O nó Górdio
1
Quando o homem da Macedônia
Com a sua espada
Cortou o nó, chamaram-no
Naquela noite em Gordium, "escravo
de sua fama".
Pois o nó era
Uma das raras maravilhas do mundo
Obra-prima de um homem cujo cérebro
(O mais intrincado do mundo!) não pudera
Deixar outro testemunho senão
Vinte cordões, emaranhados de modo a
Serem um dia desatados pela mais hábil
Mão do mundo! A mais hábil depois daquela
Que havia atado o nó. Ah, o homem
Cuja mão o atou
Planejava desatá-lo, porém
O seu tempo de vida, infelizmente
Foi bastante apenas para atar.
Um segundo bastou
Para cortá-lo.
Daquele que o cortou
Muitos disseram que
Esse fora o seu golpe mais feliz
O mais razoável, o menos nocivo.
Aquele desconhecido não era obrigado
A responder com seu nome
Por sua obra, que era semelhante
A tudo que é divino
Mas o imbecil que a destruiu
Precisou, como que por ordem superior
Proclamar seu nome e mostrar-se a um continente.
2
Se assim falaram em Gordium, eu digo:
Nem tudo difícil de se fazer é útil, e
É mais raro que baste uma resposta
Para eliminar uma questão do mundo
Que um ato.
Bertolt Brecht (1898-1956), grande poeta e pensador alemão. Como ele mesmo disse viveu em tempos negros: viu a 1a Grande Guerra, viu a Revolução ser massacrada na Alemanha e seus líderes serem barbaramente assassinados, assim como milhares de operários e também as lideranças sindicais. Lutou durante toda a sua vida em defesa dos oprimidos.
Poema traduzido por Paulo César de Souza.