Quando era pequena por volta dos meus sete anos, andavam por lá, pela minha rua dois miudinhos de cabelo muito clarinho, descalços e muito pobres que moravam nos alicerces de um prédio, um era o Paulo e o outro o Pedro. A mãe deles era alcoólica, tinha filhos em série, alguns já lhos tinham tirado, outros viviam naqueles alicerces, onde hoje é um Centro Comercial. Sei que existia um bebé pequenino na altura que dormia dentro de uma caixa de frutas, ninguém podia entrar lá dentro, ela (a mãe) não queria lá ninguém a não ser os homens que lá entravam. Ainda hoje conheço um dos irmãos o mais velhos que habitava naquela suposta casa, sei que se tornou um homem trabalhador e além disso ainda presta ajuda na população como bombeiro. Recordo-me que ele ficava sempre na esquina do prédio a ver aqueles dois irmãos a subir a ladeira até ao prédio onde eu morava, aguardava o bem dos irmãos e algo que eles lhe pudessem trazer, ele sempre ficava ali talvez por vergonha, uma vergonha que não deveria existir, na verdade não é vergonha ser pobre se a alma for grande. No meu quintal e no da minha vizinha, não faltava um prato de sopa, que à água sempre faz crescer, e, essa mesma água também era utilizada para o banho, que lhes dava o meu pai num alguidar com água morna e com a ajuda da minha mãe e da minha vizinha que de seguida os vestiam, lá em casa não podiam entrar, pois os meus pais tinham quatro filhas, eram tratados sempre entre a marquise e o quintal.
Num dia igual aos outros, os meus pais tinham ido trabalhar como sempre, eu muito curiosa, como sempre fui, fazia perguntas e falava muito com eles à janela, naquele dia a minha mãe tinha comprado um enorme cacho de bananas que colocou na fruteira, segurei numa banana e fui comer de joelhos numa cadeira para a janela. Um deles perguntou-me o que é que eu estava a comer? Ao qual eu respondi prontamente, uma banana! Eles não sabiam o que era uma banana, fui buscar uma para lhes dar, eles devoraram e eu fiquei de boca aberta a descobri o que era ter fome e não ter um alimento tão vulgar, fui buscar mais, e dei todas. -Estava encantada a ver comer aquelas bananas!
Eles deixaram as cascas todas espalhadas enfrente à janela. Devem estar a ver a minha mãe quando chegou a casa, não me bateu mas ouve uma revolução…acho que hoje já estou perdoada pela boa acção!?
Cheguei à conclusão que uma banana é uma boa prenda, para muitas crianças!
Muitos fecham os olhos as tristezas perto da porta, ou a todas mesmo, na realidade a maior crise é não ter frigorifico.
Como é que podemos dizer que o país está em crise e gastar tanto dinheiro a meio do mês em campanhas com bonecos?
-Realmente a crise é humana!
Cristina Pinheiro Moita /Mim/