Contos : 

Maria Papoila

 
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Maria Papoila tinha coração de criança e corpo de mulher e as suas formas como as formas da montanha faziam com que os homens, os poucos que àquele canto do mundo iam, por ela se encantassem, a idade dela não importava, era bela demais para que esses detalhes fossem estragar os sonhos daqueles que com ela se cruzassem.
Bela demais!...
Na realidade nunca fora à escola, aprendera a falar com os pais, aprendera desde cedo a força de vida.
A pele morena pelo sol que desde manhã cedo à tardinha lhe batia de alto abaixo durante o seu percurso habitual de trabalhos pela quinta, saltava pelas montanhas guardando o rebanho de mais de 100 ovelhas às quais já dera mais do que um nome, sabia de cor cada canto e recanto de todo aquele verde.
Havia muitas coisas em si que faltavam saber, faltava-lhe conhecer o seu próprio corpo que aguentava a chuva e o frio, aguentava o calor e a água do pequeno ribeiro, aguentava até todos os tombos que ela dava montanha abaixo sempre que escorregava mas faltava-lhe conhecer esse corpo de outra maneira, faltavam-lhe outras mãos para a conhecerem, faltava-lhe conhecer alguém que a quisesse conhecer... por assim dizer.
Maria Papoila vivia na quinta e nunca de lá tinha saído, um dia ainda o galo não tinha cantado correra o mais que pode e alcançou o ponto mais alto da montanha só para ter o prazer de observar do alto a aldeia lá em abaixo, quieta, esperando depois que o nascer do sol a fizesse movimentar-se, viu vários vultos e sentiu na pele a necessidade quase espontânea de ir mas ao mesmo tempo parecera-lhe que as ervas lhe atavam os pés, prendendo-a, fazendo-a permanecer.
Raramente conhecia gente, quem lá ia eram as pessoas do costume e se não eram as pessoas do costume era engano e então nunca mais lá voltavam e isso deixava-a a triste.
Sentava-se nos rochedos mais altos e sonhava que haveria de vir alguém buscá-la, haveria de vir alguém que se encantaria pelos seus olhos verdes e pelos seus cabelos loiros ondulados, haveria de vir alguém que a levaria para longe, tão longe que ela um dia sentiria saudades de tudo isto e sentiria que deveria voltar de vez enquando só para ficar ali sentada com alguém a seu lado a observar o sol a esconder-se atrás das montanhas.



. façam de conta que eu não estive cá .

 
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Margarete
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