Tu torpor abafado, que me vaporiza a pele rosácea ás horas mortas do meio-dia eterno.
És fogo na latitude zero, poente que adormece calado no murmúrio dos Oceanos.
Acordas sempre em vagares, com mandria de majestade, a espreguiçar vaidades pela sombra dos hemisférios.
Tu és trópico de câncer o Louva-a-deus bronzeado, na brisa matinal de uma seara de trigo.
Quisesse a Lua enamorada o aconchego dos teus abraços, e viveríamos na escuridão de um fecundo eclipse.
Aurora das madrugadas estivais, clarividente sopro de luz, das manhãs claras e grandiosas.
Fotossíntese de amor e pecado, quando te deitas na terra dos Homens, a escaldar anseios e prazeres instigando nos corpos férteis um desejo febril de cópula.
Tu que és Deus queira e quem dera, do dia que vem depois de hoje…
Metáfora da calma que anseio no despoletar catastrófico dos dias que adivinho sombrios.
Na alvorada das batalhas do mundo, és sentinela da loucura humana, testemunha ocular do crime dos riachos secos a pólvora.
Mas quando, se cansam os corpos, da guerra e do labor, acalmas o tormento cósmico no armistício melancólico de umas serenas cinco da tarde.
Renasces belo…
Então criança descamisada, boca de manga fresca, a brincar num navio mercante que cabe inteiro num riso solto, no fontanário da cidade.
És-me todas as palavras, as rugas que carrego na expressão do meu tempo vivo.
Cheiras a madeira exótica, aromas continentais das viagens que nunca fiz.
Fragrâncias de outras paragens, em que oxidas tatuagens, Pau-santo, Sucupira, Jasmin...
Sol...
Nas voltas que dás á Terra leva saudades de mim aos índios da Amazónia.
Quando navegares aos círculos não te esqueças de iluminar os canteiros do meu jardim…
Não te esqueças de me olhar, passa sempre para me acordar …
Não deixes de me brilhar, nem sequer de cá passar!!!
Não te esqueças de mim.