
Marcos Loures



206


A flor que desejo,
Distante de mim.
No sonho que vejo,
Eu te canto assim:

Nas horas mais difíceis, sofrimento,
A rosa, em seu perfume, me inebria.
Na sensação gostosa deste vento
Toda emoção, serena, e tão macia.

Do sonho de poder, a flor tocar,
Em todas suas pétalas, carinho...
Jardim dos sentimentos, cultivar,
Certeza de não ser, jamais, sozinho.

A flor que me encantou, está distante.
Só sinto seu aroma e nada mais.
Quem dera se esta rosa deslumbrante
Ouvisse o meu cantar de amor e paz...

Espero te encontrar. Ah! Quem me dera!
Seria renascer a primavera!



207


A flor que é divindade marcescível
Em pétalas debulha tantos hinos...
Amor que se pensara intransponível,
Lateja o coração destes meninos...

Carinho constelar tão impassível,
Se mostra guardião, vários destinos...
No caule destas flores mais flexível,
Desejos se demonstram, mansos, finos...

Resistem a qualquer pressentimento,
Vagueiam pelas hordas estelares...
Jamais se dobrarão ao forte vento.

A flor, embora morta, sobrevive
Nos olhos dos amores, dos luares...
Deste mago pendor, não há quem prive...


208

A flor que eu cultivei pra sempre viva
Expressa a fortaleza de um canteiro
Estendo minhas mãos, a alma cultiva
Promessa de um amor mais verdadeiro.

O cheiro que entranhaste dentro em mim,
Decerto que jamais eu perderei.
Amor o mais perfeito espadachim
Defende com firmeza a sua lei.

O tanto que eu te quero não se mede,
Apenas se vislumbra no infinito.
Nem mesmo a solidão agora impede
O sonho mais audaz, sempre bonito.

De ter por companhia benfazeja
A luz desta mulher que se deseja...


209

A flor que nasce em plena solidão
Nas lágrimas encontra adubação
Raiando numa amarga escuridão
Trazendo em suas pétalas, perdão

Perfuma com nobreza um coração
Que entregue ao seu poder de sedução
Já sabe sonegar a negação
E vive sem temor e sem senão.

Não deixe que esta flor morra, querida,
É nela que eu encontro o raro aroma
Razão fundamental para esta vida

Jogada há tantos anos, sem jardim.
E quando a fantasia, chega e toma
Eu vejo florescer a luz em mim...




210


A flor que num desejo vai se abrindo
Permite em leve orgasmo um colibri
Que aos poucos no prazer que vai sentindo
Espalha os seus desejos sobre ti.

Teu corpo com vontades se vestindo,
Desnudo e descoberto chega aqui
E trama nosso jogo ardente e lindo,
Delícia sensual. Dela eu bebi.

Tocada pelas ânsias desejosas,
Espalhas teu rocio pelas rosas
E fazes florescer belo jardim.

Um beija flor, vagando em liberdade,
Tomado por prazer e por vontade,
Revoa sem limites, dentro em mim...



211

A flor que um dia renasceu feliz
No peito de quem teve todo o amor
Num átimo se adere em cicatriz
Tomando todo o corpo, sedutor.
Fazendo deste corpo o que bem quis,
Escravo sem juízo desta flor...

Bebendo cada gole desta história,
Revendo o que passou, passo por passo,
Amar é reviver, guardar memória
Do que já se perdeu em rumo, espaço,
E reverter a dor em fina glória
Na devoção sincera de um abraço...

Assim comigo foi, flor do cerrado,
Meu verso se mostrando extasiado...



212


A flor que, no jardim, floresce rara,
De cores maviosas já me tinge
Na solidão feroz vem e me ampara,
Enigmaticamente, minha esfinge

Com mansidão devora; eu me rendo,
Ao doce aroma intenso desta flor,
Em ramas delicadas me envolvendo,
Perfume sensual e sedutor...

Um jardineiro atento em primavera
Sabendo desta flor em brônzea pele,
Vive pacientemente toda espera
Embora todo o sonho sempre atrele

Às pétalas da flor, ouro sonhado,
Plantado em jardim calmo, no cerrado...



213


A fome de poder entrar em ti,
Insaciável noite vai sem fim,
Na fúria em que deveras te comi,
Teu gozo derramaste sobre mim.

Além do teu desejo inesgotável,
Enfio de mansinho, frente e atrás,
A fonte do prazer inexorável,
Desejos em volúpia sempre traz.

Requebras tuas ancas quando engoles,
Até que te sacie, bem vadia.
Enquanto sobre mim, cavalgas, boles,
A gente se entregando em pura orgia.

Assim, como bacantes noite afora,
E cada novo orgasmo revigora...


214


A fome de viver adentra o mar,
Balanços destas ondas; vão e vem,
Meu coração perdeu o rumo e o trem,
Não tendo muita coisa pra contar.

Rastejo nas areias, ao luar
E o tempo de sonhar inda não tem
O braço bem mais forte de outro alguém
Que possa me ajudar a caminhar.

Acendo uma fogueira do meu jeito,
Assando com ternura o velho peito
Farrapos estendidos da ilusão...

Quem tem como estandarte, o sofrimento,
Fazendo da esperança o seu ungüento
Esquece a dor de outrora, arrisca o chão...


215


A fome de viver me faz contente,
Mostrando cada passo displicente
Na busca de um futuro mais ardente
No amor que cedo chega e se pressente.

Vivendo com vontade e plenamente,
O meu peito esfaimado, de repente
Percebe como é doce e tão ardente
O amor que é todo nosso. Só da gente.

Felicidade sempre é tão premente,
Quem nunca amou na vida, sempre mente,
O quanto a fantasia é envolvente

Banquete dos sentidos enlanguescente
Deitada em minha cama sabe e sente
Do amor que se faz pleno e mais urgente...



216


A fome nos guiava sem piedade.
Nos olhos miseráveis, esperança.
Desértica injustiça, na verdade,
Mostrando este flagelo numa lança..

Sabia que jamais iria ter
O gosto da pelúcia e do vinil.
A cama de capim nos vai dizer
Que o céu doutros lugares, mais anil...

Na fome de justiça, calejados,
Nessas barracas soltas nas estradas.
Os céus que nos olhavam, estrelados,
Extremas claridades desenhadas.

E vendo neste céu belos matizes,
Na cicatriz exposta, tão felizes!


217

A fonte delicada em que me banho
Nas noites em que vens bela e desnuda,
Vontade de te ter, gozo tamanho
A boca tão sedenta que me acuda

Em lábios desejosos, carmesim
Nas rubras ardentias na fogueira
Que queima intensamente até o fim,
Na insânia que se molda feiticeira

Recebo em minha boca, inundação,
Que emana desta gruta em doce ardência
Seguindo par a par, sofreguidão
Distante do juízo e da prudência,

Eu quero em cada orgasmo que tiveres,
Provar deste banquete em mil talheres...



