Crónicas : 

Inicio de despedida. II

 
( Existem textos que pélo contexto da vida se tornam mais reais e virtuosos com o tempo.)

A luz do sol caminhou mais mansa nas veredas da aurora, engoliu lentamente a noite, não havia pressa... contrafeito, o dia em sua luz revelaria verdades que a noite em sua eterna prontidão amante parira. Amores furtivos, sorrateiros, amores amantes, proibidos, castos e pervertidos, amores bandidos, fugazes, falsos e baldios, amores enfim reais ou virtuais. Desnudaria em realidades indesejadas, o mundo que o homem criara entre o teclado e a tela do monitor. Deixaria sombreado de ouro, seus cabelos grisalhos que viviam enluarados. Esta era a tarefa do dia, desfazer em luz os fantasmas e sonhos que se criaram na noite. A luz crua do sol revela seus dedos salpicados pelas manchas da idade, já não mais construtoras de carinhos virtuais, apenas digitadoras precisas de e-mails, cartas comerciais, comunicados, pesquisas. A mulher amada da madrugada pedra preciosa revela-se sem brilho, apenas mais uma pedra no seu caminho. Tirava o pó do dia anterior, para arquivar na memória destinada aos sonhos, quando o sol os destruiu, sentiu uma paz triste ao olhar o nada de seus sonhos. Desvestiu-se de si, encarnou o personagem que a vida lhe reservara, ele, seu monitor, a CPU piscando sua memória eletrônica e um vazio na alma. Não havia espaço para “Josés” poetas no mundo desvirtuado da vida, ficavam as pedras morria José ... até que a noite quem sabe a lua o encantasse de novo, ou o arrebatasse da vida.

Carlos Said
Verão 2006


 
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Carlos Said
 
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