Poemas : 

É quarta. Da polida prisão do ventre

 


Gê Muniz

AS TARDES DE QUARTA

Tenho um furacão por manto
E um insano vulcão por cinto
Minto por cada minúsculo poro
Pela boca, evadem meias-verdades
Furor nos debates, por cada milímetro
Lá se vão os egrégios gigantes retardes
A morderem amigos, anões sorridentes
Na refeição negligente de quarta
Ao seguir do ocaso da tarde

Tenho a demência dos imperadores
Uma nobreza torena, reluzente
As deselegantes pernas cruzadas
Para o nada, meu reino é bem-adaptado...
É quarta, me sinto coroado de nuvens
A espalhar-me ouro de tolo garimpado
Nas altas vagas de minha cintura
A esta altura, nem tão magra

Tenho certa razão, isto impressiona
Meu argumento é mais que preciso
Abate-me por fidedigna indigestão
É quarta... Da polida prisão do ventre
Pois a terra escraviza meu fogo,
A água incha minhas veias
E o ar... Sai de minhas cavernas
Minha carne crosta queimada
Com gosto apimentado de ervas
A temperar-me de idéias vagas

Tenho o uísque um tanto aguado
Vida e morte inebriam o encontro
Qual nada, participantes desavisados
A gritarem, alterados, o empate do jogo
Quarta, o pão repousa escuro, requentado
Está muito claro! É a mão de Deus
A revelar-me o enrijecido malogro
Nunca estive tão distante de asas...
Divago. É preciso um infinito tempo
Curar-me! Ao toalete lavar o rosto.
 
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GeMuniz
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/10/2010 20:01  Atualizado: 20/10/2010 20:01
 Re: AS TARDES DE QUARTA
Read more: Jorge Santos poesia http://namastibetpoems.blogspot.com/#ixzz12vm15XXd
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Gê...
Gê ,Deus da Terra

De tudo quanto vejo me acrescento,
Em cabelo branco e rugas no queixo,
E faz tempo q’ajeito no peito o ensejo,
Insatisfeito de alojar, o rosto do absoluto.

(E o espírito máximo dos tempos )

No todo, muito do que avisto na Terra,
Cabe entre os dedos e a voz grosseira,
Que alongo na espera e precede o eco.
(Curto estrondo que não me fez rico)

(Do senhor de todos os quadrados ventos)

De tudo quanto sobeja deste corpo,
É só ao acidente d’alma que culpo,
Por não se despegar e içar em altura,
Como nos feitos, que teimo d’canseira.

(Tentando, em vão, escalar o Templo do Sol)

Seja o que for, que de divino, vá crescendo,
Será a dúvida, de alguma vez ter bom porto,
E com algo de comum, na água do Sado,
Suja, mas dando abrigo a um bom espírito,

(O Espírito com guelras, das águas salobras.)




( JorGê e Santos d’apelido. ) 2010/10
http://joel-matos.blogspot.com




Enviado por Tópico
Ledalge
Publicado: 20/10/2010 20:41  Atualizado: 20/10/2010 20:41
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 Re: É quarta. Da polida prisão do ventre
Olá Ge,

Não é toda quarta que a gente se depara com um poema tão forte, trazendo o intimismo de forma escancarada, diria à flor da pele. Eu aprendo a cada dia com sua poesia, e continuo na expectativa.

Obrigada

Ledalge


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/10/2010 21:16  Atualizado: 20/10/2010 21:16
 Re: É quarta. Da polida prisão do ventre
Ola Ge, mais um belo poema que disseca impiedosamente a alma do poeta! Parabens e grande abraco!


Enviado por Tópico
carolcarolina
Publicado: 21/10/2010 00:50  Atualizado: 21/10/2010 00:50
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 Re: É quarta. Da polida prisão do ventre
Amigo Poeta
Gê!

Poeta acho que está aborrecido comigo?
Fugiu lá do meu cantinho.
Eu estou deveras triste e nem sei quem vou comentar sem levar uma chapuletada tal é a confusão que se instalou aqui. Disse para mim mesma, não volto tão cedo para comentar.
Eu gosto muito de ler o poeta Gê e acabei vindo só comentar o poeta e uns pouquinhos que ainda dá para comentar. Seu texto está exatamente como está se sentindo nas tardes de quarta. Mas não tem nada poeta, Deus anota tudo.
Bjo no seu coração
♫Carol


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/10/2010 16:35  Atualizado: 21/10/2010 16:35
 Re: É quarta. Da polida prisão do ventre
Belos versos. A poesia está em tudo, e em todas as coisas há poesia. Na natureza, na alma humana, na beleza e também na feiúra, na vida, na morte, no amor e no desamor. Tudo é matéria-prima para o espírito do homem criar palavras de valor...
Beijos!
Felipa