218

A fonte do prazer jamais esgoto
E deixo a vida sempre me levar
Além deste infinito tão remoto
Maior que toda a força deste mar.

Eu sei que nada mais me impedirá
De ter o que sonhara o tempo inteiro
Por isso é que eu desejo desde já
Amor que seja sempre verdadeiro,

Hospedo no teu corpo essa vontade
De sempre querer tanto e muito mais.
De toda esta ternura que me invade
Carícias em delírios sensuais.

Quais fossem duas loucas andarilhas,
Minhas mãos apalpando maravilhas.



219


A fonte dos desejos já se alcança
Emblemática luz que assim me guia.
Ao ter em teu carinho tal fiança
A vida se entranhando em poesia.

Perguntas que não faço e nem pretendo
Caladas no meu peito me transtornam,
O quanto tão distante ando vivendo
Silêncios em respostas se retornam.

Rodando em noites vagas bar em bar
Recolho estas mensagens que deixaste.
A vida vem num lento transformar
Criando a cada noite este contraste.

No amor que eu encontrei a salvação
Eu bebo toda angústia em perdição...



220


A fonte inesgotável da beleza
Nos seios da morena mais faceira,
Bebendo deste gozo em corredeira,
Encontro a mais sublime fortaleza.

Sabendo dos teus sonhos de princesa,
A terra se derrama alvissareira
Nem mesmo a solidão tão traiçoeira
Vem contra uma alegria em correnteza.

Nos dóceis braços ninhos mais perfeitos,
Um canto idealizado e tão feliz,
Os rios vão seguindo mansos leitos

Eterna claridade a cada olhar
Trazendo a suavidade que prediz
O tempo de viver e de sonhar...


221

A fonte das esperas dita amor
Reinando sobre os passos que daria
Ousando muito além da fantasia
E nisto cada dia a se compor,

Vestindo este cenário redentor
Redime cada passo em agonia
E gesta o que deveras me traria
Cerzindo em primavera a rara flor.

Espero pelo fim e nada vindo,
O todo se deseja quase infindo
E nisto mergulhara uma esperança.

Mas quando me imagino em liberdade
O passo noutro engodo agora evade
E a sorte em desavença enfim me cansa.


222

A fonte inesgotável que sacia
Desejos e vontades mais ardentes,
Tomando nosso amor em noite e dia
Em lábios mais vorazes e tão quentes.

Recebo teu amor com alegria
Nos fogos delicados e prementes,
Em chama tão possante, em tal magia
Que morde e quando assopra crava os dentes.

Lambendo desta fonte com desejos,
Encontro delicadas maravilhas
Rondando ferozmente com meus beijos

Adentro por divinas, belas trilhas,
E mato a minha sede num segundo
No fogo em profusão, vulcão profundo...

223


A fonte insaciável desvendada,
Derrama-se em riacho, ganha o mar.
O quanto procurei numa alvorada
O sol que nunca veio me dourar.
Ao ver a mansidão anunciada
Nos braços da mulher vou me entregar

Na dança, a contradança prometida,
Nos olhos o farol que assim me guia,
Mudando todo o rumo desta vida,
Eu posso perceber farta alegria,
A solidão se esvai, vaga perdida
Morrendo pouco a pouco, a cada dia.

Ao léu vai se perdendo o desengano,
E o tempo vai passando soberano.


224


A fonte luminosa do prazer
Estampada nos olhos de quem amo,
Permite num momento perceber
A vida sem senzala, escravo ou amo.

Cativas com sublime liberdade
Expressa na completa fantasia,
Em espirais encontro na verdade
O quanto farto amor desejaria.

Sentir completamente esta presença
Que muda, num segundo, a minha rota,
O coração liberto sempre pensa
Na luz que dos teus olhos vem e brota.

Segredo desvendado, aberta a porta,
O sentimento em ti, feliz aporta..


225


A fonte tão distante mata a sede
De quem perde ilusão pela vida.
Desancando esta sorte, resta a rede
Levando o corpo em despedida.
Nem ao menos retrato na parede
Resta desta pobre alma assim perdida...

A seca da esperança mata a fonte
Tornando este deserto traiçoeiro
Sem lua que renasça no horizonte
Sem brilho que se mostre por inteiro
Nem há sorte final que se desconte
Do tempo que jamais foi companheiro.

Para alma que perdeu a virgindade
Só resta um bom remédio; uma amizade!


226


A força alentadora da amizade
Permite a mais suave caminhada.
Romper do sofrimento a velha grade
Tristeza se perdendo em revoada.

Negar tal sentimento ninguém há de
E se ele em calmaria tanto agrada
A gente conhecendo a liberdade
Não teme com certeza, quase nada.

Será que não podemos ter o viço
Do gozo deste amor sem compromisso
Que faz com que esta vida siga em paz.

Se o ser humano nega este poder,
Condena-se, por certo ao desprazer,
E mostra-se no fundo um incapaz...


227

A força da amizade é soberana
E de um fonte rara feita luz,
Trazendo para a luta tanta gana
Que ao mesmo tempo traz e nos conduz.

Quem tem esta certeza se engalana
Do brilho mais intenso e reproduz
Inesgotável chama soberana,
Reflexos que nos mostram quase nus.

Aperceber do quanto revigora
Mudando muitas vezes nossos passos,
Ao estreitar mais firmes nós e laços,

As tramas deciframos sem demora,
E nestas teias preso, sigo em frente,
Vencendo estas batalhas, tenramente...


228

A força da humildade não se esgota,
E nela, a mansidão de quem conhece
Que a vida traz Amor por tenra prece
E vence toda a seca, gota a gota.

Uma alma em desamor se perde, rota
E aos poucos, com certeza ela apodrece,
Distante do que quer, do que apetece
Tornando a glória em paz, bem mais remota.

Nas bem aventuranças, um pastor
Dizendo deste Amor que nada pede,
E sem outros desejos se concede

Fazendo da alegria o seu louvor
Trará felicidade para quem
Reconhece na paz seu grande bem...


229

A força da poesia em cada verso
Nos mostra todo encanto de viver.
Transporta pro papel um universo
Que cismo, de repente, em percorrer.
Daquilo que sabe, mais diverso,
Disperso em tanto sonho me faz crer

Que a fantasia borda a realidade
E forma num momento, um novo mundo.
Espaços percorridos, na verdade,
Se perdem e se ganham num segundo.
Fazendo da emoção que nos invade
O mote que nos toca, o mais profundo...

Por isso minha amiga, um peito alado,
Voando para além do imaginado...



