há sempre um poema no final de uma caminhada. acabo sempre num, sentada num banco vermelho, verde, acabadinho de pintar onde ainda se pode ler um letreiro “pintado de fresco”. rodeada por gente que se movimenta ou se solidifica acto contínuo…,há sempre um poema no final de uma caminhada, um casal que se incendeia, lábios que se colidem. há sempre demasiados “voyeurs”, como não? se há sempre um imenso jardim no final de uma caminhada para contemplar, repleto de curiosidades, pormenores obscenos, actos heróicos, eróticos, circundantes como as mulheres que desejam apenas à distância da janela o homem que está à janela do prédio no outro lado da rua.
sempre gostei de jardins, ou de parapeitos de janela, sentar-me de olhar perdida à volta, numa catarse de sentidos em estado de espera.
sempre sonhei ser jardineira, a melhor de todos. vestir.me a preceito, tal vidro transparente e caminhada após caminhada , após o meu ofício, colher poemas , trincar versos de uma forma lasciva, parva e de ter o despudor de abrir a boca a meio da mastigação e mostrar a toda a gente a seiva a escorrer pelos cantos da boca, como quem sabe mastigar palavras, engolir o orgulho e no fim da ambrósia soltar um vivo ronco , um aceso arroto de satisfeita.
Há sempre um jardim no final de uma caminhada. ..acabo sempre num.
" An ye harm none, do what ye will "