A vida também se escreve. Ainda que nem sempre seja fácil encontrar os verbos certos para conjugar o presente com o passado.
Entre o que nos resta das imagens que a memória guardou e cuidou para que se não apagassem e aquilo que hoje somos, há um abismo de vivências de parte a parte e por nós desconhecidas que nos separa.
O acaso deste admirável mundo novo abriu-nos uma janela por onde entrou um turbilhão de emoções indescritíveis que nos tomaram de assalto, fazendo-nos reviver coisas tão insignificantes, mas que, contudo, talvez sejam as mais valiosas que algum ser humano possa ter como a sua secreta e pequena fortuna. As lembranças boas da nossa infância são de um valor incalculável!
Do tanto que não tivemos, ficou a sensação de vazio no pouco que partilhámos. Senti-o! Mas senti também uma certeza, não mais nos havemos de perder de vista e não faltarão vezes ao tempo que um dia nos fintou deixando-nos em suspenso por uma vida e presas pelo fio da imensurável lembrança e pela falta do abraço que não houve na despedida; de ainda vir a remediar aquilo que perdemos por não ter havido sequer uma despedida...
Há amizades que não conhecem fronteiras, muito menos os abismos que o tempo cavou!