Olho para fora de mim… nada encontro.
Vestes sujas, sujas as minhas mãos.
Minha aparência reflete o mundo.
Ouço pessoas a ovacionarem mesmo assim.
Não percebo.
Olho para dentro de mim… nada.
Está vazio… minh’alma está vazia.
O tempo passa… e já se faz tarde.
Terei tempo eu para limpar tudo isso… e para entender o aplauso?
Posso perceber…
Há um antigo filme passando nas janelas de minha memória.
Retrata a porção ainda menor que fui…
São vários… vários filmes.
Em quais atuei bem?
Onde posso alegrar-me por ter sido A “bondosa”?
Bondosa…
Onde coloco a relatividade deste feito?
O bem e o mal residindo na relatividade. No contexto.
Onde está o diretor?... E o escritor?
Preciso falar-lhe!
Por que não conduziram-me a um texto um tanto mais agradável?
Estou eu a sentir-me culpada por este feito que não escrevi…
Ou escrevi? Sinto-me confusa… creio que o montamos juntos.
Agora escuto vaias… estão a escutar e apupar meus pensamentos.
Escutam meus pensamentos?
Ah…sim!!
Se estão a embevecer-se sarcasticamente nestes filmes…
Alguém chama por mim…
Diretor?... Gostaria de ter consigo…
O que fizeram com que eu fizesse? – (silêncio…)
Como? Lavar-me? Mudar a roupa?
Rodaremos outro, então…
Não conseguirás mudar o cenário… não há tempo!
O que reservas para mim?
Ou seria melhor questionar-me neste sentido?
As luzes estão a voltar-se para mim…
Sedentas em contemplar minha nova imperfeição.
Mas tenho passos presos… correntes que chamam de amor!
Conheces isto? Há como arrebentá-las?
Como sair e correr deste lugar?
Nada mais ouço… nada mais está.
Sou apenas eu… em mim e aqui.
Olho para fora de mim… perfeita a correção.
Não retrato mais o mundo… nem a mim.
“Limpas” as minhas vestes. “Pura” a minha face.
“Isentas de culpas” as minhas mãos.
E as pessoas aplaudem mesmo assim.
Olho para dentro de mim… nada.
Está vazio… minh’alma está vazia.
O tempo passa… e já se faz tarde.
Sem luzes… por favor.
Karla Mello
Outubro/2010
karla.melo66@hotmail.com"Nao tenho ambições nem desejos. Ser poeta nao e uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho." (Fernando Pessoa)