Fecho os olhos…
…Vens com a noite coberto de ínfimos cansaços, vens trazendo no corpo os poentes de tanto sóis que já se foram, vens e percorres o meu corpo com o olhar, um olhar que me saboreia a pele à distância de dois palmos… Soltas as memórias e recordas o que já vivemos…
Eu floreada por debaixo do lençol branco por onde o meu corpo se insinua esbelto, sob a forma de desejos abstractos bebidos de um trago com a primeira claridade da aurora… o lençol cobre-me a pele e realça-me as formas…
Tu sentado no canto do quarto, puro, rosto cravado no meu corpo, mãos segurando a face, olhos tristes de passos por dar, coração aos pulos, desejo de tocar…
A luz da lua entra em seda pela janela latejada já por tantas esperas incontáveis, solta as amarras do desejo…
Viro-me, o suor das horas cobrindo-me por debaixo do lençol branco colado ao corpo; tu continuas sentado no canto do quarto, continuas a olhar-me do chão que esconjuro, continuas impermeável, perfeito a um canto…
Como uma árvore repousa no campo ultrapassando a noite e no seu merecido descanso, o corpo repousa-me no leito no seu merecido descanso depois de mais um dia cheio de manhas e manias.
Segredos… mistério…flores… o cabelo cobre-me o rosto, o lençol cobre-me o corpo, a verdade está escondida na pureza de um cenário faminto de prazer, repleto de desejo… Vasculhas-me com esse olhar o passado perturbador que tive, vasculhas as gavetas de um passado à toa, vasculhas-me o coração fervilhante de amor…
… entre este sossego e o meu corpo arvoredo desfolha as pétalas dos meus segredos!
Abro os olhos!
. façam de conta que eu não estive cá .