Hoje tirei-te uma fotografia. Uma não. Várias. Estive agora a contempla-las e a perguntar-me se algum dia poderei concretizar aquele velho sonho de miúdo que já todos tivemos: Fotografar algo ou alguém e transportar esse algo ou alguém para dentro da máquina carregando-o numa fita de 30mm, bastando posteriormente revelar essa fita para os ter perto de nós. Tu não gostas que eu te fotografe. Dizes que ficas mal e que "não-sei-o-quê". Mas asseguro-te já que não ficas. Eu gosto de fotografar-te e captar a tua aura do momento. Gosto da sensação de remover a fita no escuro, de a encaixar na espiral e de a guardar dentro do recipiente hermeticamente fechado. Gosto de verter o líquido revelador. Revelar-te, é descobrir-te, dar-te a conhecer, trazer-te à luz. à minha luz. Depois de revelada a fita, verte-se a solução de paragem, mais conhecida por STOP. É neste momento particular que mais saudades tuas sinto. Lembro-me sempre do momento em que me deixas e segues a tua vida. No fundo, este é o momento em que mais saudades tuas sinto. No fim coloca-se um fixador. Fixei agora os meus olhos numa foto que tiramos juntos. Adoro observar o teu rosto junto ao meu. Mas volto a sentir saudades. Sinto saudades de sentir o teu lábio tocar o meu. Sinto saudades de poder embrulhar os meus braços em ti. No fundo, sinto saudades tuas. A minha máquina não guarda as pessoas dentro dela (infelizmente). Guarda antes a memória de uma tarde bem passada, junto da pessoa que mais bem me completa. Até lá, vou-me contentando com uma imagem. No entanto essa imagem faz-me acreditar que da próxima vez que estiver contigo me vai saber aínda melhor abraçar-te. Vai saber aínda melhor voltar a fotografar-te, entrando num circuíto eliptico, que me leva de volta ao topo deste texto.