Ah, poeta, que sofres as dores, dos outros e de todos,
como se tuas e vês tanta desgraça no mundo, impuro e vil,
preenchem-te as noites de solidariedade, e de preocupação,
para com os que não têm voz nem justiça, na sua estrada.
És um ser solitário, que vai na vida a sonhar, sonhos de encantar,
pura ilusão de belos prados, jardins suspensos, um viver melhor
para todos; e choras a devastação das guerras irracionais e destras,
que tu, no teu amor, não compreendes, tanto o desatino aqui.
Comendador da paz, andas de mãos dadas com os mais pobres,
que nada têm para oferecer, na sua parca e incomensurável
miséria, mas sempre uma côdea de pão é servida à mesa despida,
onde te sentas com os mais desgraçados e perdidos, deste mundo.
Estás na Terra para cantar odes e revolucionar os velhos
valores, que se perderam, com o tempo e a pressa de chegar;
não, tu és maior, que o Homem, e mesmo cansado sorris,
se vês as pessoas felizes, tendo à tua volta os animais da criação.
Quem és tu poeta, que sempre uma dor carpes e que não
sossegas teu coração apertado, pela omissão dos homens e mulheres?
És aquele que leva a palavra verdade, para quem vive com a mentira,
nunca recriminando, apenas ensinando com seu aprendizado.
Eterno sonhador tentas reinventar um novo modo de vida,
onde a justeza prevaleça e faça ninho, nos olhos das pessoas
desgarradas, que mais não sabem o que fazer, de sua pouca sorte,
do que andar neste mundo a pedir carinho, à presença do poeta.
Sempre pronto a entregar-se aos outros, como um pai ou uma mãe,
proteges os filhos da rua, que não sabem o que é amar,
pois o destino os estigmatizou, e carregam a cruz de seu calvário,
habituados a dias sem sol, dando como quem não dá, altivos.
És poeta que se magoa, pela enfermidade, de alguém, que nem
sequer conheces, mas já viste muita dor, e ela, só precisa de um
ombro amigo e compreensivo e que o poeta lhe narre histórias de
encantar, àquele que sofre com coragem sem se queixar.
Agora sei quem és, poeta, és aquele que não dorme, procurando
a salvação dos mais ignóbeis para a Sociedade, madrasta e cruel;
viver as dores dos outros, suas renúncias, é o teu exposto caminho,
com que caminhando, levas as boas novas, aos mais tristes dos tristes.
Jorge Humberto
21/10/10