No fio da navalha verti meu sangue, que pelas veias corria desordenado
Até explodir desesperado em borbotão, num uivo cavernoso e alucinado
Mata-me de amor, sufoca-me de prazer, faz-me gemer de arrebatamento
E depois deixa que eu descanse no teu peito amável o meu aniquilamento
Sei que contigo posso entregar-me à mais feroz e estranha insânia
Podemos recriar-nos num desejo cego de uma alacridade invulgar
Em nós há a identidade do mesmo querer, e da mesma ânsia
De rompermos com o banal, de nos guerrearmos até arquejar
Entrego-me a ti entregas-te a mim, fazemos o que nos apetece
Temos o dom dos prodígios nos nossos corpos e em nossas mãos
Júbilos e sortilégios, tramas e urdimentos, de que a alma carece
Em ti deixo minhas marcas, cicatrizes indeléveis mas em brasa
Vai és livre, mas nunca vais esquecer, estes momentos de união
Sei que voltarás de vez enquanto, porque serei sempre a tua casa
08.10.2010