230

A força de um amor que nos conquista
Eternizando a nossa juventude.
A sorte abandonada já se avista
Inunda novamente todo o açude.

O coração moleque, sempre artista,
Refaz em nossos dias a atitude
Numa beleza rara que se assista
O renascer dos sonhos, traz saúde.

Amiga, nunca tema o santo amor.
É forte tempestade que não passa.
Mostrando que o perfume de uma flor

É feito de alegria e de esperança.
Destino, com certeza não se traça,
É tempo de vivermos nossa dança!


231

A força desse amor que sei divino,
Insuperável canto da amizade.
Torna-me, de repente num menino,
Querendo assim, de todos, irmandade.

Trilhando no caminho da verdade
Que é feito sem temor e desatino,
Mudando toda história e meu destino,
Saber, permite solidariedade...

Vencendo mil temores, cardos, urzes...
Espinhos, pedregulhos, desamores.
Não permitindo mais terríveis cruzes,

Abrindo uma vereda em temperança.
Pintando nosso céu de mansas cores,
Já verdejando os olhos da esperança...


232


A força deste beijo não sacia
A quem louco desejo explode em fogo,
Por mais que tanto amor eu sei que havia
Preciso muito além que um simples jogo.

Eu quero uma paixão cega e vadia,
Que venha derramar-se em desafogo,
No gozo abençoando o dia a dia,
Sem roupas e juízo. Venha logo

Que a chama não se aplaca só com sarro,
No banco da pracinha, mato ou carro,
Eu quero intensidade sem frescura,

Não traga mais um álibi, querida,
Que a noite tem que ser bem resolvida,
Senão o amor padece na secura...


233


A força deste mar, tensa procela,
Tramando em vastidão a recompensa
Vencido pela dor que sei imensa,
Saudade de quem fora minha estrela.

Vontade a cada dia de revê-la
Embora a noite venha sempre tensa,
Meu canto em harmonia se revela
Na força desta luz que é tão intensa.

Envolto pelos braços da tristeza,
As mãos entorpecidas de quem reza
Sonhando com um dia mais contente.

Tramando amanhecer num outro dia
Distante da amargura e da agonia,
Sorrisos de esperança, finalmente...


234


A força do desejo pulsa forte...
Cabe-nos simplesmente não temer.
Se a vida nos promete um novo corte,
É necessário, sempre, perceber

Pelas ruas dos sonhos; que se aporte
O novo; meus desejos vão vencer!
Quem fora crueldade perca a sorte,
Que nunca mais respire um bem querer!

Nas margens violentas desses rios
Canções abençoadas viram hinos.
Não se permitam tétricos desvios.

Que a coragem de todos os meninos,
Seja a força maior. Seus desafios
Nos tragam novos dias, cristalinos!


235


A força em esperança se renova
Fulgura em cada verso, revela o sonho.
Supera qualquer dura e triste prova
Garante este porvir bem mais risonho.

Barreiras e ressaltos superados
Com calma e com total serenidade;
Os raios matinais ensolarados,
Permitem nos pensar eternidade.

Tu sabes como é dura a caminhada
Daqueles que viveram por amor.
Degraus que justificam esta escada
Numa escalada firme e sem temor.

Na busca deste sonho mais preciso,
A porta procurada: o paraíso...



236

A força insuperável do que é belo
Não pode sucumbir e vencerá,
Por mais que seja humilde este castelo,
Imerso em realeza desde já

Bom lavrador conhece o seu rastelo,
E sempre belos frutos colherá;
No canto que encantado eu te revelo,
O verso em harmonia vencerá

Porém é necessário ter talento,
E saiba que tens minha admiração
Fazendo do soneto, louvação,

Permita que eu expresse num momento,
O quanto que aprendi tendo comigo
Os teus ensinamentos, mestre e amigo.
237


A força necessária pra batalha
Por vezes já não basta, minha amiga.
O corte que aprofunda enquanto talha
Não deixa que o caminho, vão, prossiga.

O tanto que se entranha da navalha
Arrebenta decerto a dura viga,
O vento em tempestade, tudo espalha
E no final de tudo, desabriga.

Porém quando irmanados não tememos,
Sabemos desta força inexorável
Unindo nossas mãos em vários remos

Atravessamos sempre a correnteza.
Além do que é possível, imaginável,
Se juntos, bem mais fortes, com certeza!


238

A força que demonstra uma união
Jamais permitirá que o mal nos vença
Quem tem este desejo em profusão,
Aqui terá decerto a recompensa.

Os medos em real arribação
Ao ver este poder em força imensa.
Deixando para trás desilusão
A vida em amizade é menos tensa.

O quanto em cada verso louvo a fé
Naquele que se fez simples cordeiro,
Amando com certeza o mundo inteiro

Jogado nas masmorras, na galé
Vencendo em mansidão dura tortura,
Ensinou o poder de uma brandura...


239

A força que me doma está disforme
Em pútrida garganta se regala,
Estúpida esperança que não dorme,
Espreita silenciosa em minha sala.
Um coração afeito a coliforme
Em látegos castigos, nada fala

Errantes emoções, podre destino,
Num abissal e tétrico sorriso,
Revirando minha alma em desatino,
Prenúncios esgarçados num aviso.
No vago de teus olhos me alucino
E louco, a dor espúria, logo biso.

No centro de meu mundo uma discórdia
Somente uma mentira, vai, acode-a...


240


A força que não teme a correnteza
Enfrenta as corredeiras, ganha a foz,
Escuto a claridade desta voz
Que trama em minha vida tal beleza.

Sabendo quanto a vida sempre preza
Aquele que se dá vencendo o algoz
Lega ao esquecimento a dor atroz
Deixando sempre farta a nossa mesa

Não creio ser possível desprezar
O sentimento nobre que sem par
Transforma o nosso dia, triunfal.

Aos poucos me domando o pensamento
Trazendo em glória cada bom momento
O amor vai se tornando sem igual.



241

À forceps retirado das entranhas
Da boçal matriarca da matilha,
Bebendo da vergasta, quando apanhas
Masmorra e cadafalso a besta trilha.

Nos esgotos mais pútridos as sanhas
Da velha alma canalha, uma andarilha,
Aprende com os vermes suas manhas,
Prepara a cada riso, uma armadilha.

Hematófago inseto. A carcomida
Carapaça que esconde a podre vida
Recobre este molambo que respira.

Herético fantasma lambe a merda
Que escorre e toma os lábios, cada cerda
Empapuçada, e um beijo a esmo atira...



242

A formosa morena que deixou
Meu coração sofrendo em cachoeira,
De lágrimas o chão já se alagou,
E nada de voltar moça trigueira.

