O tão desejado dia, acordou com algum nevoeiro pelo meio. È curioso que um dia antes da minha visita á antiga Escola, havia estado na Cidade Universitária de Lisboa. Os aviões que passavam frequentemente em direcção ao aeroporto, trouxeram-me algumas recordações, deixando-me ansioso,talvez por se estar a aproximar a hora,de voltar a reencontrar amigos, que não via á bastante tempo. Ao contrário do que vocês possam imaginar, alegrava-me o facto de saber que mais uma vez, iríamos á escola, para estar com uns amigos, que considero muito especiais. Sentia um enorme entusiasmo, um pouco parecido com o daquelas crianças, quando estão euforicas, como se tratasse do inicio de mais um ano lectivo, que está prestes a começar.
Seria novidade,que pela primeira vez, iríamos fazer aquela viagem á Escola de Tropas Pára-quedistas, acompanhados pelas nossas mulheres e filhos. Era fantástico, poder mostrar passados todos estes 26 anos, alguns dos locais onde em tempos, passámos meses difíceis a preparar o corpo e a mente, para que todos aqueles que acreditaram e confiaram em nós, pudessem dormir descansados, livres de qualquer pesadelo.
Como já tinha anteriormente feito referencia num texto que escrevi á uns meses atrás, também hoje pretendo aqui deixar algumas palavras,sobre alguns sentimentos vividos por mim e por camaradas meus, quando voltámos a entrar na velha Escola, que não tenho dúvidas em dizer e afirmar, que ainda hoje faz inveja a qualquer universidade deste país.
Ao longo destes 26 anos, muito poucos foram os que tiveram a ousadia, ou até mesmo a coragem, de homenagear, levando ao conhecimento da população portuguesa, os nomes dos homens que nesta ou outra década, deixaram marcas profundas na sociedade portuguesa, dedicando parte da sua vida, servindo a Pátria Mãe, sempre disponíveis acima de tudo, para por o país na linha da frente, tendo causado com isso mais tarde, graves transtornos á sua vida familiar.
Falo nos muitos homens que ali foram tirar os seus cursos e receberam elevados méritos.
Pretendo aqui também homenagear e deixar uma palavra de conforto e carinho, a todas as famílias desses corajosos e dedicados homens, que lamentavelmente não foram bafejados pela sorte e pagaram assim mais tarde com a sua própria vida, toda essa dedicação.
Acredito que muito boa gente no meu país, enquanto observava nos cinemas e na televisão, filmes em que os protagonistas eram Boinas Verdes, desconhecia que no seu próprio país, também possuíam essa famosa força de elite, constituída por homens a sério. Em Tancos, Monsanto ou S. Jacinto, os Pára-quedistas movimentavam-se um pouco por todo o país, dando a sensação que eram muitos. Mas tal não era verdade!
Muito poucos, tiveram a honra de ter pertencido a tal gente.
Nos tempos de hoje, a informação corre a uma velocidade vertiginosa, sendo muito fácil deslocar qualquer repórter ou meio de comunicação social a espaços que fazem as delícias e o entretenimento de qualquer um, mas não posso deixar de dizer aqui, que talvez a histórias que realmente importam saber, estão guardadas nesta casa, onde homens que antes de pertencerem á companhia 213 e outros, deixaram marcas no interior de uma Escola, onde em tempos fora conhecida por uma Base e de onde mais tarde,sairam para combate.
Apetece-me dizer, que talvez a curta, mas apetecida visita á Escola de Tropas Pára-quedistas no passado dia 2 de Outubro, á qual tiveram o privilegio de se fazerem acompanhar por alguns dos seus familiares mais próximos, tenha contribuído, para que alguns dos não crentes, acreditem agora nos inúmeros sacrifícios, que foram levados a cabo pelos seus familiares mais directos.
Acham que terminava este meu artigo, esquecendo-me do que foi um verdadeiro professor, mas a sério?
- Não!
Passados todos estes anos, lá estava o Kaiser para nos receber, também ele como se tivesse saído da Máquina do Tempo! Aproveito a oportunidade, para deixar o meu agradecimento a essa pessoa espectacular, que deixou todas as suas prioridades naquele dia,para poder estar connosco na Escola, onde em tempos nos deu lições muito especiais.
Nunca poderia esquecer, uma pessoa muito inteligente e dotada de uma coragem acima da média, sempre determinado e que marcou os meses mais difíceis da minha vida, na década de 80. Ainda hoje recordo as suas celebres afirmações dirigidas á nossa Companhia em que dizia:
” Convosco vou ao fim do mundo “
Hoje, apesar de todos estes anos passados, estou em condições de garantir, que seria o Sr. General Agostinho Costa, a pessoa em quem confiaria a minha vida, se tivesse de ir para combate amanhã.
A todos os meus camaradas que organizaram o 2º Convívio dos 069 e foram responsáveis pelo convívio,com visita á Escola, os meus sinceros agradecimentos. Vou continuar a olhar o céu, aguardando que haja uma nova oportunidade para nos juntar de novo.
Gabriel Reis