Textos : 

Como me Custa

 
Como me cansam as vitórias ganhas por vós. A escória alimentada pela vossa presunção. A liberdade que me roubaram ao me falar. A luz esquecida que me iluminou. Como me custam os amores que não são puros, vindos da luxúria, vindos da sociedade…
Como me custa o teu olhar, triste e ao mesmo tempo alegre. Vingativo que me penetra e manipula sentimentos, actos e emoções. Fortes são ilusões de um sentimento que agora é pó. Que vai mas volta, acompanhado por desgostos, vem ele. O Amor. ‘’Que amor tens?’’ perguntas-te, ‘’Se não sabes o que é amar?’’. ‘’Amas-te a ti próprio…’’ disseste. Vulgarizaste a minha existência. Provocas-te a morte que me vislumbrou de perto, de novo. Provocaste essa irracionalidade no meu coração. O Ridículo de amar. O derradeiro amar. Talvez ninguém o conheça por já o terem conhecido…
Que me custa… Essas palavras mortas e suaves, meigas ao ciúme e horrendas à paixão. As sinceras desculpas de parar e as verdades lamentam os lamentos. Quando nasci vi a felicidade sorrindo e quando morrer fugirei para longe. Serei um pássaro para voar para longe sem voltar. ‘’Que sociedade?’’ pergunto-vos a vós ‘’Vocês vivem?’’. Ela não existe nem nunca existirá…
Sou livre como as rochas fixas no areal da praia, sou os frutos silvestres colhidos por vossas mãos, sou a água presa nos oceanos. Sou eu. Porque o eu é, para mim a essência do tu. E é essa a razão de te amar, ao amar-me amar-te-ei. Por isso ama-te. Bebe e aceita a sensação da liberdade e da felicidade. Amarei assim a minha face no espelho pois não será a minha que lá se encontrará. Fugirei pelo raiar dos silvos ao luar, pelo tumulto da cidade em coro com a morte. Ganharei forças e atirar-me-ei num poço de sangue. Fechar-me-ei numa caixa de vidro. E escrever-te-ei uma carta.
Mentir-te é o mais simples do complexo. Deixar fantasias na lucidez e a loucura em pousio na ansiedade. Fugir de ti em momentos de cumplicidade, abraçar carinhos e perfumes… Matar em mim a maldição, os uivos perturbantes das lágrimas dos meus desgostos. Matar a calma das praias, dos horizontes, das razões e dos futuros. E eu morrerei mais uma vez, sem poder saborear a morte nos lábios, ávidos. Solidões de amarguras de desatino. E custa-me tudo isso.
Quanto me custa a opinião de primos, avós, mães e pais, filhos e filhas. Que questionam o certo do errado. Quando o errado está tão certo aos meus olhos. À luz do meu triste olhar. E assim, morrerei. Vendo aquilo que nunca mais ninguém verá. E vai-me cansando a vista, de tanto pormenor oriundo de todos os cantos.
Mas sei, que apesar da distância, caminharemos juntos. Apesar da distância, apesar de ti… E veneremos lutas, forças e cansaços. E mataremos fantasmas, frutos de medos, de mitos… E quanto me custa não estares ao meu lado…
Quanto me custa enfrentar um final tão cru e frio. Miserável, arruinado, hipócrita. Como em reza apreçada a Deus, despeço-me por aqui. Pois sei que não foi um ‘’Desculpem’’ mas sim um ‘’Obrigado’’. E não será um ‘’Adeus’’ será um ‘’Até já’’…


Pedro Carregal

 
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PedritoDomus
 
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