Na casa de sapé, tanto ventou
Que um dia desabou a casa inteira,
Somente o seu retrato lá ficou
Mostrando o quanto a sorte é traiçoeira.

O rio vai correndo no sertão
As águas; eu bem sei, vão dar no mar,
As lágrimas fazendo migração

Decerto encontrarão linda morena
Que um dia ao perceber a água salgar
Talvez volte pra mim, mesmo por pena...


243

A fralda da morena em minha boca
A boca se desfralda na morena,
A noite vai passando muito louca
Enquanto sem ter fralda amor acena.

Depois devagarinho já se esbalda,
Molhando minha boca com rocio...
Delícia da morena sem ter fralda
Desfralda toda noite imenso cio.

De tanto que ela goza enchendo balde
Na borda de uma cama não agüento,
Depois que tanto amor a gente esbalde
Eu durmo solitário no relento.

Que faço se esse gozo já me empoça
Eu tiro ou deixo a fralda dessa moça...


244

A fria solidão que me tortura
Dizendo a todo tempo que não posso
Sonhar além do esboço de um destroço,
Ferrenho auto-retrato em amargura.

Saudade do que tive em vã procura
Nas mãos das ilusões eu me remoço,
Depois a realidade abrindo o fosso
Reflete o que colhi, só desventura...

As asas tão distantes dos arcanjos
A vida se perdeu em desarranjos,
O vértice se torna então a base.

E quanto que sonhei... eu sei, demais...
Momentos de esperança são fatais
Se a lua se transforma a cada fase...



245

A gata que me deste uma angorá
Que toda noite mia na janela,
Eternamente eu sei que ficará
Tanta beleza nela se revela.

Bichana ronronando em minha cama,
Espraia-se e sorri num bom miado,
Não dá problema, amor nem lá no IBAMA
Não fala e nem reclama. De bom grado

Eu topo esta parada, sim senhora,
Pois não tendo segundas intenções
A troca que propões, eu topo agora

Jamais tu ouvirás reclamações
E fique, pois então com este cão
O tal pastor que eu sei ser alemão...



246


A gata ronronando em minha cama,
Roçando sua pele sobre mim,
Tigresa que no cio já me chama,
Querendo desfrutar do amor sem fim,

Num ritmo alucinante, noite afora,
Requebros delirantes, garras, dentes,
Enquanto num segundo me devora
Penetro suas minas entrementes.

Molejos de quadris extasiando,
Deixando alucinado o seu parceiro,
No fogo em tanta ardência nos tomando
Orgasmos multiplicas, vou inteiro

Querendo sempre mais e sem descanso,
O paraíso em gozos, eu alcanço...



247



A gente quer transar Problema nosso,
Vizinhos de binóculos. É moda?
Mas não permita nunca mais a poda,
Eu quero o tu queres. Sim e posso.

Lambendo com carinho o teu pescoço,
Porém Dona Taninha se incomoda
Enquanto Edinho dança noutra roda
A gente a se melar, é um colosso!

Melhor beber do mel do que meleca..
Te quero safadinha e bem sapeca
Rebola bem ou mal, mas me prometa

Que não se importará com os vizinhos
Pois resta aos dois otários pobrezinhos
Somente a fechadura ou mesmo a greta.


248

A gente se escraviza por tolices
E deixa que as correntes nos contenham.
As moças mais bonitas, tolas misses,
Na estúpida etiqueta já se embrenham.

Na vida, eu procurei a liberdade
E tantas vezes; vi burras algemas
Tirando do viver a qualidade,
Causando os mais babacas dos dilemas

Depois da feijoada ou do repolho,
O pobre do intestino retorcendo,
Porém a sociedade vivendo de olho
Esquece do conjunto e quer o adendo.

Pois viva este sinal libertador
E solte então um pum no elevador!



249

Enquanto a gente sonha com riqueza,
A face da miséria em cada esquina
Transtorna qualquer forma de beleza
E a cena, amargamente ela domina.

Às vezes é preciso ter destreza,
Senão já se tropeça na menina
Dopada ou revendida, sem defesa
Enquanto o velho pai já nem opina.

É fato que isso cause comoção,
Ao menos por segundos num cristão
Que passa pela rua, atrás do sonho;

Pensando no cenário que é medonho...
Mas logo vem à tona o dia-a-dia:
- Comprei um carro novo. Que alegria!


250


A gente tantas vezes se perdeu
Em coisas tão sutis. Por que sofrer
Se tudo que carrego no meu ser
No brilho dos teus olhos renasceu?

E quando te percebo, sendo teu,
Encontro um bom motivo pra viver.
Sabendo mergulhar neste prazer,
O sol tomando o céu num apogeu.

Razões que procurara sem descanso,
Fazer desta alegria o meu remanso,
Sentir o teu calor que me protege

O amor sendo demais; olvida o herege,
Converte em luz perfeita a fria treva
E a dor de uma saudade, ao longe leva...



251


A gente vai sem paz, perdendo o chão;
Ao ver que não restando quase nada,
A vida quando muda a direção
Adentra em solidão por outra estrada.

O brilho se ofuscou sem a demão
Necessária. Da sorte anunciada
E aos poucos destruída e sonegada
Eu vejo tão distantes vinho e pão.

Esperança, sem tréguas, carcomida,
Alegria fugaz segue sem rumo,
Deixando como rasto este vazio.

O quanto que sonhara em minha vida,
Esvai-se em noite fria, frágil fumo,
Fantasmas que hoje trago, eu mesmo crio...
Marcos Loures



252


A glória de viver a mocidade,
Na eterna sensação de primavera,
Ao espalhar a solidariedade,
Apascentando sempre a dura fera,
Trazendo para todos; a amizade,
Do amor que distribui amores gera;

São poucos os que eu vi em minha vida,
Por isso, é necessário que se diga
De uma pessoa bela e tão querida,
Da qual posso sentir: presença amiga,
Eternamente vai ser percebida
Na estrela em que amizade já se abriga

Um homem como poucos assim diz
Da espera que será sempre feliz...

ESTE SONETO É UMA HOMENAGEM PÓSTUMA AO GRANDE AMIGO E SER HUMANO DIFERENCIADO ELADIR PADILHA, QUE COM CERTEZA ESTÁ ESPALHANDO FELICIDADE NOS CÉUS.


253




A glória de viver sempre se faz
Nos olhos de quem traz felicidade,
Palavra benfazeja satisfaz
Moldando em esperança uma amizade.

Deixando as diferenças para trás
Permite-se prever a claridade.
Ao semear amor, carinho e paz,
A vida se promete em liberdade.

No teu aniversário, minha amiga,
Que toda a glória imensa já prossiga,
Pois tens este poder de ser assim.

Uma pessoa alegre e triunfante,
Sorriso acolhedor e deslumbrante,
Parabenizar-te, então eu vim...


