Recordo-me agora a um dia de distancia,
O momento e o local onde te vislumbrei,
Sentado no terceiro lugar do expresso
Em direcção à terra prometida, Peniche.
O silêncio fazia parte da tua
Existência e eu, pequena
Molécula em constante evolução
Transpus-te para o real.
Perturbei ofuscamente o teu espaço,
Sentando-me ao teu lado,
Como uma criança revoltada
À espera de um ombro amigo.
A viagem tomou o seu rumo
Com uma paragem por aqui,
Outra por ali e a nossa volta
O silêncio foi-se sentindo.
O tempo como o compasso
De uma valsa foi avançando
E ao fechares os apontamentos
De Histologia que lias sem entusiasmo
Encostei a minha cabeça no teu ombro,
Como cavalheiro que és nada disses-te
E eu continuei recebendo o teu calor,
Doce e reconfortante, até estar saciada.
Levantei levemente a cabeça
E pouco depois o autocarro
Tinha chegado ao seu destino,
Sai apressadamente.
Olhei em volta e tu não estavas,
Estava só, pela primeira vez desamparada,
Segui o meu caminho,
Avançando pouco a pouco.
Derrepente subjugada por uma força celestial
Interrompi o meu percurso,
Apercebi-me que vinhas no meu enlace
E esperei por ti.
Contornamos as ruas da cidade
Tal namorados no começo de uma aventura,
Despedimo-nos com um sorriso
Indo cada um para o seu conforto.