Assassinado pelo céu,
entre as formas que vão até à serpente
e as formas que procuram o cristal,
deixarei crescer os meus cabelos.
Com a árvore de mãos cortadas que não canta
e o menino com o brando rosto de ovo.
Com os animaizinhos de cabeça partida
e a água andrajosa dos pés secos.
Com tudo o que tem cansaço surdo-mudo
E borboleta afogada no tinteiro.
A tropeçar no meu rosto diferente de cada dia.
Assassinado pelo céu!
Federico García Lorca (1898-1936), poeta espanhol.