[... um ser atônito, em construção, sempre...]
Tantas idéias... tantas,
tanta metafísica, tanta...
E as minhas buscas —
afinal, o quê? Desertos...
Ânsias de galhos viçosos
que se estendem sobre
os perigos dos abismos?!
O agora — um súbito degrau,
um salto no tempo? Nada...
Sim, tudo é nada diante
da traição que o meu corpo
engendra nesta madrugada;
ainda agorinha mesmo,
na penmbra da sala vazia,
eu estava em paz,
pois eu sabia, sem saber,
que eu tinha um corpo...
Mas é madrugada,
e o corpo desperta, quer...
as mãos tocam, de leve,
imaginárias formas...
as tuas fêmeas formas...
Ah, onde, quando...?
Mais que amiga, és recorrência,
eu recaio em ti, sem cessar!
Não pertences àquela
mente analítica de ontem,
mas habitas naqueles amanhãs,
amanhãs de depois do amor,
que o meu corpo apenas
sonha... prelibações sem abismos,
paisagens de planícies calmas,
aroma suave... no leito macio,
ainda o cheiro do amor...
[Tanta metafísica, tanta...
E essa recorrente traição...
Corpo, ah corpo meu!]
[Penas do Desterro, 05h32 de 06 de março de 2010]