No dia em que Julieta morreu
Cedeu com ela e com seu corpo
Uma alma consumida pela chaga
Sobremesa amarga
Que te leva
Que te perde
E nunca te traz a casa
No dia em que Julieta morreu
As flores continuaram perfumando
O ar que não enche agora teu peito
As tuas mãos foram buscando
Mas mais esperto esse sujeito
Fez-se de certo
Afogou-te no leito
Tu foste fácil para ele
Foste atraído pelo cheiro
Da pele nova nunca tocada
Julieta é nome do revólver carregado
Com a bala envenenada
No dia em que Julieta morreu
Logo apareceu o insano conceito
Do pobre que rouba rico para tocar na sua amada
No dia em que Julieta morreu
Veio essa peste que eu não aceito
Inundar a boca imunda que tão bem estava calada
Tu achas que sabes amar
Mas tenta antes respirar
O teu corpo é tão mais perfeito enquanto respiras
Do que ao cair no precipício do qual te atiras
Tu não foste feito para achar segundo sentidos
Tu perdes-te no meio desses medrosos gemidos
No dia em que Julieta morreu
Deus também chorou
Para que pudesses dizer que ele é bom
No dia em que Julieta morreu
Nos céus uma canção ecoou
Que hoje cantas sem saber o certo tom
Tudo isto aconteceu
Num dia em que estive fora
No dia em que Julieta morreu
Eu só cheguei a tardia hora
Quase de bêbado caído
Quase tão perdido
Como tu que choravas
No dia em que Julieta morreu
Eu dormi sem o ruído
Das promessas que rasgavas
Das cartas que queimavas
Tudo isso junto ardeu
No dia em que Julieta morreu