254


A glória que se faz um pouco a cada dia
Explode nesta data, alvissareira e bela
Aonde o coração transborda em alegria
E todo o grande amor, por ti já se revela.

Querida, Deus demonstra o quanto propicia
Ao homem, ser ingrato; empresta nau e vela
Trazendo em boa sorte a chama que luzia
E o destino da gente, alvissareiro, sela.

No teu aniversário eu quero te dizer
Do quanto é necessário à vida o bom prazer
De termos lado a lado, alguém que nos permita

Um sonho tão bonito, à luz da liberdade
Que possa enfim nos dar total felicidade.
Mudando em paz imensa história e sina escrita...



255


A glória tão sublime da amizade
É feita com total discernimento
Da dura tempestade ao manso vento
Um sonho que se doura em liberdade.

Na lua, nas estrelas, na cidade,
Nos olhos mais profundos tanto alento,
Domínio deste mundo em que aparento
Lunático que busca a claridade

Hasteio o coração em verso solto,
Enfrentando oceano mais revolto
Persigo a calmaria em doce abrigo.

Na glória prometida um lenitivo
No qual sei que ilusão decerto eu vivo
Do apoio que recebo deste amigo...
Marcos Loures



256


A gordota desfila os seus quadris
Pensando na potranca de outros tempos.
A história não permite mais o bis
Estrias não são simples contratempos.

O botox mal esconde a rugaria
Que o tempo inexorável determina,
O duro é perceber que outrora havia
A face delicada da menina

Que agora exagerando a maquiagem,
Ilude-se pagando algum miché,
E a triste transparência na roupagem
Desnuda o que ninguém finge que vê.

Derrama na banheira vários sais
E a vida já partiu pra nunca mais...


257

A grácil fantasia que vestiste
Suave transparência de organdi,
O verso não se faz, contigo, triste,
Desabo dos castelos, chego a ti.

Arcanos hedônicos eu vi
Buscando os teus caminhos; não os viste?
Depois de tanto tempo estou aqui
O féretro entranhado não existe.

A dor se locupleta na tristeza,
Audazes os meus olhos cirzem luzes;
Exauridos. Desdenhas com destreza

Antigos faroletes se dispersam,
Os gozos mais sublimes reproduzes
E as almas solitárias já conversam...

258

A grande borboleta leva na asa
Direita a solução de meus problemas
Na esquerda a solidão que tanto abrasa
No coração meus medos fazem temas.

A borboleta voa e ronda a casa
Pousando em meus temores, velhas gemas.
Meu nome eu encontrei lá no SERASA,
Porém não tenho nada com esquemas

Apenas isquemias passageiras
Que fazem da crisálida o retorno
À larva com defesas afiadas.

Se tento ter amores por bandeiras
A sorte; vou assando noutro forno
Pois sei reconhecer cartas marcadas...


259


A guerra traz a morte, a vida se esvai, breve.
Amor, talvez, prometa, a proteção do escudo.
Quem ama nunca pensa, a morte o deixa mudo.
Um arco doloroso, a vida então descreve...

Quem sabe desta sorte, em guerras não se atreve.
Fugindo da batalha, esconde-se de tudo.
Assim se deu comigo, eu sempre não me iludo.
Um peito enamorado, em paz fica mais leve...

Não me deixo levar pela vontade insana
Que tantas vezes dá de guerra leviana;
Sustento-me em teu braço, a vida fica bela!

Não quero essa navalha, espero doce estima,
Por não viver batalha, a nossa vida prima.
Marcela, em nosso amor, a paz sempre se sela!



260


A imagem convulsiva da volúpia
Na cúpida expressão de teu sorriso,
Mulher que sem ter nada mais que culpe-a
Desnuda em minha cama, o Paraíso.

Desejos entre lábios, sem pudores,
Véus alabastrinos, bela tez.
O amor entre delírios, cheiros, flores
Reflete esta loucura na nudez.

Suores se espalhando nos lençóis,
As marcas nos pescoços. Tão lasciva
Derrama sobre a cama luas, sóis,
Uma estrela voraz e compassiva.

Suspiros e gemidos, pleno gozo,
Matizes deste sonho fabuloso...

261

A insanidade intensa deste amor
Promulga em nossa sorte, eternidade.
Eu tenho tanta coisa a te propor
Porém acima disto, intensidade.

Amor quando já traz sinceridade
Demonstra ser de berço um vencedor,
Decerto vai gerar felicidade
E nela novamente se compor.

Teus braços, universos benfazejos
Que amansam as volúpias e os desejos
Em laços carinhosos e benditos.

Meus olhos te encontrando são felizes
Pois sabem que terão belos matizes
Iluminando os céus bem mais bonitos...


262

A irradiação divina que em teus seios
Demonstra em maravilha singular,
A força mais perene dos anseios
Tomando o pensamento devagar.

Meus olhos de outras sendas vão alheios
E sinto o teu desejo me tocar,
Singrando mares plenos, fartos veios,
Embarcação em sonho, navegar.

E despes lentamente a camisola,
A fúria feita insânia chega e assola
Tomando este cenário prazeroso,

Da bela paisagem que me expões,
Prepara-se a caçada. Nos arpões,
Certeza de um final maravilhoso...


263

À janela, de noite te esperando,
Na forma deste vento tão suave,
Aos poucos tua voz já vem chegando,
Nos sonhos, meus desejos, uma nave...

O vento, calma brisa, me tocando,
Abrindo o coração, encontra a chave
E sem que eu sinta já chega me entranhando.
Permito que este sonho sempre lave

As dores do que fui e não sou mais,
Não tenho mais as penas que sofria...
Agora, que sou teu; encontro a paz,

A paz que tantas vezes procurara...
A voz que escuto, enfim, é tão macia,
Desta mulher tão bela quanto rara...
264


A juventude morta, escorraçada...
Meus olhos na penúria dos enganos.
A vida que passamos, desgraçada.
O tempo tão cruel, estraga os planos..

A noite não permite madrugada,
Meus dedos congelados vão tempranos,
A rota desta vida, desviada.
A morte me trazendo velhos panos...

Juventude se perde sem carinho...
A graça de viver, perdendo encanto...
Prossigo vagabundo passarinho.

Não ouves nem sequer meu triste canto...
Quem sabe viveremos nosso canto,
Quem sabe encontraremos nosso ninho!


265


A lágrima mais triste que rolou
Desses meus olhos, velhos sonhadores,
Aquela que num dia te encontrou
A rosa mais bonita dentre as flores

Dizendo que este amor já se findou
Levando ao meu sonhar tantos horrores.
Querida, não pergunte mais quem sou
Meu canto vai morrendo. Os estertores

Daquilo que sonhara ser eterno,
Amor que resistia a tempestades,
A vida se tornou um vero inferno,

Restando tão somente estas saudades
De nosso amor que sempre fora terno,
Lutando pela vida e liberdades!


