O SOLDADO DA AREIA
Mesmo que viesse numa fúnebre cantiga,
nem que saisse do inferno a palavra amiga,
soldado desgraçado, pare de se lamentar.
Nesse deserto, chora a natureza e chora eu,
por todo o azar que que aqui me aconteceu,
maldita legião, tinham que me abandonar...
Chora eu, chora o céu,
entristecendo Israel,
é luto, para um judeu.
Não quero morrer, nesse deserto escaldante,
prefiro ver a morte,numa sinistra vazante,
distante daqui, quem sabe, no canal de Suez...
Lá, as mortas pirâmides do antigo Egito,
jamais poderiam ouvir meu agonizante grito,
com tanta idade, devem ter problema de surdez...
A valentia domina,
o filho da Palestina,
não morrerá dessa vez.
Olho ao longe, só vejo a planície nesse deserto,
em quilometros, nenhum vivente por perto,
a esperança, para esse lugar nunca vem...
Em pleno dia, o céu para mim já escureceu,
essa parte do mundo, sinto que adormeceu,
na distancia imensa, não vejo ninguém...
Nem na miragem
da morta paisagem
vejo alguém.
Com meu corpo forte, está de pé o guerreiro,
estou gritando, digo,vou sair desse bueiro,
sou gigante, estou desafiando a estrela...
Jogo minha lança, contra a lua cheia,
vencerei em luta, a montanha de areia,
tenho como sair, encontrei uma camela...
E conseguiu,
muito perto, um rio,
e a legião? Vai reve-la...
GIL DE OLIVE