Saber se a idade é um caminho, ou se a idade é um livro aberto que nos faz caminhar sozinhos, será antes de mais uma súmula de predicados nossos a esvair-se num punhado de sonhos que por não saberem cair na desordem , andam de mão em mão, a tentar encontrar a ordem natural das coisas. Vejo-me por entre as feridas abertas de um rosto, que ao sorrir, se desfaz na tinta fresca de um desenho, e depois faz do desenho uma soma de gestos quase a atingir as forças de dois pensamentos loucos a caminhar sobre o meu corpo.
A idade é um conjunto de vivências que eu costumo chamar de experiências com ida e volta, no meio de uma louca viagem ao fantástico mundo dos sonhos. Será aí que a idade se transforma em todos os rostos que já conheceu, em todas as vidas que já viveu, em todos os corpos onde se escondeu, em todos os olhares onde se esqueceu de ser idade. Eu costumo pensar que não tenho idade. Sei-me perto de um mar profundo, fico lá até que a água me traga à superfície e me diga de um mundo onde a idade surgiu. Abandono este meu, onde me afogo neste pensar sem idade, vendo-me sem rosto, sem corpo, sem alma, sem nada que me diga onde foi parar a idade que me acolheu. Penso, penso e nada me diz nada, pelo menos de uma negação, ou de um encaminhamento de algo, ao encontro de outros nadas a viajar no espaço…. Este que ocupo passou-se para o indefinido e traz-me sempre uma história de vida que já morreu. Se conseguisse no entanto, ser algo que servisse de contrapartida, para que, pelo menos um sonho se materializasse. Se eu pudesse passar-me para dentro desse sonho e saber-me com algum tempo, que me provasse que a idade é uma constante a remediar as várias faces escondidas num labirinto onde mora a saudade do tempo. Sofro mas deixo-me ficar estendida numa mera casualidade, que é saber-me presente, mesmo que a idade seja uma inconstante a brilhar no escuro. Gosto destes pontos terminais onde encontro toda a idade que me fez vir aqui, contudo, não sei se me proponho a viver um sonho meu, sem te saber dentro, mais atento do que eu, quando tiver que partir. Preciso de ti, neste meu caminhar adentro do meu sonho, para que no final eu sinta que há tempos ainda por definir e idades ainda a surgir dentro do meu olhar.
Saberei sempre o que ficou por dizer quando me olhares nos olhos e me disseres qual a cor que eles assumiram;
se a cor das águas do mar;
se as cores do vários céus nocturnos onde me escondo para que me vejas a decifrar nomes, e mais nomes, que comigo se encontram, para a soma de outras idades encontradas em todos os sóis e todas as estrelas que baixam a tempo de encontraram o meu corpo…
Para nele se encontrarem também sem idade.