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A cobiça.

 
Posou o telefone lentamente sobre sua base deixou que as copiosas lágrimas lhe escorressem face abaixo, aquela ligação matara seu derradeiro sonho. Seu ultimo desgosto viera acompanhado de uma perda material irreparável, metade do que conseguira com a venda de sua casa havia desaparecido juntamente com o amor que jamais existira no homem sobre o qual depositara suas esperanças e agora num “click” de telefone saia de sua vida. Sobre a mesa de cabeceira o livro que este lhe dera “Como persuadir pessoas e alcançar seus objetivos imediatos.” Brochura mal acabada e uma mediocridade gritante num compendio de diversos livros de autoajuda juntos com o objetivo não de ensinar a persuadir mas de persuadir as pessoas que poderiam enriquecer, se exasperava de ter sido tão inocente.
Começara pela Internet, num site de encontros o conhecera, chamara sua atenção seu nome fictício estranho ...O anéis do senhor ... dizia pouco de si uma foto de um homem forte queimado de sol a convencera a procura-lo para iniciar um relacionamento... este homem vendia sonhos de riqueza em empreendimentos bastante plausíveis que difundia em um blog, marcaram encontro soube depois que era casado e tinha restrições para sair, desenhista mecânico aposentado apresentava-se como engenheiro. Usava métodos o mais diverso para angariar confiança das mulheres de inicio desconfiara do numero delas que tinha no site, todas senhoras, todas com cara de carentes, de qualquer forma se conheceram tornaram-se amantes, ela dispensou antigos amigos para esta nova relação que a tiraria da medíocre vida que levava para uma vida de conforto que perdera.
Enfim já tinha intenção de vender a casa e ele só apareceu na hora certa lhe propôs sociedade no negocio de vender cursos ensinando as pessoas a ficarem ricas, com os negócios que oferecia, ela vendeu a grande casa, avisou a família sem ouvir os apelos para tomar cuidado, e se entregou de corpo e alma ao seu projeto, mais de corpo que de alma. Mesmo ao descobrir ser ele casado, aceitou sua explicação de uma ex-esposa doente não tinha onde ficar apenas lhe dava um teto e a companhia do filho de ambos. Conhecera o rapaz de boa aparência como o pai, bom papo sócio, agora deles, meses se passaram o plano em execução, gráficas aluguel de salas, compra de moveis e equipamentos para uma central de atendimento e um pedido de financiamento a um banco para completar o capital do seu grande empreendimento. Agora a derrocada, o financiamento descobrira por consequência a ficha criminal dele, estelionatário de longa data, nada havia sido pago de tudo o que iniciaram apenas fora dado a entrada ou alguma garantida financeira, e ele desaparecera a semanas nada deixando no apartamento que as roupas que ela lhe havia dado um deles caríssimo comprado em seu aniversario em setembro. Já fizera queixas a policia fora informada que não era a única ele era figura conhecida no meio policial, usava diversos nomes, não conseguira falar com ele, senão hoje e ouvira cinicamente que não havia dado certo, mas o que faria ela uma mulher limitada e sem cultura com o dinheiro, ao ser perguntado onde estava, respondeu com uma risada e quando poderia vê-lo a mesma resposta, desligara o telefone e ficara naquele estado catatônico. Tentou falar com seu amigo de sempre não era a primeira vez que o deixava para tentar outro, Ele lamentava nada podendo fazer nem encontra-la estava ocupado, sentiu a mentira no tom da sua voz não queria vê-la. O mundo lhe caia ao redor, se recompôs, não respondeu as perguntas dos filhos, colocou uma roupa e saiu para andar na cidade, passos abertos de camponesa acostumada a andar descalça carregando seu corpo rotundo, percorria a cidade que adotara odiava e amava ao mesmo tempo.
Nela criara os filhos e perdera a vida, a cidade cansada com seus espelhos quebrados fingindo de amor. Buscava entre os restos do seu rosto, o rosto de um tempo que se foi e ainda se permitia sorrisos. Os prédios em volta da praça que tanto gostava de passear com seu cão e seu homem nada dizia, Nada era mais forte e persuasivo que aquele ônibus veloz que descia avenida abaixo sob o qual jogou o seu corpo disforme e seu trágico destino.

Carlos Said
Primavera de 2009



 
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Carlos Said
 
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