Ás vezes doi mais o silencio do que um berro. Eu berro e doi-me a garganta. Se continuo a berrar, ela doi-me aínda mais até que fico rouco e não consigo berrar. Aí surge o silêncio. Como estou com dores de garganta por ter berrado tanto, sou fisicamente obrigado pelo meu corpo a estar calado. E secalhar, aqueles berros que eu estava a emitir, não passavam de meras afinações, pequenas descargas que o meu cérebro enviava, como forma de soltar um impulso nervoso. Seja como for, o meu silencio é especial. É especial porque é diferente do teu. E o teu é especial porque é diferente do meu. Cada um de nós tem uma forma muito própria de berrar e de estar calado. Tu passas muito do teu tempo em silêncio. E quando berras, ouve-se bem alto, lá pelos quatro cantos do mundo segundo sei. Eu não. Eu passo a vida a berrar. Mas depois fico em silêncio e solto o meu grito mudo. Podes não te aperceber, mas todos os meus gritos mudos encontram uma forma de chegar a ti. Seja uma música, um texto, um desenho... não interessa. Hoje solto mais um grito mudo, porque quis que entendesses os meus gritos mudos. Sempre que os solto é porque algo importante aconteceu. Solto os meus gritos mudos todos os dias, seja de que forma for. Há os que têm pouca importância, aqueles sem os quais já não consigo passar algumas horas sem soltar. Mas há também os que têm muita importância, gritos mudos que debitam mais décibeis do que qualquer amplificador. É este o grito mudo que trago até ti hoje. O grito mudo em que te revelo a existência de um grito mudo, o grito mudo que tem mais força do que qualquer voz. A ti.