O pomar das laranjeiras
Está agora destruido
Na casa dos teus cheiros
Um museu foi construido
Sinto-te nas flores do campo
Nos cravos do jardim
Nas águas limpidas do lago
No cheiro do jasmim.
Penso nos teus poemas
Nas histórias que inventavas
Lembro o teu sorriso
E de como me chamavas
Lembro o cheiro forte dos limões
A entrar pela janela
O cesto cheio de nozes
E o bolo de canela.
Lembro a alegria
Das tuas gargalhadas
Os fritos de abóbora
e as frescas limonadas.
Já não regas a horta
Já não cantas cantigas
A nogueira está morta
O chão são ortigas
O sino continua a tocar
As tardes adormecem a poente
Os pássaros continuam a cantar
A água corre limpa na nascente.
Apoio constante
Amor sem parar
Na doença e fim
Partiste para sempre
Deixáste a saudade
Na menina enfim
Que te quis amar
Que te deu de mim.
Sonho contigo
Falo de ti
Conto histórias
Que me contaste
Sorrio ao pensar
No teu sorriso
Choro ao pensar
Que me deixaste.
Porque choras então
Porque gritas dentro de mim
Cala a amargura da tua voz
Liberta o sorriso doce
Dos teus lábios
E as flores
Do infinito do teu jardim