Que não pulsasse tão fortemente
que calasse fundo no peito
a angústia dos incompreendidos
e vagasse no espaço apenas em
consonância com as estrelas
tendo a lua por sentinela das emoções
que movimentam as trajetórias humanas
Se eu tivesse um coração
mais guerreiro e feróz
certamente eu estaria entre os fortes
que lutam bravamente por seus propósitos
ainda que isto lhes custe a felicidade
Mas tenho um coração
que se debate entre a guerra e a paz
aquela paz que não escolhe
que a todos acolhe de forma completa
que vê o mal como um bem
que se perdeu nas esquinas da vida
que percebe que os homens buscam
sempre a eterna felicidade e que muitas vezes
ela está tão perto que basta estender as suas mãos
e recolhê-la, colocando ao colo e apenas acariciá-la.
Mas em suas ânsias incontidas,
em suas verdades absolutas, as criaturas ficam cegas
a todas as boas coisas que a vida lhes oferece,
e assim vagam infelizes pela vida afora.
Se eu tivesse um coração
menos apegado às coisas mundanas da vida
e não se preocupasse tanto com os afetos
e nem sentisse tão forte o desalento
mas que apenas simplesmente
buscasse no outro a beleza,
a suavidade das horas,
a ternura desmedida,
o carinho apaixonado.
Mas meu coração hoje apenas chora,
porque percebe a discórdia reinante
nas circunstâncias que a vida oferece.
A fogueira das vaidades alimentando
raivas, mágoas e rancores
levando as criaturas dedicadas às artes poéticas
a se refugiarem em copas
porquanto em seus corações
a suavidade das rimas e versos
clama por um espaço de luz e paz.
Mas se eu tivesse um coração sem lágrimas
estaria entre as estrelas eternas
porquanto viver neste tempo e espaço
requer que façamos da vida um livro
com risos e dores em suas páginas
aprendendo assim a entretecer as palavras
com mais graça e leveza
traçando nas entrelinhas a sonhada felicidade