CABISBAIXO
Sois filhas de rochedos,
Que tão bem guardam segredos,
Ò pedras da calçada
Chão desta passada
Que se esvai,
Guardai também
Deste que aqui vai
E não contem nada
A quem lá vem.
Sabeis bem
Que em vós nada perdi,
Tão pouco acho
Nem nunca vos sorri,
Cabisbaixo.
Sei que me ouvem
E que calam
O que os pés falam
De quem tropeça
Numa arrelia
E sofre à pressa
Baixando a cabeça.
Sereis vós sem alegria
Dos passos que ouvistes,
Do esvoaçar duma folha,
Duma rua vazia
Como as vidas
Da tristeza que vos olha
E que assistes,
Desinibidas,
Sussurrando melancolia
Num passeio dos tristes
E sem escolha?
Eu já vos vi,
Não aqui,
Outras
De outra sorte
Espreitando montras,
Gemendo com carros,
Em moradas de morte,
Fumando cigarros,
Enfim…
Mas, feliz por elas
Lembro aquelas,
Outras,
Pousadas num jardim,
Rodeadas de flores
Testemunhando amores
E sorrindo para mim.
Serão todas assim
Quando eu, já
De cabeça levantada,
Voltar cá
A pisar a calçada.
Em boas marés
Posso nem as ver
Mas irão elas entender
Porque os meus pés
Vão-lhes dizer.
bloackt.
Nascer para ser feliz