266

A lâmina que corta tão profundo
Serena adormecendo nas mentiras.
Gerando tantas dores num segundo
Recorta uma esperança em finas tiras.
Nas voltas que percebo, pelo mundo,
A faca nas senzalas caipiras

Assim como em favelas soberanas
Repetem o retrato travestido
Noutras senzalas/dores suburbanas.
Na saia levantada, no vestido,
No corte, nas queimadas, fomes, canas
No sonho sem pendão, prostituído...

Mas quem sabe amizade bastaria
Para nós renascermos outro dia?


267


A liberdade agora, no amor; vivo.
Singrando os ermos campos da saudade,
Percebo em nosso amor, tranqüilidade,
O peito vai aberto e segue altivo.

Do gozo deste sonho eu não me privo,
Vivendo enfim real felicidade.
A mansidão divina já me invade,
Mudando o meu caminho, redivivo.

Trazendo um copo d’água pro sedento,
Depois de atravessar vasto deserto,
Meu rumo com certeza, não deserto

Prosseguindo ao sabor do calmo vento
Eu sei que encontrarei o que desejo,
Final apoteótico, eu prevejo...


268

A liberdade em paz, cedo se aflora
Nos olhos da morena que ao saber
Que eu quero vem chegando sem demora
Trazendo este delírio: o bem querer.

Na porta de chegada desta casa
Porteira sempre aberta da esperança
Dizendo que a vontade não se atrasa
Quando se perpetra em confiança.

É. Por vezes a estrada se interdita
Nos engarrafamentos da tristeza
Audaciosa chaga tão maldita
Estampada na fome sobre a mesa

Vazia, sem sequer uma iguaria.
Repasto que tu trazes: poesia...


269


A LIBERDADE ENTOA UM HINO RARO
DECLARO EM CADA VERSO ESTA EMOÇÃO
QUE HÁ TEMPOS CULTIVANDO EM ILUSÃO
PERMITE O QUE PROCURO COMO AMPARO.

NO GOSTO DA AMIZADE, TOM TÃO CARO
O BEIJO TENRO E CALMO SEM SENÃO
NEGANDO A CADA DIA A NEGAÇÃO
SONEGA O VENTO FRIO DURO AMARO

EU TENHO NOS IRMÃOS O BRAÇO FORTE
QUE TRAZ NUM GESTO MANSO ESTA CERTEZA
DE VENCER COM TERNURA A CORRENTEZA

FAZENDO DA ESPERANÇA AGORA O NORTE
LEVANDO O CORAÇÃO COMO BANDEIRA,
SOBREVOANDO EM PAZ A CORDILHEIRA...


270


A liberdade rasga a madrugada
Exposta em cada esquina da cidade.
Rosnando com os cães numa calçada
Desnuda nos bordéis em tempestade.

Nos goles de aguardente, rum e gim.
Gemidos espalhados nos motéis.
Liberdade agoniza dentro em mim
E verte sem limites, méis e féis.

No corpo da vadia que me roça,
Sarcástica se mostra; insanamente.
Às vezes tão irônica faz troça
Em outras se desnuda totalmente.

A liberdade foge das paixões,
Vertendo em riso e gozo, as podridões...

271



A liberdade, ainda que tardia;
Fazendo um manso ninho no meu peito,
Mostrou que se renova em cada dia,
O sonho de viver amor perfeito.

Amor em plenitude, sem cobranças;
Que dê à companheira as asas plenas.
Que não se prenda aos medos nem às crenças,
Que saiba enfim amar, somente, apenas...

Amor que não derrote, sempre ganhe.
Amor que não discuta, sempre saiba;
Amor que nunca peça, sempre apanhe,
E que nunca se extravase; sempre caiba...

Amor que em todas horas, traga o bem...
Libertas; que serás assim, também...


272


A linguagem popular
Já faz mal aos teus ouvidos,
Mas, atento, devagar
Tocará os teus sentidos.

Quem desvenda este luar
Tem seus cantos repetidos,
Em Catulo fui buscar
Os meus versos mais sofridos.

A miséria que afugenta
No sertão do meu Nordeste
Se esta seca é violenta

Foi castigo lá do céu?
Na verdade o mal e a peste
Vem das mãos do Coronel!


273

A lipoaspiração numa alma triste
Talvez deixe seqüelas: esperança.
Enquanto o vaga-lume ainda insiste
A lua tão distante já se cansa

Esta emoção morrendo, não resiste,
E bebe do passado em temperança,
O sonho extasiado tudo assiste
E aguarda ao fim de tudo, uma mudança

Que trague outra verdade que não essa,
Se a gente não conhece e recomeça
A pressa é inimiga do perfeito.

Mergulho os meus fantasmas no teu colo,
Não vejo com certeza sequer dolo,
Mas tudo recomeça se eu me deito...


274


“A lira do cantor em serenata” ,
Convoca a sua amada que não vem.
Sonhando na janela com seu bem
A moça mal percebe, mas maltrata.

Vencido pela dor, procura alguém
Que possa lhe tornar a vida grata,
Na lua que se esconde atrás da mata
Dizendo que não há, jamais ninguém

O velho sonhador em disparate
Mergulhando os seus olhos no infinito,
Por mais que a vida tanto lhe maltrate

Não cansa de sonhar, retorna à cena
E a lua se entregando noutro rito
Sorrindo, com desdém, imensa e plena...


275

A lira em serenata diz dos versos
Amantes emoções, risos e dores.
Louvando dos jardins, espinhos, flores,
Os sentimentos vagam, tão diversos.

Os dias que passei, tristes, perversos,
Permitem que eu disfarce em mil amores,
Deixando bem distantes os rancores,
Meus olhos no infinito vão imersos.

Amigo, eu te agradeço, saiba disto,
Num sonho mais insano ora persisto
Falando dos castelos da ilusão.

Um velho trovador, um repentista,
Às vezes sonhador, outras trocista,
Agradecendo a ti, de coração...


276

A loba tão fogosa em minha cama,
Chamando para a festa do prazer,
Ovelha desgarrada logo inflama
A cama que se faz enternecer
De novo recomeça a velha trama
Da boca em tuas sendas, se perder...

Devoras cada gota de saliva,
Na sede que não cessa e que enlouquece
A carne devorada, aberta, viva,
Neste delírio insano que apetece
E faz além de toda expectativa,
Gerando um maremoto, riso e prece

A pele tão suada, o teu sorriso
A noite agradecendo o paraíso...


