Será que o meu desejo tem corpo, existe e está a pensar em mim?
Tu a minha alma gémea, aí por qualquer lado, pensando em nós?
Será constante a fantasia de nos completarmos, com alguém por aí?
Num encontro intenso de plenitude de nos sentirmos completos?
Será que Aristófanes tinha razão? Separados mas um só!
Bastando-se, fecundos e iluminados, pela sua própria luz?
O Andros, a Gynos, o Androgynos a união plena e dual,
Não pela carne, mas por algo superior e difícil de exprimir!
Dois acoplados, erectos ou rolando velozes como um raio
Ele filho do Sol, ela filha da Terra, eles filhos da etérea Lua
Mas plenos de força e desafiadores dos deuses! Zeus rugiu:
Cortem-nos ao meio, perderão força, ficarão humildes!
Cortados e com as faces viradas para as suas partes amputadas
Choraram desesperados! Zeus virou seus sexos para a frente
Assim conheceram o desejo carnal, mas difícil era o saciamento,
Os corpos uniam-se, mas as almas dificilmente se encontravam
Buscavam Eros, que como dizia Diotimia, era o intermediário genial
Entre os homens e os deuses, para ascender ao patamar da imortalidade
Só ele podia levar ao Todo, projectando-os para um estado superior
Mas entre Eros e os homens os obstáculos de percurso eram tremendos
Difícil a união perfeita, a plenitude em que tinham vivido
Extinguidos os gemidos do amor, o vazio de novo aparecia
Corpos juntos, mas com as suas almas cheias de angústias
Coarctados de serem um só, sofrendo a dor da insatisfação
11.10.2010