Vou contar-vos uma agora,
Que uma vez me aconteceu.
Foi numa triste hora,
Em que isto ocorreu.
Uma vez fui visitado,
Por uma patrulha da Guarda.
Parecia estar a ser assaltado,
Por bandidos vestidos de farda.
Por a casa dentro entraram,
Sem baterem ao portão.
A casa toda revistaram,
Atirando tudo ao chão.
Eu, na cama estava deitado.
E deitado eu fiquei.
Estava tão admirado,
Que nem um gesto esbocei.
Da cama eu fui tirado,
E por os cabelos trazido.
Por os pés fui arrastado,
Ficando com o corpo ferido.
Por o pescoço amarrado.
E com as mãos algemadas.
Por os pés acorrentado,
E as costas magoadas.
Fui atirado ao chão,
E por botas fui pisado.
Deram-me com um bastão,
Até ficar desmaiado.
Mais tarde fui interrogado.
Muitas perguntas fizeram.
Eu já estava todo inchado,
Com a porrada que me deram.
Para um calabouço fui atirado.
Tive que dormir no chão.
Eu ainda estava atordoado,
Com toda esta confusão.
A meio da noite voltaram.
E repetiram a lição.
Só no fim, é que pararam.
Quando eu caí no chão.
Eu estava todo amassado,
Empenado e todo torto.
O meu sangue tinha gelado,
Eu pensava que estava morto.
Passou a noite e a escuridão.
Eu nem sequer tinha dormido.
Não percebia a razão,
Disto ter acontecido.
De manhã, fui levado ao comandante.
Era imponente e autoritário.
Mas não passava de um tratante,
Que logo me chamou de ordinário.
Recebeu um telefonema,
E olhou-me admirado.
Desvendara-se o problema,
Eu era o homem errado.
Nem desculpas me pediram,
Por terem feito confusão.
Não era a mim que queriam,
Procuravam um ladrão.
Para a rua fui jogado,
Num estado lastimoso.
Estava todo esfarrapado,
Mais parecia um leproso.
Fui queixar-me ao tribunal.
E qual foi o meu espanto.
Isso é coisa banal,
Disseram-me entretanto.
Sem querer acreditar,
Naquilo que eu ouvia.
Comecei eu a gritar,
Mas ninguém me acudia.
Continuei a insistir.
Porque eu tinha razão.
A polícia mandaram vir,
E fui levado á prisão.
E mais pancada levei,
Para ver se me acalmava.
Mas eu sempre cumpri a lei,
Era o que eu reclamava.
Brutalmente massacrado,
Por coisas que já lá vão.
Muitas vezes maltratado,
E condenado á solidão.
Estive três anos detido,
Á espera de julgamento.
Sentia-me já perdido,
Ao passar tanto tormento.
Leveram-me a tribunal,
Para me lerem a sentença.
O juiz, parecia um chacal,
Mas fui levado á sua presença.
Perguntei-lhe eu então,
De que era eu acusado.
Ele deu-me um sermão,
E chamou-me mal educado
Desordem no tribunal,
Atentado á sociedade.
Por coisa assim tão banal,
Eu perdia a liberdade.
Foi então dada a sentença,
Naquele momento preciso.
Era uma pena suspensa,
Para que eu tivesse juizo.
A desgraça tinha acabado,
Nesta mesma ocasião.
Eu que sempre fora honrado,
Tornei-me depois ladrão.
zeninumi 24/8/2007
zeninumi.