Solidão muita
Escuridão a dentro
Escuridão há
Lá dentro
Nessa terça asséptica
Que me pesca
Eu mordo o anzol do silêncio
Por decisão urgente
Hoje
Eu preciso
Me embriagar de saliva
Na fonte
E bater nas curvas
Nas mãos há luvas
Cirúrgicas
Acadêmicas
Me isolando
Que rasgo e atiro
Lá fora
Contra a janela
Onde espero
Esfolar
Meus pelos
E abrir
Meus poros
Nessa terça estúpida
Plasmada de tesão
Sem uso
Que me implora a chupar seus seios
Até formigar a boca
Fazendo o corpo ser
Deixando marcas
Criando luas
Cálidas
Crescentes
Expostas
Além do vazio
No quarto
A vida inteira
Nua
Eu quero
Quero anular o que me impede
De ser inteiro
Com ela
E avivar a natureza morta
Excitando o concreto
No chão
Quero gozar nos prédios
Nos muros
Na cara dela
Chocar os paralelepípedos
Despir as ruas
Lamber os carros
Ungir suas coxas com porra
Fincar os dedos
Na noite
Nas ancas
E dominá-la
E comê-la sem mastigar
Com o pau com os olhos com as mãos
Com os versos
Arrastando a madrugada
Pelos fios dos postes
E dos cabelos
Emaranhados à noite
Arrepiada
E ávida
De suor
E sexo