277


A lua ao penetrar sem cerimônia
O quarto em que tu dormes bela e nua,
Enquanto um cavaleiro com insônia
Percebe esta beleza e vai à rua

Subindo na janela de teu quarto
Adentra e te beijando mansamente
Depois do susto, amor deixando farto
Aqueles que se entranham loucamente.

Sacias meus desejos e eu sacio
Nos gozos infinitos, o teu cio,
Entrelaçando coxas e caminhos.

Rendido as emoções e aos teus carinhos
Alçando no teu quarto ao paraíso,
Encontro-me na paz de teu sorriso...



278

A lua ao penetrar
O quarto da princesa
Além desta surpresa
Em raios de luar

Da prata a nos tocar,
A sorte sobre a mesa
A vida trama a presa
Na luz a desnudar.

Risonha maravilha
Aonde se polvilha
Argêntea fantasia

E o todo do passado
Num átimo eu já brado
E nele amor se via.


279


A lua clareando no sertão
Deixando prateado todo agreste
A moça sem juízo não diz não,
De toda a sedução já se reveste.

Amor contrariando mãe e pai
Jagunço com princesa não dá certo,
Enquanto a noite mansa inda não cai
O vento se espalhando no deserto

Parece me dizer desta loucura,
Porém a juventude não se cala.
Na boca da morena uma ternura
No peito do seu pai, encravo a bala.

O ofício, com certeza, me treinou,
O tiro se bem dado, libertou...


280


A lua comovida, desce à terra
E molda em argentinas maravilhas
Estradas onde amada, sei que trilhas
Alçando num momento, vale e serra,

Ausentes da discórdia, em paz sem guerra
As almas que se tocam, andarilhas,
Fugindo da tristeza que, em matilhas
Chaves da solidão cruel, encerra

Permita-se sonhar, não custa nada,
Da lua que se espalha sobre nós,
Vislumbro a mansidão tão delicada

Legando ao sofrimento, este vazio,
No sol que surgirá enfim, após
Um tempo abençoado, eu fantasio....


281


A lua companheira dos amantes
Deitando em nossa cama rouba a cena.
Seus raios poderosos e brilhantes

Vibrando em nossa chama nada amena.
Depois de extasiada, por instantes,
De plena vai ficando assim, pequena...

Um dia a lua chega de mansinho
Nos toca e nos levando num segundo
Fazendo sem saber, tanto carinho;
No amor que sempre foi maior do mundo,

Provoca essa mulher maravilhosa
Como uma deusa encharcada de perfume
Rainha dos canteiros, minha rosa,
Tomada, num lampejo de ciúme...


282



A lua coroada em céu brilhoso,
Tramando, despojada, tanta luz...
Em ti, ó companheira, vou ditoso.
E cada raio teu, amor conduz...

Desfolho o meu olhar nas tuas pratas,
Grinaldas esculpidas sobre a terra.
Mergulho nos teus braços, nas cascatas,
Amor que tanto lume sempre encerra...

Eu quero um beijo teu na minha boca,
Dançando sob os raios, minha lua...
Vontade de te amar, vontade louca.
Despir-te totalmente, ter-te nua...

E assim, embriagado de desejo,
Nos braços desta lua já me vejo...


283

A lua de Catulo, sertaneja
Deitando pura prata sobre nós,
Enquanto o São Francisco desce à foz
Uma esperança além já se deseja.

As margens deste agreste quando beija
Singrando sobre a fome mais atroz,
Gaiola da ilusão escuta a voz
Que se ergue em fantasia mais sobeja.

A lua se derrama cor de prata
Clareia maravilhas sobre a mata
Espalha sobre o rio o seu caminho.

Sertão virando mar, mudando estradas,
As sendas num clarão enluaradas,
Enquanto as águas correm, de mansinho...


284

A lua de meus sonhos muda as fases
Desnuda, em plenilúnio, chega aqui.
Lirismo inevitável, tantas frases
Sagrando todo o amor que vejo em ti.

Atônito caminho pelas ruas,
Buscando a lua imensa que sonhara,
Ao ver estas estrelas belas, nuas,
Verdade se tornando bem mais clara.

Tua nudez entranha nos meus olhos,
Miragem que decerto já me ilude.
Colhendo a fantasia feita em molhos
Amor vai me inundando, sacro açude.

Espetáculo feito em várias cores
Caleidoscópio, eu vejo em tantas flores..


285


A lua debruçando sobre a fonte
Derrama nos seus raios luz intensa.
Aos poucos se escondendo no horizonte
Em negritude deixa a noite tensa.

Debruçada, distante sobre um monte
A lua que já fora grande, imensa,
Talvez noutro momento já desponte
Desnuda se mostrando em recompensa.

Amores que se banham sob a lua,
Deitando mil prazeres, claridades,
Na diva que se entrega mansa e nua,

Os olhos radiantes, dois cristais,
No gozo de um orgasmo, insanidades,
Reflexos dos desejos imortais...


286


A lua derramando-se tristonha,
Espera pela aurora que se chega...
A luz que brilhará vaga e medonha,
Os olhos desta lua sempre cega...

Com outra madrugada, a lua sonha,
Passeando no zênite, trafega...
Deitada, se cobrindo bela fronha,
Os sonhos do poeta já carrega...

Lua amada, querida companheira...
Não te esqueço jamais nos pobres versos...
Tantas vezes procuro-te altaneira

Pelos céus no meu canto desolado...
Buscando por teu brilho em universos..
Mas embalde, o meu céu vive nublado...


287

A lua desmaiando; o firmamento,
Rompendo o sol trazendo o seu clarão...
Uma esperança acalma o sofrimento,

E aviva, borbulhando o coração.
O dia vai passando, calmo e lento,
Saudade dominando esta emoção...

Percebo que sem mágoas, criei asas;
Na espera que promete bom augúrio.
Fomenta uma alegria em vivas brasas,
Quem teve no passado, amor espúrio,

No augúrio deste sonho quer futuro
Que seja, pelo menos delicado,
Qual lume que ilumina céu escuro,
Quem sabe te terei sempre a meu lado?


288

A lua é companheira há tanto tempo
Não temas, minha amada, a traição.
Não vejo nesta vida contratempo
Que possa nos negar tanta paixão.

Se estás bem dentro da alma tatuada,
Tu és minha metade mais querida.
Nas mãos tão delicadas desta fada
A sorte foi lançada, e assim cumprida.

Nós somos espelhares, nada temas.
Tu és a minha glória, e sou feliz.
Amores e desejos, nossos lemas,
Tu és tudo o que quero e sempre quis...

Minha alma se encharcou em teu perfume
Não necessita, amada, ter ciúme....


289

A lua em primavera, imensa e plena,
Correndo pelos campos, forma o trilho,
Enquanto a poesia assim me acena

Nos rastros do luar me maravilho.
A brisa que me roça, doce amena,
Trilha sonora feita em raro brilho.

