Sinto o que não posso sentir.
Morro ao viver.
Durmo acordando.
Vejo sem poder ver.
Escrevo o que não pode ser escrito.
Sinto este fogo que arde sem eu o sentir.
Lembro-me do que não me recorda.
Ganho o que não ganhei.
Leio o que não está escrito.
Sonho o que já sonhei.
Sou o que não há.
O que em meu corpo odeio.
Ao arder este fogo e nem o vejo.
Sabendo que na amargura.
É este corpo que me acompanha.
Arde este fogo.
Sem eu o sentir.
Oiço pessoas que não posso ouvir.
Mato minha dor.
Atiro-me ao rio.
Pois sem ter amor só a saudade e terror.
Arde assim este fogo que não posso sentir.
Pedro Carregal