Poemas : 

Amor e loucura na fronteira da razão

 

Quando o amor se encontra com a loucura na fronteira da razão, ambos se questionam: quem é você? Param por um instante. Olham-se com alguma soberba, e se falam em tom profético. Diz o amor:
- Eu sou aquele que arranca os homens e mulheres da cama na alta da madrugada e os impele pelas ruas, noite adentro, desesperados de uma dor que causa prazer.
Retruca-lhe a loucura:
- Pois eu sou aquele que devolve esses mesmo homens e mulheres aos seus leitos, carregados de dor e desejo, sedentos de vida e transbordantes de sonho.
Alterca-lhe o amor:
- Eu sou aquele que lhes restituirá a vida sem lhes tirar o prazer da morte no gozo extremo.
Anuncia a loucura:
- E eu sou aquele que lhes presenteia a morte, sem lhes tirar a vida.
Exaspera-se o amor:
- Eu sou o que todos desejam.
Complementa placidamente a loucura:
Eu sou no que todos vão dar.
Ironiza o amor:
- Eu sou quem os pode levar e trazer.
Boceja a loucura:
- Eu sou o caminho de ida e volta.
Abate-se o amor:
- Se você é tão magnânimo, então não preciso mais existir…
E se apreça a loucura em corrigir o engano:
- Não me deixe, pois sem você torno-me obsoleto.
Ambos param por um instante e se contemplam; voltam-se para os pobres mortais e, sem mais palavras, seguem seu caminho de solidão acompanhada. E, sem maiores elucubrações, entendem que não sabem quem são ao certo, e se lançam ao seu infinito dilema, “quem sou eu?”, pensa o amor; “quem sou eu?”, pensa a loucura…

 
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Arcanjo
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