Pensando em ti, chamando por teu nome,
Murmúrio de um riacho me responde,
Num segundo, entre nuvens, ela some
Procuro a tua sombra, não sei onde.

Retorna bem mais forte, luzes tantas,
Colhendo as flores mágicas do sonho,
Paisagem deslumbrante, assim me encantas
E um quadro inesquecível, eu componho...


290


A lua enamorada do deus sol
Se entrega num eclipse total.
Na noite esse apagar do grã farol
Penumbra num convite sensual.

Dispersam energias e delícias.
A terra se inundando deste amor.
Estrelas salpicadas em malícia
São vivas testemunhas do esplendor.


A lua se engravida de beleza
E solta, nos seus raios mais felizes
Um brilho que bem sei, tenho certeza,
Transmudam meus amores, seus matizes.

Depois deste momento extasiante,
Encontro-te lunar, solar, amante...



291

A lua iluminando nosso quarto
Adentra na janela, tão airosa.
De ti; jamais, querida eu me aparto
Colado em tua pele mais cheirosa.

Depois de tanto amor já não descarto
Que uma alvorada venha mais gostosa;
Embora na verdade esteja farto.
Tu és uma mulher maravilhosa!

Meus sonhos te alcançando num momento
Deixando para trás o sofrimento
Revelam quanto quero o teu amor.

O dia vai nascendo em pleno sol
Que adentra iluminando com fulgor
E tudo recomeça em arrebol...


292

A lua melancólica nos diz
De tempos que se foram pra não mais.
E mesmo quando agora, eu sou feliz,
O vento diz de dores ancestrais.

Olhando a claridade, a cicatriz
Lateja no meu peito; mas jamais
Retornará decerto um céu tão gris.
Meu barco até que enfim encontrou cais.

Não sei se tu entendes o meu choro,
Não é, pois eu garanto de saudade.
Se às vezes pensativo eu me demoro

Revendo cada dia que passou,
Seja porque, talvez, felicidade
Finalmente, querida, aqui chegou...


293


A lua merencória dos poetas
Deitando tanto brilho sobre nós,
Uma estrela cadente vem veloz
Descreve em pleno céu sublimes setas.

Sabendo dos prazeres, nossas metas,
O amor que outrora fora nosso algoz
Derrama maravilhas, tem por foz
Paisagens delicadas e diletas.

Mereceria enfim felicidade,
Aquele que teimando em liberdade
Por vezes fez do verso sua grade?

A rara fantasia nos invade,
Será que encontrarei a claridade?
Respostas eu procuro, mas quem há de?



294


A lua merencória que nasceu
Por sobre estas montanhas, trás os montes,
Sabendo que este amor era só meu,
Radia com tal força os horizontes

Tocando todo o sonho que se deu
Bebendo em alegria, minhas fontes,
A lua em claro sol se converteu,
Ligando noite e dia em raras pontes...

Serei o que quiseres, a sereia
Domina com seu canto o meu destino.
Deitado nesta praia em fina areia

Almejo meus caprichos nos seus seios.
O mar quebrando areia canta um hino
Louvando o nosso amor, sem ter receios...

295


A lua merencória, em noite fria
Ascende sobre os lumes vaporosos
Enquanto ao debruçar tal fantasia
Os olhos de quem amo; caprichosos.

Florias com delícia em harmonia
Deixando para trás os belicosos
Momentos onde a luz inda se via
Dourando fartos bens, voluptuosos.

Dormências entre ardentes explosões
Volúpia que te toma em tais delírios
Na profusão de estrelas, tantos círios

Pairando sobre nós, aos borbotões
Rendida aos vãos temores, neste altar,
A deusa se entregando ao lupanar...


296


A lua, no deserto, branca e plena
Traduz a solidão do meu amor.
Brilhando com total, raro esplendor,
Toda a melancolia já me acena...

Deserto que vivemos, só miragens,
Amores nos deixando, a cada dia.
Depois de tanto tempo em fantasia,
Nos sobram simplesmente essas imagens.

Do tempo em que sonhamos viva cena
Achando eternidade na alegria.
Fugaz, nos abandona em agonia.
E sem nenhum escrúpulo, envenena.

Quem dera se nascesse alguma flor
Em todos os desertos de um amor!


297

A lua no sertão, meu amor sertanejo...
Abrindo essa janela a lua, intensa brilha.
Promete a minha vida imensa maravilha.
A lua se esbaldando, espelha meu desejo...

Vem cá minha morena, espero por teu beijo.
A lua faz o claro, então vamos na trilha.
As urzes no caminho, espreita e armadilha;
Um sonho cristalino; olhar brilhante vejo!

A lua, companheira, anseia pela aurora.
Estrela tão formosa, a cena se decora!
Ó lua do sertão! Meu sonho e minha luz!

Lucélia me deixou, roubou a claridade.
A lua que carrego, a lua da cidade...
Da lua do sertão, ficou só a saudade...


298

A lua nos abraça; sempre cheia
Trazendo a mais sublime claridade,
Quem ama de verdade não receia
Nem mesmo ventania ou tempestade.

Vontade sem igual não se refreia
E todo pensamento amor invade.
Presença que se quer e tanto anseia
Quem sabe desfrutar felicidade.

Mil beijos e carinhos; louca busca
Nem mesmo a lua intensa nos ofusca
Trazendo ao nosso sonho, a perfeição.

Meu pensamento encontra o teu sorriso,
Da boca que eu mais quero, perco o siso
Entregue ao teu poder de sedução...


299


A lua nos decora; prateada...
Beijando-te me entrego aos teus caprichos,
Matando teus desejos todos... Cada...
Amor encontra em nós; abrigos, nichos...

Sorvemos cada gota de prazer
Com fúria e com ternura, mansas, vis...
Me encontro totalmente ao me perder
E sou por ser em ti, bem mais feliz...

O vento, a lua, a noite, tua nudez...
Vontade de que o tempo pare agora.
Depois de tanto amor que a gente fez
A lua se entregando nos devora

E toma nosso corpo em tanto brilho,
E grávida de luz, traz nosso filho...


300


A lua nos meus braços se entregando
Despida me conquista e já me chama.
Todo o meu sentimento vai tomando,
Em sua placidez, logo se inflama.

Lua que neste mar procura areia
E deita-se na praia, deslumbrante...
Ufana-se, tão bela e fica cheia
Tomando meu amor a cada instante...

Nas ondas prateadas eu mergulho,
Nadando em direção à claridade...
O mar tão ciumento em seu marulho
Demonstra em forte brado, ansiedade..

Sem medo desfrutamos deste amor,
Me entrego ao doce raio, sedutor...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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