I
De tempos a tempos eu procurava entre as
ondas do mar uma concha onde repousar…
O mundo dos homens está tão gasto.
Não consigo esconder as minhas asas,
só no mar me encontro,
reflexo nítido do céu,
só no mar eu fico de tempos a tempos
à procura de uma concha onde repousar.
Estou cansada,
Queria voar livremente rumo ao céu,
mas a terra deles tem a porta fechada pelo medo
e não me deixa ir mais longe que o fundo da rua.
II
Choro!
Tenho o rosto desfeito e m lágrimas,
Preciso encontrar quem perdi,
Preciso encontrar quem me perdeu,
Não sei voar neste céu sem ter uma mão a segurar a minha.
Sofri!
Tenho medo de falhar o voo,
Ser um voo raso sobre o tecto desta casa,
Choro um pouco mais,
Se tivesse forças arrancava as asas…
III
Um beijo,
Nesta noite tão noite,
Nesta noite em que estou de partida,
só um terno beijo te peço antes que a manhã se levante
e com ela se levantem as minhas asas.
Um beijo,
Acho que mereço pelas vezes que
não voaste comigo.
Estou de partida!
IV
Pensei então que poderia amar-te,
Desse jeito humilde e simples de amar
mas tu sempre exigiste de mim o que não podia dar.
Convidei-te para um voo mas negaste,
quando se ama não há forma de negar ao coração
e tu negaste
Descobri então que me amavas só pela metade
e o mais triste é que eu nunca conseguiria voar só com uma asa.
V
Deste-me a mão à chegada
Empurraste-me à par tida,
Para ti não serei nada,
voo de asa ainda ferida.
O teu céu já não é meu,
Meu reflexo não o vejo,
entre a tristeza do adeus
deixa cantarem apenas
a melodia de um beijo.
VI
Minha última cena,
neste último palco,
é deixar-me cair…
o meu último grito se alguém o ouvir
é porque me conhece o coração.
Tenho presas cá dentro as palavras
que em sussurros se revelaram em vão.
Minha vida assim sem guarida,
o meu mundo diante de vós
num rosto ferido de dores e cansaços
que não me pertencem.
O Baloiço da vida me embala
para longe de mundo que aguardo
Eu não sei quanto tempo mais aguentarei aqui…
VII
Se eu chorar meu mundo quebra,
Se eu gritar meu mundo acaba,
Se eu gemer as asas murcham
e eu não poderei voltar para o céu…
Mas trago no peito encarceradas
meia dúzia de dores tidas que ninguém compreenderá,
sorrisos passageiros dos amigos,
olhares desfeitos, mãos por dar.
Eu não posso estar triste, eu não posso falhar,
mas o céu que aqui existe é tão escuro,
escuro demais.
Eu não vejo uma saída, nem sequer para a minha vida ,
Não vejo nada. Vejo tudo!
VIII
Sem saber fiz do mundo um lugar meu
e entre as flores o meu corpo passeei,
fui nas árvores a alegria primaveril,
nos campos a magia do que há-de vir,
no teu peito eu fui só um anjo encontrado,
olhado e largado outra vez no seu canto.
Gostava de te olhar de novo, sentir-te vivo,
Gostava que pudesses sentir o meu coração bater.
Gostava mas o meu gosto não tem alcance,
Nem que o tempo sozinho dance para mo tornar real,
Gostava mas fico apenas pelo gostar,
teu rosto nunca mais vi,
nunca te hei-de encontrar.
IX
Tu deixaste que eu caísse nem ergueste a
mão para me ajudar,
ficaste a fitar-me tentando decifrar se
existia paraíso para lá da falésia por onde caía,
viste as minhas asas bater e de boca aberta de espanto
tiveste a certeza que eu era um anjo
e viraste costas para contares a toda a gente.
Eu cá em baixo, sentei-me e chorei.
Já nada havia a fazer…
Magoaste demais o meu coração.
Retirado da minha nova casa, mais pequenin a, uma tentativa de versejar, algo que não sei se aprenderei a fazer um dia.
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. façam de conta que eu não estive cá .