Raquel sabia que aquele momento aconteceria, e também sabia que chegaria de uma forma inesperada, como um trovão que irrompe o silêncio da noite. Engoliu o vazio em seco, enxugou o mar que lhe banhava a face e abraçou a pequena mão do filho à sua.
- Vem com a Mamã, João!
O pequeno João olhou a mãe em silêncio e seguiu-lhe os passos. Abandonaram o quarto, passaram o corredor e seguiram pela cozinha até chegarem ao pequeno jardim que habitava a frente da casa. Os olhares de ambos registaram a fotografia da lua cheia cor de laranja durante uma fracção de segundos que se eternizou no negrume do céu. Raquel agachou-se, envolveu o corpo de João com os seus braços e, em tom de confidência, sussurrou-lhe ao ouvido:
- O papá trabalha ali, na lua. Tenho a certeza que ele nos está a ver neste preciso momento e ficaria muito feliz se lhe oferecesses o teu sorriso.
Um sopro morno de vento afagou os cabelos escuros do João e à sua pequena boca nasceu um sorriso capaz de abarcar o infinito.
- Para ti Papá! – disse com a sua voz ingénua de menino e foi abraçar a mãe.