Poemas : 

O Muro - Por quê?

 
O Muro - o muro por quê?
É assim - ou quase assim:

ontem, caiado de branco,
chapiscado com pedriscos para ralar joelhos;

hoje, pichado de signos dos fins dos tempos,
os traços de almas no escuro, apodrecidas de vazio;

aos olhos cúpidos, inutilmente alto,
pois nunca impediu os assaltos;

tétrico, em especial na lua cheia,
ao separar mortos de vivos;

orgulhoso, ao separar o quintal da mansão
da rota dos cães sarnentos que nele mijam;

instituidor de cansaços, pois, às vezes,
estende-se ao longo de ladeiras de doer as pernas;

o muro surdo, orgulho de uma ideologia,
para minha alegria, uma impossibilidade nos trópicos;

o muro, um empecilho para a atividade
formigueira dos pequenos ladrões - coitados!;

o muro, um questão de ponto de vista,
obstáculo, ou estímulo de superação;

o muro - nada... agruras da rua da infância,
perdição, perdido blues, perdido tango...

... e perdido eu, que lanço discurso besta
contra muros de moucos ouvidos...

[valho nada... sou rude mesmo, sou a humilde
argola terceira do longo chicote de couro cru...]


[Penas do Desterro, 21 de setembro de 2010]

 
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crstopa
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Enviado por Tópico
VIDEIRA
Publicado: 23/10/2010 11:04  Atualizado: 23/10/2010 11:04
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 Re: O Muro - Por quê?
Um chicote de couro cru, se longo o suficiente, pode servir para galgar muros e permitir a fuga...
e, sei lá, por lhe faltar uma argolinha, uma humilde última argolinha, pode morrer a uns milímetros do gancho da salvação...

Beijo d'ouro.