Noite ruim, perdi.
Perdi tudo, tudo;
saio como tenho de sair;
ajeito o colarinho,
cuspo de lado,
seguro o paletó
no gancho do dedo
e vou pela rua afora.
Luzes ficam atrás de mim,
a música também fica,
e sigo... sigo mas,
saiba que não te perdoo
por não teres sido minha
naqueles tempos
em que um bolero
faria a diferença!
Morto de ciúmes,
eu teria aprendido
a dançar contigo.
Mas duvidaria de tudo:
...onde aprendeste,
quando, quem era ele...
Agora é tarde,
cheguei tarde
para a festa
de tuas carnes.
Um bolero,
um bolero só,
à meia-luz,
na sala silenciosa,
e tu me dirias
mentiras piedosas,
dessas que se contam
a moribundos, a mendicantes,
ou a amantes ingênuos...
Ah, boca amarga,
o champagne de primeira
virou de quinta,
a sarjeta é comprida...
Na sala vazia,
ecoam ainda os versos
do bolero que eu perdi.
O par dançante errou o passo,
desacontecemos, jogamos torto,
e agora, eu danço apenas
os compassos da solidão,
[Noite ruim — Fim].
[Penas do Desterro, 01 de janeiro de 2010 - 02hs da madrugada]